de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 12 Maio , 2008, 16:41

À procura do Espírito ecuménico


1. O caminho ecuménico, da desejada unidade no essencial das Igrejas e das suas gentes e culturas, apresenta-se como tarefa exigente que vem percorrendo o tempo. Nos inícios do século XX essa expectativa acolhe impulsos e dinamismos, gerando-se um forte movimento ecuménico que visa a reunificação na pressuposta pluralidade das Igrejas Cristãs. As grandes divisões históricas são «escândalo» que enferma a autenticidade da persistente mensagem do fundador: «que todos sejam um como nós». Da primeira grande fractura, no séc. XI (ano 1054), a divisão ortodoxa mais por questões de linguagem e cultura, à segunda divisão no centro filosófico do ocidente com Martinho Lutero, a credibilidade do Cristianismo traz consigo difíceis feridas que foram gravadas nas duras controvérsias de intolerância religiosa do séc. XVI-XVII.
2. O séc. XX assinala uma vontade ecuménica sem precedentes, sendo o próprio Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965) manifestação clara desta inédita abertura. O próprio tempo histórico de profundas transformações assim também o exigiu. Todavia, esta aprendizagem da unidade na diversidade continua a apresentar-se como caminho sinuoso. Lembre-se, em Janeiro de cada ano, a Semana Ecuménica (vinda dos inícios do séc. XX); destaque-se o esforço bíblico na tradução ecuménica das Escrituras e de quando em quando algumas notícias sobre documentos e acordos em determinadas perspectivas doutrinais, mas que poucas repercussões têm nas bases das comunidades. Para os estudiosos científicos das questões, ter «pressa» será ingenuidade não se podendo queimar etapas nesta complexidade filosófica e teológica; para quem está com os pés no mundo concreto é alarmante a passividade e a ausência de projecto ecuménico vivo, todos os meses, semanas, dias…
3. Nem ao mar nem à serra! Mas urge a tomada de consciência, mesmo com toda a cuidadosa prudência do mundo, de que os tempos privilegiados do Cristianismo deveriam, pelo menos anualmente, ter alguma referência ecuménica que oferecesse coerência intrínseca à Semana de Janeiro. Sente-se que as pernas da construção ecuménica ainda são mais um acentuar das particularidades do que a reconversão de todos ao Senhor da Unidade; e, por vezes, tem-se mesmo medo do diálogo como se ele representasse perca de identidade (das coisas acessórias) quando o diálogo, efectivamente, proporciona o necessário e confrontado aprofundamento do essencial. Se formos a levar as coisas até às últimas questões, se se diz que «o Espírito nos conduz à verdade plena» então como é possível, ainda, as solenidades do Natal, da Páscoa e do Pentecostes não serem inscritas nesse horizonte ecuménico? Não só nas bases, em todos os níveis…
4. Este passado domingo foi o acontecimento que representa o bilhete de identidade da Igreja. Dizia-se que em Jerusalém, toda aquela gente de todo o mundo, cada um ouvia falar na própria língua as maravilhas do Senhor. A unidade do Amor (que Deus é em Pessoa, até dar a vida) na diversidade das gentes, línguas e culturas. Tão interessante ser esta a origem (universalista) da Igreja! Mas esta matriz reconstrutiva não lida bem com a passividade que adia as oportunidades… O tempo não perdoará; retardar será bloquear o maior tesouro do céu (que pode ser essencial contributo para renovar a terra)!


Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 12 Maio , 2008, 12:45
Santuário de Fátima

Santuário de Santa Maria de Vagos

Santa Joana Princesa

Hoje, na região de Aveiro, convergem três devoções de grande significado para os católicos. Para os ditos praticantes e para os que gostam de se classificar como não praticantes. Ainda não percebi bem o porquê desta dicotomia, mas que ela existe, em conversas, lá isso existe. As três devoções a que me refiro são as celebrações do dia da Padroeira da cidade e diocese de Aveiro, Santa Joana, de Santa Maria de Vagos e de Nossa Senhora de Fátima. Nestes dois últimos casos, são as festas em honra da mesma Senhora. No primeiro, trata-se da beata Princesa Joana, cuja memória o povo de Aveiro gosta de manter viva no coração e na vida.
Para Fátima, a esta hora, ainda caminham, decerto, intermináveis filas de peregrinos, de todos os recantos de Portugal e do Mundo, em busca de um olhar materno da Mãe de Deus e nossa Mãe, de tantas alegrias e dores. Se calhar, mais das dores. Para Vagos, para o santuário que vem dos tempos do Rei Sancho, há tantos séculos, peregrinam os de Cantanhede, mas também os de toda esta região, para quem, a segunda-feira depois do Pentecostes, é dia de romaria, com promessas a cumprir e orações de súplica. Mais fervorosas, talvez, em épocas de fomes, de doenças, de necessidade do espiritual, que, com o trabalho e com as canseiras, fica um pouco esquecido, acabando, normalmente, por vir à tona, mais tarde ou mais cedo.
Com Santa Joana temos outra grande devoção, que se estende, curiosamente, a crentes e não crentes. Pelos meus diversos contactos com o povo aveirense, tenho constatado que a nossa Princesa está no coração de todos. Não há, presentemente, as romarias tradicionais, mas há um culto sentido pelas pessoas e partilhado por artistas de todos os quadrantes estéticos. Escreve-se continuamente sobre a padroeira da cidade e diocese. Ela consegue estar em todos os lados: na poesia, na história, nos discursos dos políticos, nas ruas, nas associações e grupos cívicos, nos estabelecimentos, nas ruas e praças, nas irmandades, nas paróquias… E não é tradição que os romeiros de Santiago por aqui passavam, a caminho de Compostela, unicamente para visitarem o túmulo da filha de D. Afonso V?
A quantos hoje e amanhã peregrinam à Nossa Senhora de Fátima e à Senhora de Vagos, a quantos em Aveiro participam nas festas de Santa Joana e se abeiram do seu túmulo ou participam na procissão e demais cerimónias, a quantos alimentam por estas formas a sua fé e a quantos apreciam a fé dos outros, os meus votos de que passem estes dias com alegria e paz.

FM

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 12 Maio , 2008, 11:32

Há cinco anos, de passagem por Viana do Castelo, visitei uma exposição de fotografias alusivas aos livros de leitura da antiga Instrução Primária. Depois de há tanto tempo os não ver, a observação de tais fotografias provocou-me um tal sentimento de nostalgia que culminou com a utilização da máquina fotográfica quando se me deparou a cena que ilustrava o texto sobre a Princesa Santa Joana. Algo aconchegador para quem se encontrava longe de casa. Atendendo à data aqui deixo a minha pequena contribuição para as festas em que Aveiro comemora o dia em que a sua Princesa, padroeira da cidade e diocese, morreu.

João Marçal

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 12 Maio , 2008, 11:09

Myanmar: a tragédia e a falta de liberdade

Não existem boas nem más ditaduras, mas, simplesmente, apenas ditaduras.
E, como em qualquer ditadura, as liberdades, os direitos e garantias dos seus cidadãos não só não são garantidos como estes ainda estão sujeitos a todas as arbitrariedades próprias das ditaduras: perseguições, torturas, eliminação de adversários políticos, falta de expressão e pluralismo político e tudo o mais que se queira imaginar.
Vem isto a propósito do ciclone Nargis que, entre o passado dia 2 e 3, do corrente mês de Maio, devastou, com vento superiores a 200 quilómetros por hora, algumas áreas da Myanmar (antiga Birmânia), fazendo um número ainda não calculado de mortos, desaparecidos e desalojados.
Num primeiro balanço, as autoridades ditatoriais de Myanmar começaram por se referir a 10 mil mortos e três mil desaparecidos. Decorrida mais de uma semana, os números de vítimas não param de aumentar e, segundo dados da própria Junta Militar, que governa Myanmar desde 1962, no Domingo, dia 11, as vítimas passaram para 28.458 mortos e 33.416 desaparecidos.
Contudo, fontes ocidentais calculam que o número de mortos ultrapasse s 100.000, para além de 1,5 milhões de pessoas estarem desalojadas.
Seja como for, nada disto pode ser confirmado por fontes independentes, já que os militares têm colocado grandes obstáculos à entrada da ajuda internacional, nomeadamente à ONU e à Cruz Vermelha Internacional, apesar das fortes pressões das organizações de ajuda humanitária. Numa altura em que tanto se tem falado do problema da falta de alimentos no mundo custa a entender como existem regimes que rejeitam a ajuda alimentar, medicamentosa, água potável e de reconstrução aos seus cidadãos, vítimas desta catástrofe natural. Fazem-no em nome de quê?
Os militares invocam os interesses supremos da nação, a unidade e a independência, supostamente ameaçadas pelos conflitos que têm surgido entre os vários grupos étnicos que compõem a população do país, para se manterem no poder há 46 anos.
Em 1990, houve eleições, ganhas pelo partido de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz, no ano de 1991, mas os seus resultados não foram reconhecidos pelos militares.
Entretanto, Aung San Suu Kyi passou quase 12 anos, destes últimos 18 anos, em prisão domiciliária.
Em Setembro e Outubro do ano passado, milhares de monges budistas (cerca de 90% de birmaneses são budistas) fizeram inúmeros protestos contra a falta de liberdade no país, do que resultaram mortos e prisões indeterminadas.
A Igreja Católica tem no país catorze dioceses, com um total de 635 mil fiéis e, no geral, os cristãos têm limitações severas de culto.
No passado sábado, dia 10, houve um referendo, para já só nas zonas não afectadas pelo ciclone, sobre a Constituição do país, que prevê eleições no ano de 2010, as primeiras a realizarem-se depois das de 1990.
Nestes últimos dias, têm surgido sinais de alguma abertura, por parte da Junta Militar, à entrada de alguma ajuda internacional, mas, mesmo assim, com muitas reticências, já que, autorizando a ajuda, esta só pode ser distribuída pelos militares birmaneses e nunca pelos funcionários ou voluntários dos organismos internacionais de auxílio.
Como em qualquer ditadura, a crueldade e a perversidade fazem parte da sua essência e esta não foge à regra. É próprio dos fracos, quando se querem fazer fortes!
Será que alguma vez a Comunidade Internacional vai julgar os seus responsáveis pelos crimes que têm cometido e continuarão, decerto, a cometer ou, mais tarde ou mais cedo, estes serão protegidos, como outros o são, para conveniência de alguém?
Vítor Amorim

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 12 Maio , 2008, 00:33
D. António Francisco e Padre Georgino Rocha
TEMOS DE OLHAR MAIS PARA O FUTURO

Ontem, domingo, estive em Recardães, uma freguesia do concelho de Águeda. A celebração dos 20 anos de ordenação dos primeiros diáconos permanentes de Aveiro levou-me até lá. Para recordar essa data, mas também para estar com amigos que comungam dos mesmos ideais e acertam o passo na mesma caminhada. Foi muito bom sair dos meus espaços habituais para olhar outras paisagens de cores diversas que fogem das tonalidades marinhas.
Foi no dia de Pentecostes, de há 20 anos, que a diocese de Aveiro ofereceu à comunidade os primeiros diáconos permanentes dos tempos modernos. O ministério ordenado do diácono vem da Igreja primitiva, mas caiu em desuso há séculos. O Vaticano II restaurou-o, tendo chegado a Aveiro em 1988, quando foram ordenados os primeiros diáconos permanentes, por D. António Marcelino.
Depois desses, outro se lhes seguiram, como resposta às prioridades pastorais das comunidades humanas e dos serviços paroquiais e diocesanos. Um dos principais responsáveis pelo acompanhamento e formação dos diáconos permanentes, padre Georgino Rocha, lembrou neste encontro que devemos estar abertos a novas formas diaconais, apoiados, obviamente, nas experiências já vividas. Urge, acrescentou, apostar em respostas aos desafios da sociedade e da Igreja do presente, aceitando os alertas que o Espírito nos vai suscitando.
Em altura própria, o Bispo de Aveiro, D. António Francisco, frisou a alegria do momento, neste dia de Pentecostes e de vigília de Santa Joana, Padroeira da cidade e da diocese de Aveiro. Não esqueceu o diácono já falecido, Carlos Merendeiro, da Gafanha da Nazaré, lembrando que ele está sempre connosco. Contudo, connosco também devem estar, salientou D. António, aqueles a quem é preciso dar o alvoroço da vocação. Porque a Igreja tem de continuar a contar com a beleza deste ministério, que vem dos tempos apostólicos, e porque temos de olhar mais para o futuro, referiu o Bispo de Aveiro.
O encontro de ontem foi enriquecido com um trabalho multimédia organizado por Carlos Nunes, candidato ao diaconado permanente. A formação, a vida diaconal e testemunhos estiveram em foco na projecção apresentada no Centro Social de Recardães. As celebrações prosseguem no dia 22 de Maio, com a participação dos diáconos na eucaristia e procissão própria do Corpo de Deus, em Aveiro, e em 23 do mesmo mês, no Caramulo, com missa de acção de graças e visita ao Museu.
FM

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