de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 31 Maio , 2008, 21:12

No quarto centenário do nascimento do Padre António Vieira, presto homenagem ao missionário, ao orador, ao escritor, ao patriota, ao diplomata, ao perseguido pela Inquisição, ao defensor dos índios e dos negros, puxando a atenção para a actualidade pavorosa do seu sermão aos peixes. Sermão de invulgar coragem frente aos colonos do Brasil. Não tinha Cristo chamado aos pregadores o sal da terra? Ora, "o efeito do sal é impedir a corrupção".
É preciso ouvir as repreensões, que, se não servirem de "emenda", servirão ao menos de "confusão". E qual é a confusão? É que os peixes como os homens se comem uns aos outros. O escândalo é grande, mas a circunstância fá-lo maior. "Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."
Quando Portugal é apontado como o país da União Europeia com maior desigualdade na repartição dos rendimentos e a corrupção campeia e os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e se anuncia uma conflitualidade social iminente, que diria o Padre António Vieira? Perguntaria: "Que maldade é esta, à qual Deus singularmente chama maldade, como se não houvera outra no mundo?" E responderia: "A maldade é comerem-se os homens uns aos outros, e os que a cometem são os maiores, que comem os pequenos." "Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe; porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e devoram."
Que diria o Padre António Vieira frente a uma Justiça que não funciona ou que funciona mal e na qual os mais fracos e pobres não podem confiar muito? "Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado e já está comido."
Com a subida dos preços alimentares, está aí mais fome. Evidentemente, para os pequenos. Há razões várias para a carência, mas uma delas é a especulação. Como é possível especular com o sangue dos pobres? "Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros. E de que modo os devoram e comem? Não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que para a carne há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses do ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos."
Frente a uma ASAE que "permite" que governantes fumem em aviões fretados, mas inutiliza comida a instituições de solidariedade social por incumprimento de regras meramente formais, que diria o Padre António Vieira? "Os maiores comem os pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros, e isto continuamente sem diferença de tempos, não só de dia, senão também de noite, às claras e às escuras." Os pequenos não têm nem fazem ofício "em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem".
Não é preciso ir muito longe para ver a perversa cobiça. "Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar? Vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer."

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Editado por Fernando Martins | Sábado, 31 Maio , 2008, 14:53
Não sei quem vai ganhar no PSD (ou PPD/PSD, como alguém o define). Não tenho qualquer ligação ao partido, mas gostaria que o vencedor, qualquer que ele seja, ganhasse com grande diferença sobre os seus mais directos adversários. É curioso que eu tenha dito adversários, apesar de todos pertencerem ao mesmo partido. Porém, depois da campanha eleitoral, é fácil concluir que as tendências diversas predominam. Uns mais sociais-democratas, outros mais liberais. Para me ficar por aqui.
Disse que gostaria que o vencedor vencesse com grande diferença, para ver se o PSD encontrava o seu rumo na nossa democracia, que bem precisa dele. Com guerrinhas entre os sociais-democratas, numa luta fratricida que pode ser fatal para o nosso maior partido da oposição, os portugueses só têm a perder. E se os candidatos ficarem muito próximos uns dos outros (apesar de haver um vencedor), é certo e sabido que a guerrilha pelo poder vai continuar. Nesse caso, todos ficaremos a perder.
FM
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 31 Maio , 2008, 12:57


Ontem apreciei, na Casa da Cultura, nas costas do José Estêvão, a exposição "Água com Humor". Para rir, mas sobretudo para pensar. Até 8 de Junho, ainda pode visitá-la.... Depois, lá se foi uma bela oportunidade de ver arte feita numa perspectiva crítica, mordaz, já que toda a arte, no fundo, pode ter essa vertente.
A nossa região está cheia de água. Luz, barro, azulejos, areais... Mas a água, nos seus regueirões, esteiros, canais, rios, riachos, ria, mar, essa está a marcar-nos as feições e o carácter. Somos do Mar, do Vouga e da Ria, sem nos conseguirmos libertar desses elementos que nos congregam. Por isso, a importância desta exposição, que os aveirenses, de todos os recantos, melhor do que ninguém, saberão compreender e explicar.
A produção foi do Museu Nacional de Imprensa e a organização competiu à Comissão dos 200 Anos da Abertura da Barra de Aveiro, ao Porto de Aveiro, ao Município de Aveiro e ao Museu da Cidade de Aveiro.
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 31 Maio , 2008, 12:14

Celestino Almeida, director do Centro Distrital da Segurança Social de Aveiro, afirmou ontem, numa tertúlia organizada pela concelhia do Partido Socialista, que o município de Ílhavo tem carências a nível de apoios para idosos e para jovens deficientes, segundo li no “site” da Rádio Terra Nova. Nesse sector, garantiu, está abaixo da média distrital.
Depois de referir que o concelho não está todo no CASCI (Centro de Acção Social do Concelho de Ílhavo), criado e dinamizado pela saudosa Maria José Senos da Fonseca, Celestino Almeida lembrou que há um longo caminho a percorrer.
De facto, assim é, não obstante o muito que já temos, na área associativa, como respostas a um sem-número de carências. E se nestes sectores há faltas, noutros estaremos, decerto, muito à frente de alguns municípios. Sublinho, contudo, que na área de apoios a idosos está na forja um Lar na Gafanha da Encarnação e, em Ílhavo, um Hospital de cuidados continuados, para além de diversos projectos, um pouco por todo o concelho. Atrever-me-ia a dizer que, nas comunidades, não falta vontade para avançar. Assim o Estado se disponha a ajudar e a estimular…

FM

Editado por Fernando Martins | Sábado, 31 Maio , 2008, 11:28

Aveiro
Figueira da Foz
Ílhavo

Na Casa Major Pessoa, belo exemplar da Arte Nova, em Aveiro, está patente ao público uma primeira mostra, que vale a pena visitar, sobre a Rede de Cidades Arte Nova. Ontem passei por lá, em especial para ver a casa, mas gostei de ver os painéis alusivos a algumas cidades que ostentam no seu património a Arte Nova.
A Rede Nacional de Municípios Arte Nova foi criada através da assinatura do “Plano de Cooperação Arte Nova”, no dia 17 de Maio de 2006. Integra as cidades de Aveiro, Caldas da Rainha, Cascais, Estarreja, Figueira da Foz, Ílhavo, Leiria, Lisboa, Loures, Porto e Vila Nova de Gaia.
Com esta Rede e com este Plano, pretende-se concertar políticas no âmbito da intervenção no património Arte Nova; enriquecer os trabalhos dos parceiros em rede; contribuir para divulgar a Arte Nova; desenvolver intercâmbios no âmbito da divulgação e preservação; incentivar o turismo nas suas mais variadas formas; e promover actividades para a valorização cultural dos munícipes.
Espero que esta Rede possa levar as pessoas a olhar com outros olhos para a Arte Nova que se distingue na paisagem urbana que temos em algumas cidades. Mas também entendo que, tal como Aveiro vai fazer, todas as outras cidades saibam destinar pelo menos uma casa a um museu que preserve a Arte Nova, que está para além dos edifícios existentes.

FM
NOTA: Clicar nas fotos para ampliar

Editado por Fernando Martins | Sábado, 31 Maio , 2008, 10:48

As intenções do ministro e a realidade do mundo!

De acordo com a Comunicação Social portuguesa, no passado dia 29, do corrente mês, o Ministro da Economia, Manuel Pinho, esteve em Bruxelas, junto dos representantes da União Europeia, para que esta actue “de forma coordenada” para resolver os problemas colocados pela alta dos combustíveis.
“Entendo que os mercados não estão a trabalhar de forma adequada” e “tudo indica que a especulação selvagem tem grande responsabilidade na situação actual”, disse o ministro português junto dos ministros responsáveis pela Competitividade dos 27 países da EU.
Obviamente, que resultados concretos não existem, a não ser o conjunto habitual das banalidades que se vão proferindo nestes casos, sempre cheias de boas intenções e das melhores compreensões para com o problema.
No entanto, na sequência desta iniciativa do Ministro Manuel Pinho surgiram-me algumas questões, ainda que nem todas novas, e que passo a partilhá-las.
Primeiro, porque é que os mercados hão-de trabalhar bem se ninguém parece controlá-los? Salvo algumas excepções, o endeusamento destes tem sido feito, até à exaustão, como o único meio de desenvolvimento das sociedades modernas. Se após o 25 de Abril de 1974 o sector privado, erradamente, era um alvo a abater, hoje é o Estado.
Segundo, não existe especulação selvagem e especulação civilizada, como parece querer dizer o ministro. Há apenas especulação e toda ela é má.
Terceiro, em Dezembro de 2004, ou seja, há cerca de três anos e meio (!), Jean-Claude Trichet, actual presidente do Banco Central Europeu, apelava, na altura, para os mercados funcionarem melhor e que o preço do petróleo não correspondia ao valor normal que resultaria do encontro entre a oferta e a procura, conforme notícia publicada, entre outros órgãos da Comunicação Social, pelo jornal “Diário de Notícias”. Na altura, o preço do barril de petróleo andava aproximadamente nos 40 dólares! Alguém, então, lhe ligou ou fez alguma coisa para saber o que se passava realmente?
Quarto, por isso, é pura hipocrisia e demagogia política aquilo que os responsáveis da política europeia estão a fazer: andarem armados em vítimas e bonzinhos, quando, há três anos e meio (!), pelo menos, nada fizeram para que o choque petrolífero e a especulação, que sabiam estar a acontecer, não fosse tão abrupto e tão longe.
Quinto, toda a gente sabe que descer os impostos (IVA ou ISP) poderá atenuar alguma coisa, mas não acabará com o problema de fundo. Além disso, agravará outros sectores da economia, já que ao tapar o corpo de um lado deixar-se-á, de imediato, outra parte, a descoberto.
Sexto: No caso de Portugal, sobretudo a nível dos transportes terrestres, estamos na periferia dos grandes centos de consumo e distribuição europeus, pelo que somos mais penalizados e não podemos mudar o país de lugar.
Sexto, é bom lembrar que a sociedade mundial foi criada, estruturada e desenvolvida em torno do consumo e da dependência excessiva do petróleo, pelo que o estudo, desenvolvimento e aplicação da chamada eficiência energética foi sendo sempre adiado e mesmo as energias renováveis não irão resolver esta dependência existente.
Sétimo, não se pode dizer à China e à Índia para não comprarem mais petróleo o que significaria recolocar centenas de milhões dos seus cidadãos, outra vez, em níveis de pobreza, quando, hoje, já atingiram patamares que os aproximam dos valores da classe média, pelo que, mais cedo ou mais tarde, vamos vê-los a passear pela Europa.
Oitavo, mesmo que, por hipótese, se conseguisse acabar com a especulação, tal representaria, apenas, um “balão de oxigénio”, não evitando a criação, obrigatória, de mecanismos urgentes e coordenados, que levassem ao surgimento de um novo paradigma político, social, económico e comercial, a nível mundial.

Vítor Amorim

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 30 Maio , 2008, 12:39
Castelo de Montemor-o-Velho


Quando leio, vejo ou oiço descrições de viagens pelo mundo, bem contadas, sou invadido pela tristeza e pela certeza da minha dificuldade em ir confirmar, in loco, as belezas retratadas. Há pessoas com sorte na vida. Nesse aspecto, embora tenha passado por alguns países da Europa, nunca pude fixar-me em qualquer deles, uns simples dias, para visitar as memórias das grandes cidades. E em Portugal, que conheço um pouco, ainda estou longe de apreciar, com a profundidade que frequentemente sonho, muitos dos seus recantos.
Não sei porquê, mas a história e a vida dos grandes burgos, como a pacatez das pequenas povoações, sempre me atraíram. Gosto de me confrontar com hábitos diversos, de apreciar marcas do passado, de ver e ler os feitos dos íncolas, de contemplar as paisagens que nos oferecem cores, formas e cheiros variegados. Gosto de experimentar ares frescos e calores que aquecem realmente, gosto de contemplar gentes no seu casario tradicional, de calcorrear ruas sinuosas e rios cantantes, gosto de ouvir o linguajar do povo e de apreciar serranias e planuras, gosto de me quedar, de olhares nos horizontes, numa qualquer esplanada, mesmo com barulho em redor. Mas como sou vivo, graças a Deus, pode ser que um dia destes possa deambular por aí, nem que seja por aqui à volta, para saciar um pouco esta fome de conhecer o nosso mundo.

FM
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 30 Maio , 2008, 11:35
Na Universidade de Aveiro, vai decorrer, de 3 de Junho a 29 de Julho, à terça-feira, entre as 18.30 e as 20 horas, um Curso de Iniciação ao Jazz. Aberto à comunidade, o curso será dirigido por José Duarte, que, ao longo de 12 horas e numa linguagem acessível a todos, comentará e ensinará a ouvir a música dos principais actores da história do Jazz. As sessões decorrem no Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro.
As inscrições podem ser realizadas através do endereço http://www.unave.ua.pt, telf.: 234 370 833/4.
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 30 Maio , 2008, 11:28

Como já vendo sendo habitual no final de cada ano lectivo, a CIVITAS Aveiro, com o apoio da Universidade, realiza o Fórum da Cidadania Activa, para apresentação dos trabalhos realizados ao longo do ano pelos alunos de escolas e colégios dos diversos graus de ensino que aderiram ao Projecto «Direitos Humanos em Acção». Do vasto conjunto de actividades agendadas, o destaque vai para o galardão de «Cidadão do Ano 2008», que vai ser atribuído a D. Ximenes Belo, hoje, às 16h20, no Auditório da Reitoria.

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 30 Maio , 2008, 11:02
"Qual montanha que foi crescendo em mim, a memória permitiu-me um olhar crítico sobre o passado. E lá do cimo, ao mesmo tempo que me mostrou panorâmicas a perder de vista, contemplei suor e lágrimas de quem apostou transformar dunas estéreis em terra fértil, à custa de canseiras e de uma determinação exemplar.A memória diz-me que povo aqui se fixou: povo que apostou em vencer, recuando e crescendo, planeando e desistindo; povo que construiu e destruiu até encontrar o ponto certo da sua identidade, marcada pelo mar e pela ria que a foram moldando."

Ler mais em GALAFANHA
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 30 Maio , 2008, 10:39


Hoje, 30 de Maio, pelas 17.30 horas, será inaugurada a Feira do Livro e da Música de Aveiro , no Jardim do Rossio, certame que vai decorrer até 10 de Junho.
A Feira do Livro e da Música de Aveiro apresenta-se com dez stands com música. Livreiros serão 22, distribuídos por 45 stands.
No primeiro dia da Feira do Livro, pelas 18 horas, será lançado o Livro da obra vencedora do Prémio Municipal de Poesia Nuno Júdice, “Sobre Retratos”, de José Jorge Letria, editada pela “Indícios de Oiro”, estando prevista a presença do seu autor.
No âmbito da Feira do Livro e da Música de Aveiro, é proposto pela Câmara Municipal de Aveiro um programa de animação do qual realçamos as seguintes iniciativas:
Ateliês de conto; Ateliês de conto com Música; Teatro infantil “Uma vaca de Estimação”; Recriação histórica da venda de Ovos-moles; Teatro de fantoches “Máquina diabólica da trovoada”; E espectáculos de música, de teatro e de dança, entre outras acções.
Como habitual frequentador de feiras do livro, onde sempre me sinto como peixe na água, só tenho que recomendar aos meus leitores este certame, mesmo sabendo que, por vezes, não faltarão monos sem qualquer interesse. Contudo, é frequente encontrarmos execelentes obras que caíram no esquecimento.

Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 30 Maio , 2008, 10:11
As leis e as boas maneiras

No dia 20, do corrente mês, o Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que a “União Europeia reagiu com celeridade ao aumento repentino dos produtos alimentares. Estamos a ser confrontados com um problema com múltiplas causas e numerosas consequências. Por conseguinte, temos de agir em várias frentes.”
Deste modo, foi proposta, para ser discutida no Conselho Europeu da UE, a realizar no próximo mês de Junho, uma estratégia contra o aumento dos preços dos alimentos, passando pelo aumento da produção de cereais e das quotas de leite.
A aposta no desenvolvimento de biocombustíveis da segunda geração, a partir de fontes não usadas na alimentação humana, fazem parte deste leque de propostas, não se esquecendo de referir o “esforço no sentido de lutar contra os efeitos dos aumentos dos preços dos alimentos junto das populações mais pobres.”
Neste sentido, inclui-se a necessidade de haver uma resposta internacional mais coordenada à crise alimentar, designadamente no contexto da ONU e do G8.
Durão Barroso salientou, ainda, a “prossecução de uma política comercial aberta, que ofereça aos países mais pobres do mundo um acesso preferencial ao mercado da UE.”
Ao ouvir esta notícia e as medidas nela enunciadas, parecia escutar um coro de anjos celestiais, se é que é possível ouvi-los, pelo que o meu cepticismo é grande.
As palavras do Presidente da Comissão Europeia traduzem um conjunto importante de intenções, só que de boas intenções está o mundo farto e o inferno cheio.
Por outro lado, os dirigentes políticos parecem estar a perder o sentido do dever e do bem comum quando são eleitos ou nomeados para cargos institucionais e aquilo que deveria ser uma obrigação acrescida no desempenho dessas funções raramente se manifesta nos cargos que ocupam. A ilusão é uma arte e a mentira uma necessidade.
Não sei o que vai na cabeça do Dr. Durão Barroso, muito menos qual o poder real que ele possui para influenciar e mobilizar os seus colegas para o cumprimento das obrigações que todos têm, neste caso, perante os cidadãos europeus.
Não vejo políticos nem estadistas com dimensão suficiente para assumirem pactos firmes e sérios com as pessoas e a sociedade, condição que qualquer actividade pública exige, enquanto sentido de dever e obrigação de quem dirige a coisa pública.
Se algum mérito existe nas afirmações do Presidente da Comissão Europeia é o de reconhecer, implícita e explicitamente, que o mundo tem sido muito mal tratado pelos dirigentes políticos e a continuarem a fazer o que (não) têm feito até aqui as perspectivas de desenvolvimento integral são muito sombrias e o futuro inquietante.
Concorde-se ou não com o posicionamento político da Dr.ª Manuela Ferreira Leite, em entrevista dada ao jornal “Expresso”, do dia 17 de Maio de 2008, fez uma afirmação que dá que pensar, se a ela se quiser dar crédito: “ Se alguma coisa quero dar à democracia é fazer a experiência de ver o que acontece se falarmos verdade.”
Sempre a verdade como questão essencial da vida e da maneira como a queremos viver. Será o suficiente? É provável que não. Contudo, se o paradigma de fazer política e dirigir passasse mais pela boa maneira como agimos e não só pelas leis que fazemos tudo seria diferente, para melhor. A lei, sem boas maneiras, corrompe, embrutece-nos, convida ao facilitismo e à excepção, atrás de excepção. Veja-se o que aconteceu com o Primeiro-ministro, José Sócrates, e o(s) célebre cigarro(s) que fumou no avião, durante a sua recente viagem à Venezuela. As boas maneiras fazem parte da nossa identidade pessoal. As leis não. Comecei por falar do Dr. Durão Barroso. Termino, desejando-lhe que encontre, em si mesmo, as boas maneiras para não fazer promessas em vão e que, o mês de Junho, na UE, seja, finalmente, o início de um tempo de autêntica mudança.

Vítor Amorim

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 29 Maio , 2008, 20:16
Hoje, via telejornal, assisti a uma linguagem imprópria na Assembleia da República. Dá a impressão que na política vale tudo. Desde a ofensa pessoal a acusações inqualificáveis, vindas de um lado ou de outro. E o mais curioso é que, segundo posso adivinhar, logo a seguir, nos corredores do Parlamento, podem entrar todos em franca cavaqueira, como se nada tivesse acontecido. A vida partidária é uma coisa e a vida, digamos normal, é outra.
Também vi que nas galerias havia crianças e jovens. Ali terão ido para ficarem com uma ideia do que é a vida política, quiçá na esperança de um dia a seguirem. Cá para mim, estou em crer que, depois do triste espectáculo a que assistiram, jamais aceitarão tal carreira. Que Deus os livre disso! A não ser que venham, noutras circunstâncias, a verificar que, afinal, há outra forma de fazer política. Mais serena, mais educada, mais respeitadora.
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 29 Maio , 2008, 18:09

"Entrar no livro é valorizar o mundo dos sentidos,
das procuras e expectativas,
como dador de sentido à história do mundo,
este tantas vezes tão descolorido e com tanta falta
de boa poesia e boa prosa."

Vamos à feira do livro!

1. Um pouco por todo o país as feiras do livro procuram colocar o livro no centro das cidades e a leitura no mapa do enriquecimento cultural de todos. Os tempos estão difíceis, mas a aposta cultural é sempre o estímulo decisivo e o sinal do que se quer para o futuro, tratando-se a divulgação do livro não de uma despesa mas sim de um essencial investimento. Mesmo nos tempos da internet, das comunicações virtuais ou dos jornais que até abundam como oferta, o livro ocupa um lugar insubstituível. Entrar no livro é valorizar o mundo dos sentidos, das procuras e expectativas, como dador de sentido à história do mundo, este tantas vezes tão descolorido e com tanta falta de boa poesia e boa prosa.
2. Todas as feiras, e mais as do livro, neste ou naquele local, são sempre o lugar do encontro com os outros que, como nós, vivem a inquietude de querer, de forma andante, mais formação para um mais desenvolvimento capaz de impulsionar todas as criatividades. Criar hábitos de leitura – esta uma das metas do Plano Nacional de Leitura –, dinamizando e valorizando os sentidos e os imaginários logo a partir da tenra idade, será dos maiores tesouros a um crescimento no sentido do confronto, dos princípios e valores. Diz-me o que lês, dir-te-ei quem és! Poderá dizer o ditado, nesta consciência de que as leituras que vamos conseguindo fazer correspondem à vontade das nossas motivações, preocupações e procuras.
3. Como sabemos, em Portugal, o panorama da cultura e da formação humana e profissional é demasiadamente decisivo quanto ao futuro para que, porventura, se relativize, na lógica utilitária ou quantitativa, estas realizações das feiras do livro. O antídoto para o pessimismo e a crise nunca será outro que não o forte impulso da formação e de uma cultura de participação vigorosa e interessada, procurando divulgar e popularizar os bons livros e a boa leitura. Verdade se diga que, em Portugal, se tirarmos as feiras do livro da praça pública, que sinal nos fica como estímulo a uma vida em que os livros e a sua leitura façam parte da nossa vida diária?
4. Talvez também os cidadãos terão o dever de, em cidadania activa, valorizarem sempre mais a organização dos espaços que são propostos como lugar de encontro e partilha cultural. As perguntas do pragmatismo sobre a validade destes espaços comuns, sempre naturais, especialmente em tempos de crise, terão de ter da parte das editoras e dos cidadãos leitores uma resposta positiva e muito estimulante. Está nas mãos de todos preservar os escassos lugares de encontro com a cultura. Por isso, vamos à feira do livro 2008!

Alexandre Cruz


Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 29 Maio , 2008, 16:02
"Na Igreja há ainda sinais de um passado teimoso que ganhou ferrugem e se foi ins-talando à margem do Evangelho, por influência do poder e de hábitos profanos. As armas episcopais, o tratamento dado ao clero, as excelências e as reverências com os seus superlativos, são restos do tempo passado marcados pelo poder e em que vigorava a trilogia hoje felizmente ultrapassada: 'clero, nobreza e povo.'"


Na celebração litúrgica só há uma Pessoa que merece superlativos e, por mais que lhe demos, ficamos sempre aquém do que merece. É Deus, que se fez presente a nós em Jesus Cristo, Seu Filho. Mas até Ele parece ter dispensado os superlativos quando se quis fazer um como nós e insiste sempre em nos comprometer, antes de mais de mais nada, com a sua Obra por excelência, o Seu Povo, a Sua família alargada e amada.
Na celebração litúrgica Deus põe-se ao serviço da assembleia dos seus filhos, convocados e reunidos em nome do Senhor Jesus. É Ele que os acolhe e os purifica, lhes fala e os anima, lhes dá o Pão vivo para os estimular e fortalecer no seu peregrinar, os abre à dimensão apostólica em relação aos irmãos ausentes e aos que ainda O não conhecem e ao Seu projecto e, por fim, os despede e os envia em paz, para que testemunhem na vida o que pela fé acabaram de receber e celebrar. Sempre Deus a mostrar que fez de cada um e de todos, o Seu caminho e a plena concretização do Seu desígnio salvador. Sempre Deus a recordar que a grandeza da filiação divina, que perdura para além do tempo, está acima das grandezas humanas que, quando o são, até morrem muitas vezes com o tempo que as outorgou.
Continua-se, porém, em muitas celebrações da liturgia da Igreja, penso que mais por rotina, quer por outras razões, a dar maior importância e relevo a categorias humanas e sociais desajustadas, que o Vaticano II, muito justificadamente, procurou apagar.
Na assembleia litúrgica, a maior e mais reconhecida grandeza é dada, porque é aí que reside, à assembleia dos filhos de Deus, que se reúne para celebrar a Eucaristia. Nesta assembleia sobressai apenas, não por si, mas pela sua função de presidência em nome de Cristo, o bispo ou o presbítero quando preside. Nunca, por isso mesmo, o presidente poderá ter outros sentimentos, outras palavras, outras atitudes, outra atenção, diferentes das que Jesus teve e terá no momento: acolhimento fraterno, palavra simples e directa, atenção cuidada aos mais pobres e mais simples, deferência igual para com todos sem salientar alguém em especial, preocupação de congregar e de unir, dimensão sagrada e com sentido apostólico e missionário em tudo o que se diz e se faz. Trata-se de uma assembleia de iguais pelo Baptismo e não de uma reunião com algumas personalidades e muito povo anónimo. Não somos capazes de imaginar Jesus Cristo, rodeado de uma multidão, a saudar uns com superlativos e outros de modo mais ou menos anódino. O valor de cada um não está nos títulos exteriores, mas na dignidade que Deus lhes conferiu, bem como à assembleia, onde se encontra com os seus filhos.
As primitivas comunidades cristãs tinham consciência de que assim era, recordando,
por certo, o exemplo e o ensinamento de Cristo e as recomendações, claras e incisivas, dos Apóstolos. De recordar o Apóstolo Tiago, falando sobre os lugares na assembleia que celebra a Eucarística e a importância igual dos irmãos que nela participam.
Na Igreja há ainda sinais de um passado teimoso que ganhou ferrugem e se foi instalando à margem do Evangelho, por influência do poder e de hábitos profanos. As armas episcopais, o tratamento dado ao clero, as excelências e as reverências com os seus superlativos, são restos do tempo passado marcados pelo poder e em que vigorava a trilogia hoje felizmente ultrapassada: “clero, nobreza e povo”. Após o Vaticano II, alguns bispos e cardeais de dioceses quiserem ser tratados apenas por “Padre”, outros acabaram com as armas episcopais; as insígnias litúrgicas a primar pela simplicidade e pela moderação e as saudações de cariz mais evangélico Foi um tempo de esperança. Hoje a sociedade tolera menos restos do passado que nada ajudam à evangelizar e a exprimir o sentido de família. São costumes velhos e inúteis que impedem que a renovação conciliar avance. Há que dar lugar a gestos e a linguagem que ajudem a ver a verdadeira grandeza dos cristãos e primem pela simplicidade e maneira de servir.
António Marcelino
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