de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 30 Junho , 2008, 17:50
A mitologia do futebol

1. Se no final, com realismo absoluto, se fizessem contas à vida, muitos clubes e selecções já teriam fechado as suas portas. Só a equipa Espanha, justa vitoriosa do Euro 2008, teria totais razões para sorrir e sentir os frutos do investimento realizado. Mas há muito tempo que as razões foram vencidas, fazendo deste desporto colectivo mais popular do mundo um autêntico caudal de expectativas e representações. Mitologicamente, a aposta do futebol é mesmo essa, encontra-se sempre assente fora da realidade, está no futuro expectante e poucas vezes se tiram, até às últimas consequências, as lições das práticas presentes. Quantas avaliações objectivas não são feitas no mundo do futebol? E se se comparasse o futebol com uma empresa…? Quantas vedetas desiludem e quantos os que se deixam iludir? Quantos nomes famosos nas camisolas representam bem mais o ir à boleia de feitos passados que o empenho dedicado no presente? Estas e tantas outras perguntas pouco se fazem e pouco se respondem…, pois o facto de só um poder ser o vencedor até justifica todas as apostas no futebol muito acima das quatro linhas: publicidade, TV’s, apoios públicos, que parecem superar todas as crises.
2. Segundo registo histórico, tudo começou a 26 de Outubro de 1863, numa reunião entre representantes de 21 clubes, em Londres, tendo sido criado a Football Association. A universidade, instituição secular europeia, esteve na origem da organização do futebol: foram as regras da Universidade de Cambrigde a primeira base de estruturação do futebol. Ebenezer Cobb Morley foi o idealista da Football Association, entidade a que presidiu entre 1867 e 1874. O fenómeno foi-se estendendo; a primeira partida internacional foi entre Inglaterra e Escócia. Na expansão crescente, e contra a visão inglesa que pretendia ter e manter o formato da gestão do futebol, um grupo de países europeus criou, em 1904, a FIFA, Fédération Internationale de Football Association. Com esta organização o futebol popularizou-se e, com “amor à camisola”, começou a difundir-se pelo mundo, tendo sido a África do Sul o primeiro país não europeu a aderir ao novo desporto de equipa em 1909. Depois aderiram a Argentina e Chile (1912) e os Estados Unidos e Canadá em 1913.
3. O crescimento foi tal e continua a ser que ao futebol tudo se junta: moda, canção, política, a par de uma publicidade férrea (como diz Lipovetsky). Uma futebolização social tornou-se, pelo menos na Europa, uma nova espécie de “religiosidade” laica: tudo se escalpeliza, tudo se analisa, tudo se prepara, tudo se agita e grita, festeja ou sofre, numa catarse que por vezes se manifesta até como risco e violência pública. Mesmo nos tempos de crise sócio-económica, a mágica mitológica que contém já o futebol faz com que não pare o seu crescimento. O saldo positivo para a UEFA do Euro 2008 é ainda bem superior ao do Euro 2004 realizado em Portugal. Até onde irá a força dominante do futebol (que ao longo do ano consegue condicionar noites de semana que baralham por completo as agendas da desejada participação social e cultural)? As coisas são como são! Contra factos não há argumentos. A “coisa” cresce, e de que maneira… Os caminhos da Europa andam à volta do estádio, parece que tem que se jogar mesmo com a bola! O que era só entretenimento está tornado a vida colectiva?

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 30 Junho , 2008, 16:56
Capela de Santa Catarina em estado de abandono


Comentei ontem, aqui, a traços largos, alguns eventos culturais levados a cabo na Figueira da Foz, para celebrar a intervenção dos figueirenses e povos vizinhos na tomada do Forte, então ocupada pelas tropas napoleónicas, há dois séculos. Disse, também, que dentro do Forte havia uma capela dedicada a Santa Catarina.
Volto hoje ao assunto porque me parece oportuno sugerir que a capela seja recuperada, podendo, muito bem, proporcionar momentos de reflexão a quem chega para conhecer a terra, de praias famosas.
No domingo, ao visitar, no Forte, uma exposição evocativa dos acontecimentos à sua volta vividos há 200 anos, alguém segredava a amigos que seria muito importante que aquele espaço fosse mantido aberto com regularidade, para oferecer aos visitantes páginas da história local. Concordo inteiramente, embora reconheça que, neste país de burocracias, não hão-de faltar complicações que obstem à intervenção no Forte.
De qualquer forma, penso que vale a pena equacionar a questão, no sentido de tornar útil aquele património, símbolo de glórias passadas.
A capela estava fechada e com sinais evidentes de abandono e degradação por fora. Julgo que por dentro estará no mesmo estado lastimável.
Dizem os folhetos turísticos que “a capela, de planta centrada e cúpula de nervuras, dedicada a Santa Catarina de Ribamar”, se deve ao arquitecto Mateus Rodrigues, nos finais do séc. XVI. Ainda se diz que em 1645 serviu como tribunal da Inquisição.
Não ficaria bem, nos espaços anexos à capela, um pólo museológico do Museu Municipal, dedicado à inquisição? Com capela restaurada e funcional, mais pólo museológico, a Figueira da Foz teria ali mais um motivo de interesse para quem chega.

FM

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 30 Junho , 2008, 13:48
Veleiro Shabab Oman


O veleiro Shabab Oman acostou ao Porto de Aveiro na passada sexta-feira. Proveniente de Omã, a embarcação participará na Tall Ship Race, no próximo mês de Setembro. A passagem pelo Porto de Aveiro destinou-se a conhecer melhor o porto e a região. Partiu já para Rouen, mas vai voltar.

Construído em Buickie, na Escócia, em 1971, o RNOV “Shabab Oman” entrou ao serviço da Armada Real de Oman em 1979, funcionando como navio-escola para a formação de pessoal militar e civil. A tripulação é composta por sete oficiais, sete sub-oficiais de Marinha e 18 marinheiros. Tem capacidade para alojar 26 estudantes com mais de 17 anos. Para além das actividades formativas, o veleiro tem também servido como embaixador de boa vontade do sultanato, com quatro continentes já visitados, escalas em cerca de 100 portos de 43 países diferentes.
Permitam-me que sublinhe a beleza deste veleiro que passou por aqui. Como ele, outros sulcam as nossas águas, quantas vezes sem lhes podermos pôr os olhos em cima. Vale bem a pena, pois, andarmos com mais atenção.


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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 30 Junho , 2008, 13:37

Onde estão os medicamentos para a loucura do mundo?

No dia 25 de Junho de 2008, o jornal Público noticiava que o Presidente do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde, dependente do Ministério da Saúde, que tem a seu cargo, a nível nacional, a regulação, avaliação, autorização, disciplina, inspecção e controlo de produção, distribuição, comercialização e utilização dos medicamentos), Professor Doutor Vasco Maria, reconheceu, num fórum, em Lisboa, que a contrafacção de medicamentos, é um "problema crescente, à escala mundial, grave e com consequências muito importantes."
O Professor Vasco Maria sublinhou que este problema não se passa só nos países pobres, mas também nos países desenvolvidos, exemplificando que, em 2006, nas fronteiras da União Europeia, foram apreendidas mais de 2,7 milhões de unidades de medicamentos, o que se traduz num aumento de 380%, em relação ao ano anterior.
Acrescentou, ainda, que a contrafacção também deixou de estar limitada às áreas tradicionais, como era o caso da impotência sexual e do emagrecimento, para já se ter situado em áreas do suposto tratamento do cancro, das doenças cardiovasculares ou neurológicas. Sendo, "um problema global, só é possível combatê-lo de maneira global, através de todos os agentes envolvidos, como fabricantes, autoridades reguladoras, profissionais de saúde, polícias, magistrados e consumidores", afirmou.
Que o mundo está a caminhar para a loucura, o desnorte e a irresponsabilidade total já não é novidade nenhuma. Os paradoxos instalam-se, a confusão reina, os infractores tornam-se invisíveis e os tentáculos e as redes clandestinas que se vão criando, metodicamente, chegam perfeitamente para alimentarem este e outros negócios que envolvem, à escala mundial, quantias astronómicas de dinheiro. Toda a gente sabe que, à custa do lucro fácil, países como a India ou a China (que não são exemplo para ninguém) passaram a produzir toda uma série de medicamentos, em condições de rigor mais que duvidosas, que, depois, são enviados para a Europa (a Islândia é um dos principais entrepostos europeus), onde ganham o estatuto de credibilidade e de garantia, passando a ter o nome de genéricos. Segundo o INFARMED, no caso português, estes medicamentos são em tudo iguais aos medicamentos originais, seja em qualidade, equivalência, biodisponibilidade e biocompatibilidade. Não sei porquê, mas creio que, não fosse esta alteração, meramente geográfica, todas estas equivalências não seriam aprovadas, de acordo com o rigor científico exigido aos medicamentos originais que lhe deram origem, após terem perdido o prazo da protecção comercial da sua patente.
Não bastavam já estas questões, não tão disparatadas como se possa pensar, e que me criam sérias dúvidas entre optar por medicamentos genéricos ou de marca, quando sou confrontado com esta notícia da contrafacção de medicamentos, onde a India e a China, entre outros países, são apontados como locais de fabrico. Quem apostou neste processo de contrafacção viu que o podia fazer, e uma das condições para tais projectos, à margem da lei, avançarem é darem a certeza de lucro garantido, na medida em que sabem que as autoridades, que têm a seu cargo a fiscalização e o controle de qualidade dos fármacos, não têm condições para uma fiscalização suficientemente eficaz. Mais uma vez, é o lado mais obscuro e louco do mundo a procurar vencer o mundo dos valores e da ética. Porque será? O que está a falhar para esta barbárie não parar?
Ao contrário do que parecem querer fazer passar na notícia, estas vendas não são só feitas via Internet, mas, provavelmente, também numa qualquer respeitável farmácia ao pé da nossa porta. Quem é que pode garantir, honestamente, o contrário? Uma certeza parece óbvia: já, antes, foram abertas as portas e as condições para que tudo isto esteja a suceder. Não é de admirar que este abrir de portas e da criação de condições, que levou à contrafacção de medicamentos, tenha sido iniciada em nome de cortes nas despesas de saúde de um qualquer Estado do globo. Diz-se que o barato sai caro; esperemos que não seja este um exemplo disso mesmo. Resta-nos saber se, ainda, é possível fechar esta caixa de Pandora, pois, se não for, é caso para dizer que pode-se não morrer da doença, mas as probabilidades de morrer da cura vão aumentado, cada vez mais!

Vítor Amorim

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 30 Junho , 2008, 00:28
"Atravessámos a velha ponte de madeira, que ligava o Forte à Barra, e seguimos apressados, porque o João sabia bem que não era chegar e comprar. Tínhamos de esperar numa fila a nossa vez e se não fôssemos lestos, o meu vizinho corria o risco de ficar sem boroa.
Chegámos e a fila estava longa. Saía da padaria e prolongava-se pelo passeio lateral. A fila não era singela, mas compacta, o que levava a responder ao “quem é a seguir?” a dois ou três balconistas, patrão e empregados. Outro patrão andava de porta em porta e vender pão de trigo, numa bicicleta com cesto, de vime sem casca, de duas abas, que pendiam para cada lado do porta-bagagens.
À medida que nos aproximávamos do balcão, começámos a ouvir, com alguma insistência, as recomendações dos atendedores, ditadas maquinalmente, “leve menos, que a boroa não chega para toda a gente”. Mas todos atiravam, receosos, que havia em casa muitas bocas a comer, e nem sempre se via outra coisa na mesa, para além da boroa, que se tragava com café, que mais não era do que água tingida com cevada torrada moída."

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