de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 19:38
A propósito dos Cruzeiros da Gafanha, o Padre João Vieira Rezende diz, na sua "Monografia da Gafanha", que o primeiro de que há memória “deveria ter existido em 1584, ‘perto da ermida de Nossa Senhora das Areias’ em S. Jacinto”, segundo reza um alvará régio, com data de 20 de Maio daquele ano. E acrescenta, talvez para espanto de alguns, que considera S. Jacinto, “por muitos motivos, pertencente à região da Gafanha”, porque “era-o realmente antes da abertura da Barra em 1808”.
Sobre os Cruzeiros da Gafanha da Nazaré, leia mais em Galafanha
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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 15:38
Casa das Conchas
Castelo Engenheiro Silva

Quem vai à Figueira da Foz ou ali passa férias, sobretudo no Verão, não resiste a ver o mar, com praia abundante e a perder de vista. A Esplanada Silva Guimarães, construída na década de 50 do séc. XX, é local obrigatório para passear e conversar por entre o tagarelar, de línguas várias, de quem deambula ao sabor do nada fazer. Dali avista-se quem teima em manter a linha, caminhando ou andando de bicicleta, mais em baixo, na marginal, onde cabe muita gente.
Mas na esplanada, com bancos para o merecido repouso de quem caminhou muito, há três edifícios que reclamam a nossa atenção: a Casa das Conchas, com marcas da Arte Nova, bem patente nos azulejos decorativos de motivos vegetais; o Antigo Edifício do Turismo e o Castelo do Engenheiro Silva, que formam um belo contraste com a demais arquitectura envolvente.
Para além de sugerir uma visita ao Bairro Novo, onde a presença da Arte Nova se faz sentir com mais acuidade, como marca de uma certa burguesia endinheirada, não posso deixar de lamentar o estado em que se encontra o Castelo do Engenheiro Silva. Há anos que o vejo com alguns sinais de obras para breve, que nunca avançam. Na realidade a decadência e o abandono empobrecem aquela esplanada.
FM
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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 15:11

José Leite de Vasconcelos,
nos 150 anos do seu nascimento

O EXPRESSO evocou esta semana, no seu su-plemento "ACTUAL", o universalista José Leite de Vas-concelos, para celebrar os 150 anos do seu nascimento. O sábio que foi médico, mas que nunca desejou exercer tal profissão, dedicou-se, com paixão, à filologia, à etnografia e à arqueologia, viajando constantemente, porque defendia que “Nada nos educa e ilustra como viajar!”.
Ao ler esta evocação, em textos de Mário Robalo, ocorreu-me sublinhar, neste meu espaço, que, nas suas fre-quentes andanças pelo País, José Leite de Vasconcelos também esteve na Gafanha, em 1919, onde colheu algumas informações que publicou na sua obra “Geografia tradicional das Beiras”. Posteriormente, esses apon-tamentos foram enriquecidos com outros que recebeu do Dr. José Pereira Tavares, seu antigo aluno na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na altura professor do Liceu de Aveiro, onde veio a ser reitor distinto. Segundo Leite de Vasconcelos, o seu antigo aluno era pessoa que conhecia bem a localidade e escritor erudito, o qual “o obsequiou com incessantes informações, e de mais a mais lhe ofereceu a parte por ora impressa da ‘Monografia da Gafanha’, do Rev. João Vieira Resende”, conforme leio na sua “Etnografia Portuguesa”, volume III.
Leite de Vasconcelos diz, citando a referida “Monografia da Gafanha”, que antes de 1677 devia ter havido alguns cultivadores da Gafanha, e que, por esses tempos, continuavam a fazer-se “colonizações rurais”. Em 1813, fala-se, diz o sábio, “de uma fazenda que constava de casas, currais, palheiros, terras de pão, pinheiros e juncais”.
“Grande porção do antigo areal adaptou-a pois o homem assim sucessivamente a cultura, com trabalho e suor, e os adubos que a Ria lhe ministrava”, refere, citando o geógrafo Amorim Girão. E como curiosidade, depois de frisar a cultura de batata, feijão, milho, centeio e algum vinho, diz: “Dá-se tal apreço à batata gafanhense, que no mercado todos a preferem à de outros sítios.”

FM

Nota: Voltarei ao assunto.

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 15:06

A inteligência das emoções

1. Sente-se (e justifica-se) que em certa medida exista uma desconfiança das emoções. Mas está estudado que são estas que comandam a vida e o mundo. As razões para o preconceito e não integração das emoções e afectos prendem-se mais com a história dos séculos passados que com a realidade presente. Especialmente desde o princípio da modernidade do séc. XVI as emoções dominaram as razões a tal ponto que originaram páginas de precipitação intolerante baseadas mais em intuições emocionais que em razões lógicas. Mas já desde os tempos clássicos que, no esforço de compreensão “organizada” do ser humano, se considerou que ele é corpo e espírito. Os séculos racionalistas acentuariam a objectividade material e experimental; os tempos mais voltados para as componentes espirituais sobrevalorizaram a face das ideias desprestigiando as noções terrenas. Agravaram-se algumas dictomias (ou uma coisa, ou outra) a ponto de haver nos quadros do pensamento quase (imaturas) incompatibilidades.
2. Para quem vive “preso” à história, neste terreno da profundidade humana as razões fundamentam os medos e, consequentemente, a prudência aconselha à desconfiança. Para quem vive nesses paradigmas do passado (cartesiano), mesmo nos terrenos científicos da maior vanguarda do conhecimento, esta fronteira é ténue, e prefere-se o rigoroso separar das águas entre corpo e espírito. Fala-se de progresso humano mas tem-se medo de incluir nele todas as formas de conhecimento; sabe-se que os grandes problemas da humanidade actual não têm solução tecnológica (mas sim humana), mas sobrevaloriza-se e exalta-se o patamar da ciência tecnológica, cortando asas aos horizontes das ciências filosóficas, humanas e religiosas, dos clássicos como das artes. No fundo, pelo arrastar desse passado histórico (que continua) de graves incompatibilidades, temos medo de no presente incluir em diálogo (transdisciplinar) todos os conhecimentos…
3. E, assim, verifica-se que quando o mundo designado de intelectual abandonou as razões de possibilidades desta harmonia “mente sã em corpo são”, então esta abordagem da unidade psico-somática transitou para a lógica, muitas vezes, da irracionalidade… Que o digam todos os exoterismos e misticismos que, em palcos não iluminados pela ordem razoável do ser, fazem o seu falacioso caminho. Talvez seja mesmo preciso, urgentemente, resgatar a pluri-unidade dos conhecimentos para um patamar da justa racionalidade, isto é da inteligência emocional. Obras como a de António Damásio (os estudos da neurobiologia da consciência) derrubam essa dictomias antigas, como se o ser humano fosse um encaixotado de gavetas frias. E tudo quando se sabe que as emoções lideram o mundo. Ou a presente crise internacional não demonstra cabalmente que: 1. temos de superar as limitadas abordagens metodológicas da história; 2. temos dialogado muito pouco em rede com os vários conhecimentos; 3. que as publicitadas “expectativas” que comandam as bolsas de valores e os preços do petróleo são o novo nome da “inteligência das emoções” (= do sentir).
4. Sabemos que estas são águas profundas, mas são elas que em novos paradigmas de abordagem podem oferecer o justo equilíbrio a uma desejada humanidade humana; tudo diante dos desafios / oportunidades da globalização.


Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 11:20
Em Novembro, o País soube que Ana Maria, de 44 anos, tinha uma cervicalgia degenerativa. Não sei bem o que é mas pareceu-me grave na foto. Sim, Ana Maria teve foto nacional: com colar cervical e cinta lombar. Pois apesar disso, a Caixa Geral de Aposentações obrigou-a a voltar ao trabalho - ela era funcionária de uma Junta de Freguesia, em Ponte de Lima - onde não ia há três anos. Uma daquelas histórias que nos fazem abanar a cabeça: só neste País! Agora, ficámos a saber que esta história era ainda mais deste País do que temíamos. Tendo de passar por uma junta médica, que devia pôr a coisa a limpo, Ana Maria foi antes ao Bom Jesus, em Braga. E aí sentiu um daqueles formigueiros que precedem os milagres. É, ficou boa. A Junta de Freguesia deveria convidar Ana Maria a devolver, em dobro, os três anos de salário que recebeu sem trabalhar. Não para repor a justiça, isso temo que Ana Maria não compreenda. Mas, em linguagem que ela entenderia, para pagar uma promessa.

Ferreira Fernandes, no DN
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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 11:04

O Evangelho nunca entrou, onde quer que fosse, apenas com o tesouro das palavras. Sempre delas precisou para compor a grande Palavra, o Verbo, que desde o princípio estava em Deus e era Deus. Mas logo a seguir acontecia a grande viagem: encarnar e habitar no meio de nós. E assim se estabelece o elo entre o Infinito e o finito, entre Deus e o homem. E assim foi no princípio e pelo tempo fora. Palavra, acto e gesto como que se fizeram um só nesta aproximação de Deus e na habitação com os homens. Em Jesus se reforçou o gesto e o símbolo. A palavra aliou-se à caridade como sendo um só. E o pão foi servido á mesa de Deus e do homem, do corpo e da alma. Desde o início que evangelizar foi dizer que Jesus é o Pão da vida que mata a fome para a vida eterna. Exemplo disso foi a multidão faminta sentada na relva que sentiu saciada a sua fome e entendeu que outras fomes havia a saciar.
A história da missão é a partilha fraterna deste pão eucarístico, na celebração do mistério envolto na partilha do pão da Palavra e das palavras, na mesa de cada lar, na escola de cada comunidade, na urgência de cada hospital, no ensino dos pequenos gestos que constroem e vida das famílias e da sociedade. E na aprendizagem da justiça de Jesus que nunca deixa para o fim os que mais carecem de amor e de pão. Foi esta a glória da Igreja missionária. Longe, nos Continentes abandonados, e aqui, nas cidades, periferias e aldeias mais esquecidas dos poderes. E os gestos de acolher em creches, jardins-de-infância, escolas vocacionadas na atenção a cada um, centros de dia, lares de abandonados pela idade ou doença. A Igreja, com a entrega de tantos voluntários, serviços apoiados pelas comunidades, criou uma escola de caridade onde se aprendeu num compêndio único – o Evangelho – a palavra e a partilha.
Novos tempos se vivem. O Estado cada vez mais ocupa estes espaços e copia este estilo. Que mal há nisso? Nenhum. Se, com isso, não pretender transformar o serviço em poder. Quando na realidade dum dever se trata. Que não sirva para roubar missão e afecto.

António Rego
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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 10:43

Trabalho: uma afirmação de liberdade e responsabilidade!

A propósito da proposta directiva, aprovada pela União Europeia, em 10 de Junho de 2008, e sobre a qual escrevi um texto de partilha, no passado dia 23 de Junho, com o título “A exploração, a dignidade do trabalho e o lugar do homem”, que permite alargar o limite do horário de trabalho até às 65 horas semanais, já muito se escreveu e disse. Nestes assuntos, que colocam de um lado empresários e do outro lado trabalhadores, a unanimidade é quase impossível, pois os interesses, das duas partes, raramente são os mesmos.
Seria bom que todos estivessem do mesmo lado e ainda não perdi a esperança, sinceramente, de que, um dia, tal objectivo seja atingido, para o bem das empresas, dos empresários, dos trabalhadores e da sociedade em geral.
Sei que não é fácil fazer destes desejos realidades, pelo que muito tem que mudar a nível de mentalidades, atitudes e comportamentos de todos os intervenientes, a não ser que, mais ano menos ano, o desespero tome, de vez, conta do homem, e a selva, em que o mundo se está a transformar, faça sobressair o lado mais negro e sombrio do ser humano, do qual a violência é a expressão mais sinistra e desumanizante!
Contudo, não posso nem devo calar-me perante as palavras de um alto dirigente da sociedade portuguesa, a propósito desta directiva da UE, ao afirmar que os trabalhadores se devem preocupar mais em preservar os seus postos de trabalho do que estarem a pensar em questões de legislação laboral. Sem comentários!
As múltiplas crises que estão espalhadas um pouco por todo o lado dão-nos sinais claros de que o limite da capacidade de compreensão do cidadão comum está a ser atingido. Ora, quando assim é, o passo para a irracionalidade humana é rápido e de consequências imprevisíveis, pelo que tudo tem que ser repensado e refundado, já não só a nível dos conceitos económicos ou das políticas que vão gerindo (mal) o mundo, mas do próprio conceito de liberdade.
As crises são cada vez muito mais profundas (e disso já não vale a pena duvidar) e radicam nos estímulos pessoais e sociais com que avaliamos tudo o que nos cerca, em todos os tempos e lugares. Trata-se, portanto, de uma crise de valores, sejam eles históricos, culturais ou absolutos, ainda que os dois primeiros nunca se devam sobrepor aos valores do próprio individuo (os absolutos), desde que este os exerça no uso pleno e sadio de todas as suas faculdades mentais e tenha como objectivo não só o seu próprio bem, mas igualmente o bem-estar dos outros.
Uma sociedade, qualquer que seja, só é doente na medida em que os homens que mais responsabilidades têm na sua liderança, seja da coisa pública ou não, também padeçam da mesma doença e a transmitem aos seus concidadãos como se de uma epidemia silenciosa se tratasse. Homem saudável é aquele que sabendo que, livremente, pode fazer mal opta, também de forma livre, por fazer o bem, pois esse é o primeiro desejo que ele tem para si mesmo, pelo que ele não se pode contradizer na sua pessoa.
Deste modo, cada homem é, em grande parte, a medida do bem ou do mal dos outros, através da forma como exerce a sua liberdade e a sua responsabilidade em si mesmo e com quem interage activamente.
Infelizmente, não falta por aí quem procure separar a responsabilidade da liberdade, dando mesmo a entender que a primeira limita a segunda.
Nada mais falso e perigoso! O homem deve entender que a responsabilidade não limita a liberdade, antes faz parte dela, na medida em que é através dela que a liberdade não passa de um conjunto de instintos e impulsos incontrolados, ao sabor das circunstâncias e dos caprichos de momento. De outro modo, o risco da manipulação, por parte dos que teimam em propagar as suas próprias doenças aos outros, é constante e, muitas das vezes, uma necessidade para que se julguem ou finjam felizes. E isto já está a acontecer, infelizmente!

Vítor Amorim

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