de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 08 Junho , 2008, 20:53
Ateísmo, Fé e Liberdade

1. Esta é uma das fundamentais fronteiras do entendimento humano e da tolerância. Toca uma respeitabilidade que quererá ser iluminada pela ordem da racionalidade. Por sua vez, a noção de liberdade (da pessoal à social) assume-se como o terreno garantido pelos estados para a ocorrência partilhada da diversidade de propostas; mas estas também não poderão ser estanques, haverão de procurar, de forma ascendente e dinâmica, responder ao sentido de vida do ser humano e à saudável convivência da humanidade.
2. Vem esta reflexão a propósito da recentemente criada Associação Ateísta Portuguesa (AAP). A liberdade dos estados, chamados de modernos, nem pode fermentar a sua criação nem impedir a sua realização. O mesmo sucede aos terrenos da religião, como expressão da fé: o estado, nem pode orientar nem impedir. Mas o que não significa que os estados devam ser indiferentes; muito diferentemente disso, os estados deverão estar vigilantes… Esta vigilância só pode estar em conformidade com a matriz da convivência democrática que assenta na dignidade da pessoa humana que brota da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, a bitola de referência transversal terão de ser «as acções que», no sábio dizer de Vieira, «dão o ser».
3. Há dias, sobre esta criação da AAP, D. José Policarpo foi interpelado. A resposta, única certeira, foi o claro princípio da comum respeitabilidade. Afirmou D, José que «cá estaremos para respeitar e dialogar, esperando também ser respeitados». É bom acolhermos este horizonte, também porque ele coloca as pessoas como o verdadeiro centro das opções de consciência, facto que não significa o absoluto privatismo das convicções, mas sim o assumir da relacionalidade (racionalidade tolerante) como princípio fundamental de uma sociedade adulta.
4. Não é pela negativa que se deve ver esta problemática de fundo que toca o sentido da vida, da história e da misteriosa esperança que bota da dignidade única da pessoa humana. No princípio da autêntica liberdade religiosa dos estados – o que é diferente de serem confessionais (felizmente que esses tempos já passaram) ou de serem laicistas (como que querendo apagar com os sentidos profundos da vida das pessoas) –, neste patamar da liberdade e da cooperação em ordem ao bem comum, brota como desafio decisivo a formação: dos que são ateus, a atitude filosófica e existencial da procura incansável de algo mais; dos que professam alguma fé confessional, a premência de uma formação contínua (que supere os vazios pragmáticos e) que dê o sentido da beleza fascinante que é a VIDA… esta que, da profundidade do ser, faz brotar a poesia, a esperança, o sentido inapagável do absoluto de Deus.
5. O enquadramento autêntico da liberdade proporcionará não o silêncio que fecha, mas a abertura dos melhores diálogos sobre a vida, sobre o que somos e a que esperança nos sentimos chamados. É mais esta grandeza, como possibilidade crescente, que brota deste facto; terá de ser a racionalidade razoável a presidir às opções conscientes de cada pessoa no referente às suas âncoras mais profundas. Seja esta frescura dialogal o terreno futuro! Há sempre tanto a aprender uns com os outros!

Editado por Fernando Martins | Domingo, 08 Junho , 2008, 20:43

A todos quantos este Manifesto virem, saúde e paz!
Eu, Mateus, e meus companheiros cobradores de impostos na região de Cafarnaúm no tempo de Herodes Antipas, estivemos sentados à mesa com Jesus de Nazaré numa refeição de amigos, após ele me ter chamado para seu discípulo.
O meu chamamento aconteceu de forma simples: vi um homem decidido a avançar para mim e aproximar-se do meu posto de cobrança. Senti a profundidade e sedução do seu olhar. Escutei o convite/apelo que me dirigiu: “Segue-me”.
Imediatamente, me levantei e deixei o trabalho. Uma força interior se apoderou de mim, me atraiu e encantou. Fiquei de tal modo “apanhado” que nem sequer fiz perguntas. Nada me preocupava: nem família, nem profissão, nem obediência ao meu chefe nem ao delegado do Imperador. Confiei simplesmente e aventurei-me sem calculismos. A inteligência não entendia, mas o coração dizia-me que aquele convite era uma “caixa” de surpresas para mim. E foi! Posso comprová-lo com abundantes provas que vivi mais tarde.
Atesto, por minha honra, que à mesa todos eram tratados por igual. Na conversa não se perguntava o que fazia cada um nem donde procedia, embora todos soubéssemos que partilhávamos a mesma condição. Constava que este era o modo de proceder de Jesus de Nazaré: mais do que as profissões e as condições de vida, interessava-lhe a pessoa e a sua dignidade, por vezes esquecida e espezinhada. Do seu olhar surgia uma serenidade e compreensão que nos dava alegria e paz. No seu convívio todos nos sentíamos bem, sem medos nem discriminações. Éramos verdadeiramente uma família!
Estar à mesa com Ele foi para nós uma maravilha surpreendente. Pelo que sentimos, pois nunca ninguém nos tinha tratado de modo semelhante: ser considerado digno de ouvir os segredos mais íntimos, alimentar as mesmas aspirações em relação ao futuro, reforçar os laços de união no presente. Pelo que augurava aquele gesto. De facto, era o núcleo mais expressivo do sonho de Deus: sentar todos os humanos à mesa da fraternidade em que Ele possa mostrar o seu amor de Pai na dignidade de cada um. Era o princípio da sociedade nova em que as pessoas têm prioridade absoluta sobre as tradições e as coisas, em que os bens pertencem a todos, antes de serem de cada um, e o bem comum constitui o dinamismo e a meta que dão sentido a tudo quanto se faz e se pretende.
Eu e os meus companheiros ouvimos críticas que nos parecem completamente injustas ou, então, temos de negar a nossa comum humanidade e de considerar ridícula a mensagem que Jesus de Nazaré – o Filho Deus – nos transmitiu como Palavra de Salvação para todos os tempos.
Negar a mensagem, é para nós de todo impossível. Estamos absolutamente convencidos do seu valor a ponto de, sendo preciso, dar a vida em sua defesa. Aceitamos com humildade a crítica que nos é feita e que nos ajuda a viver de modo mais pleno o exemplo de Jesus, o Mestre que nos abre horizontes mais plenos da fraternidade de todos os humanos chamados a reconhecer a sua filiação divina. Protestamos contra os que falseiam os nossos ideais, desvirtuam e ridicularizam as nossas razões e, presos ao passado, não mostram capacidade de entender as “coisas novas” que vão surgindo em relação a Jesus Cristo e à sua mensagem. Anunciamos com alegria criativa e esforço confiante que um dia virá em que a mesa posta para todos não será recusada por ninguém.
Em Cafarnaúm, com Mateus

Georgino Rocha

Editado por Fernando Martins | Domingo, 08 Junho , 2008, 07:39






(Clicar nas fotos para ampliar)

Um jardim de silêncio, de paz e de encontro...
Passei por Schoentatt, na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, esta semana. Conheço, há muitos anos, este Movimento Apostólico, fundado em 1914 pelo padre alemão José Kentenich, com o objectivo de criar um homem novo para uma sociedade nova. Confirmei, in loco, mais uma vez, que este recanto, em boa hora vindo para a Diocese de Aveiro, é mesmo um jardim de silêncio, de paz e de encontro. Ali, junto ou dentro do Santuário, onde é bom estar, como desde a primeira hora sonhou o fundador, sentimo-nos libertos das inquietações do dia-a-dia, do que nos bloqueia interiormente, do que nos perturba nas caminhadas da vida.
Olhei o Santuário. À sua volta, como que a abraçá-lo com ternura, há flores e cheiros, objectos e geometrias, símbolos e caminhos que convergem para um altar onde está e espera, por quem chega, o bom Deus. Quem entra, fica, e reza, e conversa sem perturbar quem está, e escuta, e ouve a paz, e aceita a harmonia que tudo invade, e recebe a força que almeja. Cá fora, à saída, os nossos olhos sentem-se atraídos pelo amor e pela sensibilidade dos que cuidam de tudo para que todos se sintam bem, consigo próprios, com Deus e com o mundo.
Um dia destes, se puder, passe por lá. Verá que vale a pena.
FM

Editado por Fernando Martins | Domingo, 08 Junho , 2008, 07:12
"Hoje 12 portugueses ou lusodescendentes vão ser homenageados por Portugal numa cerimónia em Lisboa, transmitida pela televisão. É uma excepção, num país que se esquece vezes demais da enorme comunidade portuguesa que está espalhada pelo mundo. E não devia.
Só uma sociedade que vive de costas para a sua comunidade emigrante pode desconhecer o facto de termos uma portuguesa à frente da Orquestra Sinfónica de Toronto, como é contado na página 18 deste jornal. Mesmo os jornais e restantes órgãos de comunicação social esquecem muitas vezes esta realidade.
Segundo os dados estatísticos, haverá 5,5 milhões de emigrantes portugueses. Isto sem contar com os lusodescendentes. Mesmo sem contar com sentimentalismos, estes são números impressionantes. Já é bom ouvir falar a nossa língua em todo o lado, ou contar com os estratégicos apoios que, por exemplo, os 180 mil portugueses na Suíça dão à selecção nacional, fazendo-a sentir em casa. Mas é mais importante pensar que estes portugueses e lusodescendentes estão em áreas e lugares-chave.
Os portugueses devem começar a pensar na comunidade emigrante como uma grande rede onde se podem agarrar. E isto funciona, por exemplo, no meio universitário e científico, mas também, e sobretudo, nos negócios. Os chineses sabem isso há muito e é assim que se espalham pelo mundo. Já tarda a hora de Portugal o compreender e pôr em prática."
In Editorial do DN

Editado por Fernando Martins | Domingo, 08 Junho , 2008, 07:01

OS ALUNOS

Caríssima/o:

Com toda a razão alguns perguntarão quando chegam os alunos à sala de aula. Creio ser a hora de os sentarmos, tudo está preparado para os receber.
Aliás, lá para trás ficou um ligeiro apontamento sobre as matrículas; vimos também que o número de escolas foi aumentando, sinal de que o número de alunos subia constantemente. Mais uma vez recorremos à Monografia do Padre Resende que nos apresenta valores supostamente de toda a Gafanha; contudo, lemos que na Nazaré, em 1936, há 411 crianças recenseadas; em 1941, 509, sendo 261 do sexo masculino e 248 do feminino; e em 1942, 515, sendo que a diferença é de mais 9 crianças do sexo masculino.
Aproveitando ainda os números fornecidos pelo Padre Resende, em 1942, os lugares dão-nos o seguinte : Cale da Vila=> 83 M, 80 F, total 163; Cambeia=> 68 M, 69 F, total 137; Chave=> 75 M, 65 F, total 140; Marinha Velha=>41 M, 34 F, total 75.
Podemos agora imaginar a «ginástica» de pais e professores para «arrumar» estes alunos se pensarmos na exiguidade dos espaços postos à sua disposição. Assim, cada um/uma frequentava a escola da sua área, conforme o «canto» onde morasse. Claro que isto, por vezes, não era linear. Os professores conheciam muito bem a população e todas as suas características prevendo, dentro da normalidade, o aproveitamento de determinados alunos. Por outro lado, também os pais e as crianças sabiam com o que contar se lhes calhasse tal ou tal professor/a. No início do ano escolar, desenrolavam-se conversações mais complicadas do que nos actuais hemiciclos ... Envolviam-se mães e professores, e as concessões só eram recebidas com trocas de alunos que compensassem as perdas ou os ganhos. Caso vivi, que me revelou a fibra de uma Mãe: fez várias viagens (claro, todas a pé!...) entre as escolas da Cambeia e da Marinha Velha, falando, argumentando até convencer ambos os professores ...
Os alunos podiam ser divididos em dois grandes grupos: os de pés calçados e os descalços. Do primeiro saíam os que receberiam as distinções e que prosseguiriam os estudos, fazendo exame de admissão. Nem sempre era assim: algumas vezes, as cabeças pregavam partidas à norma; e quando tal se verificava, estava instalado o “estado de sítio” e o professor confrontava-se com um sério quebra-cabeças...

Manuel

mais sobre mim
Junho 2008
D
S
T
Q
Q
S
S

1
2
3
4
5
6
7

8
9


25
26



arquivos
pesquisar neste blog
 
blogs SAPO
subscrever feeds