de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 21 Abril , 2008, 17:53
A Terra é única

1. Quando Neil Armstrong chegou à lua, a 20 de Julho de 1969, e deu um pequeno passo para um homem mas um grande passo para a Humanidade, inaugurava a era espacial com o ser humano presencial. Dessa aventura, devidamente preparada pela missão Apollo 11, em que as imagens a preto e branco na altura percorreram o mundo, uma grande admiração foi o olhar para a Terra à distância, a partir da lua. O terceiro planeta do sistema solar, visto do nosso único satélite natural (a lua), mostrava-nos um lindo planeta azul! Os anos foram passando, a nova era industrial do séc. XX, agora química e tecnológica, trouxe consigo uma cor diferente, o cinzento; as ameaças dos buracos do ozono, como as comprovadas e inquestionáveis alterações climáticas, lançam hoje o alerta SOS Terra; alguns são intransigentes nessa defesa, outros indiferentes a poluir. Mas uma nova «eco consciência», como dever ético, vai-se multiplicando pelas agendas, já políticas (embora ainda pouco), pelo mundo fora.
2. Corria o ano de 1970, ano seguinte ao homem na lua. O senador norte-americano Gaylord Nelson, preocupado com todas estas questões emergentes, promove o primeiro protesto nacional contra a poluição. Desse ano em diante, e a partir de 1990 para outros países do mundo, a data de 22 de Abril passa a ser assinalada como o Dia Mundial da Terra. Comemoração que, como todas, tem o valor que lhes queiramos dar como esforço de ideias e práticas para todos os dias do ano. Inquestionável é que o ser humano tem abusado, explorado desmedidamente, estragado muitos dos ambientes naturais; verdade é também que a vida vive-se à descoberta, e muitas vezes é à posteriori que se detectam os graves erros cometidos no passado. Mas, se a aprendizagem é um dever, então o aprender da história, hoje, assume-se como uma redobrada obrigação protectora, mesmo que colida com os mil interesses político-económicos. Estamos longe deste ideal que, todavia, hoje já faz parte das preocupações.
3. A desordenança ambiental da Terra continua alarmante. Os mais ricos ou a caminho dessa riqueza, e por isso infelizmente os que têm mais poder político, são os mais poluidores do planeta. E vivem uma grave despreocupação efectiva: veja-se hoje os EUA e a China. Segundo estudiosos, a terra terá cerca de 4,5 biliões de anos. Muita idade mas que, por forças incríveis que nos ultrapassam, está sempre nova. Basta sentir a primavera de cada ano, onde a mãe natureza obedece ao grande Arquitecto Criador renovando-se em beleza admirável. A Terra está de parabéns todos os dias e é todos os dias que ela quer pertencer à nossa agenda (Agenda 21) cuidadosa. Cada coisa tem o seu lugar, e as causas do ser humano estão sempre em primeiro de tudo. Mas Francisco de Assis (1181-1226) tinha razão: até como sensibilização e educação ambiental temos de aperfeiçoar a relação de proximidade fraterna para com todas as expressões de vida. Ou não fossem elas obra do mesmo “milagre” da vida na «irmã» natureza.
4. Ou terão as agendas globais e pessoais de sofrer as tempestades reclamadoras do ambiente para transformar os comportamentos exploradores em PAZ com a natureza?! Todo o tempo é precioso porque é VIDA! O legado ambiental aos vindouros nestas últimas décadas tem comprometido gravemente o futuro. Não é um filme inconveniente, é a inadiável (e custosa) revolução das práticas socioambientais.


Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 21 Abril , 2008, 11:36

'O SER HUMANO, como toda a gente sabe, é matéria e espírito. Somos matéria porque temos um corpo. Mas somos 'espírito', porque não nos reduzimos ao corpo: temos sentimentos e pensamos. Quando se fala em 'espírito', as pessoas são levadas a pensar em religião. Ora, ainda que todas as religiões digam que o espírito - a alma - só pode salvar-se através da fé, qualquer ser humano tem 'espírito', independentemente de ser ou não religioso.
O facto de eu não ser católico (nem professar qualquer outro credo) não me impede de considerar trágica a pouca importância que hoje se dá ao espírito. Essa é uma das tragédias do nosso tempo - e a causa da insatisfação e infelicidade que atinge as populações urbanas.
As questões 'materiais' tendem hoje a ocupar todo o espaço das nossas preocupações. O espírito atrofia-se. Os bens do espírito perderam todo o valor.
Em certas épocas a sociedade situava-se no extremo oposto. Quase tudo se reduzia ao espírito. As pessoas eram sacrificadas e mortas por não professarem a religião oficial ou por atentarem contra os seus dogmas. Nada podia existir fora da religião - e em nome dela tudo era legítimo (...). Para a salvação do espírito destruía-se o corpo, como ainda hoje acontece com os fundamentalistas islâsmicos.
Hoje, no Ocidente, a espiritualidade foi banida do quotidiano e tudo, como se disse, tem uma equivalência monetária (...). Tudo (ou quase tudo) na nossa sociedade tem um preço. (...) O dinheiro entranhou-se de tal forma na nossa vida que mesmo certas organizações que era suposto preocuparem-se mais com o nosso bem-estar do que com o nosso dinheiro também já quase só falam em dinheiro (...).
Claro que o dinheiro é importante. O problema é quando deixamos de ser nós a usá-lo para ser ele a usar-nos. O dinheiro é uma espécie de monstro - se não o conseguimos dominar é ele que nos domina, nos subjuga, nos compra, com a ilusão de que nos dará a felicidade (...)'.

José António Saraiva

In Jornal 'Sol' de 19-04-08
NOTA: Leitor amigo teve a gentileza de me enviar este texto que, com gosto, aqui publico. Com os meus agradecimentos...
FM
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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 21 Abril , 2008, 11:13

ADOLESCÊNCIA: SERÁ A CULPA DA IDADE?

A Organização Mundial de Saúde – OMS – define os adolescentes como sendo indivíduos, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 10 e os 19 anos.
De qualquer modo, não existem escalas de medida nem fronteiras estanques que tornem estas faixas etárias absolutas e definitivas, sobretudo quando se olha para um período da vida humana longo e marcado por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, afectivas, intelectuais e sociais, vividas num determinado contexto cultural.
Mais do que um período longo,”que começa ali e acaba acolá”, importa ter em conta que a adolescência é um processo com características próprias, dinâmico, de passagem entre a infância e a idade adulta, onde ninguém fica de fora ou pode ser alheio.
Que condições é que os educadores dão aos adolescentes para que estes possam viver, o melhor possível, as diversas fases do seu crescimento é uma questão que cada um deve colocar a si mesmo.
Muito do que ocorre na vida de cada um tem, necessariamente, uma forte componente de relações interpessoais. Estas relações interpessoais aplicam-se que nem uma luva aos contactos e relações que os educadores e os adolescentes estabelecem entre si, ou seja, não se deve falar de uns sem se falar dos outros. Estão como que “condenados” a entenderem-se e a cooperarem entre si, de acordo com a idade e as características pessoais, entretanto assumidas, por cada um, a seu devido tempo. Em termos relacionais, adolescentes e adultos são interdependentes uns dos outros, sem que isto colida com o processo de afirmação da personalidade e autonomia do adolescente ou tenha que levar o adulto a atitudes, por exemplo, autoritárias, passivas ou de condescendência.
Pena é que esta vertente inter-relacional de gerações, naturalmente diferentes, no tempo e no espaço, e no modo como vivem ou sentem uma mesma realidade, nem sempre seja, devidamente, assumida, destacando a sua família, primeira responsável a educar e a preparar os filhos para as dificuldades e oportunidades do seu próprio crescimento.
Nem sempre é fácil conseguirem-se os melhores resultados, logo à primeira dificuldade e a família, e restantes educadores, têm que estar preparados para terem os seus momentos de, aparente, fracasso, assim com devem ajudar os seus filhos ou educandos a ultrapassarem os seus. É um processo gradual e evolutivo, ao longo de vários anos, sem resultados programados ou fórmulas estabelecidas, para qualquer uma das partes. Todos têm que aprenderem e adaptarem-se às circunstâncias de cada momento, questionando-as, quando necessário, para melhor as compreenderem, depois.
Paciência, carinho, compreensão, aprender a escutá-los, animá-los, estar com eles nos seus projectos, amor, segurança, saber incentivá-los e motivá-los, são algumas das ferramentas a utilizar, sempre que o adolescente necessite (e necessita) de quem o apoie, a começar pelo seu pai e pela sua mãe.
A não se optar por estes comportamentos, não é de estranhar que se continuem a ouvir expressões, ainda nos dias de hoje, proferidas pelos seus educadores, – pai, mãe, professores, por exemplo – sempre que surgem obstáculos ao adolescente, tais como: “A culpa é da idade”; “Deixem-no”; “O que tem é mimo”; “Não lhe liguem”; “O que ele quer é atenção”; “Não sabes o que é sofrer”; “Cala-te”; “Agora, não tenho tempo”; “A conversa não é contigo”; entre muitas outras que se poderiam acrescentar a esta lista.
Não estou aqui para fazer juízos pessoais destas frases assassinas, quando proferidas, mas sei que elas criam, só por si, sentimentos e emoções cujas consequências, naturalmente negativas, no adolescente, não são possíveis de avaliar, em termos imediatos.
Como católico, não posso esquecer, ainda, a dimensão catequética da adolescência, onde os catequistas, educadores da fé, têm uma importantíssima tarefa a realizar, perante este grupo etário, de modo a que ele se sinta parte integrante de um processo de aprendizagem, crescimento, aprofundamento e amadurecimento dessa mesma fé.

Vítor Amorim

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 21 Abril , 2008, 10:51

1. O cristianismo constituiu, na História da Humanidade, uma revolução. “Deus é amor” e “adora-se em espírito e verdade”. Todos os seres humanos são iguais em dignidade. Não há impurezas rituais nem tabus alimentares. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E o que é mais: segundo o capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus, em ordem à salvação, nada é exigido de confessional cristão, pois o determinante é profano – um critério de humanitariedade: “Destes-me de comer, de beber, vestistes-me, fostes ver-me ao hospital e à cadeia.”
2. Depois, de facto, historicamente, é o que se sabe: uma história de grandeza e de miséria. Exemplos de miséria: intolerância religiosa, guerras, civilizações arrasadas, mesquinhez dogmática, menosprezo pelos direitos humanos.
3. Quando se pensa na maldição de guerras religiosas e de discriminação por motivos de religião, a separação da religião e da política, da(s) Igreja(s) e do Estado tem de ser saudada como conquista irrenunciável da modernidade.
Sem ela, torna-se inevitável a cidadania diminuída de quem não segue a religião oficial. Por outro lado, é a própria religião que, ao confundir-se com a política, se degrada.
Evidentemente, salvaguardada a liberdade religiosa, as religiões têm o direito de tentar influenciar segundo a sua fé e valores a sociedade e as leis. O que não é aceitável é que o Estado se reja por leis religiosas: por exemplo, um Estado em que a maioria da população é católica não pode reger-se pelo Código de Direito Canónico, o mesmo devendo ser aceite, por princípio, em relação à Sharia num Estado em que a maioria da população é muçulmana.
4. O ridículo, mas sobretudo o religioso, é sempre ridículo. Como foi possível discutir, por exemplo, se Moisés era o autor do Pentateuco, quando nele se narra a morte do próprio Moisés? Como é possível pensar no Alcorão enquanto ditado por Deus, se há nele contradições? Como é possível atribuir a Deus guerras e violências e apelos ao ódio? Sem a leitura histórico-crítica dos textos sagrados, as religiões não distinguirão entre Deus e o Diabo.
Também por isso, para fugir à ignorância mútua, à irracionalidade e ao fundamentalismo, deveria trazer-se para as escolas públicas o estudo das diferentes religiões.
5. Hoje, tornou-se claro que, em ordem à paz e para evitar o choque das civilizações, se impõe o diálogo entre as culturas e as religiões.
O diálogo, porém, não pode ser unidireccional. A liberdade religiosa implica a possibilidade real de praticar a fé, abandonar uma religião, adoptar outra ou nenhuma, problemas que ainda não encontraram solução em muitos países islâmicos e não só -- pense-se no jornalista italiano Magdi Allam, muçulmano convertido ao catolicismo e obrigado a viver com escolta policial.
A injusta invasão do Iraque agravou ainda mais a situação dos cristãos no Próximo e Médio Oriente, e praticamente só o filósofo agnóstico Régis Debray tem chamado a atenção para os pedidos de socorro desses cristãos. Pergunta ele: “Quando se vai compreender que a Europa não pode fazer orelhas moucas aos SOS lançados pelas comunidades cristãs do Oriente? Esses apelos por socorro perdem-se a maior parte das vezes no vazio. Não é apenas uma questão de compaixão humanitária, mas de interesse estratégico: um mundo árabo-muçulmano desembaraçado da sua componente cristã autóctone não se condenaria apenas ao estiolamento e à esterilidade, uniformizando-se. Será tanto mais dado à guerra das civilizações quanto mais se quiser e puder proclamar religiosamente puro. A questão não é passadista nem folclórica. Trata-se do nosso futuro e não apenas europeu. A questão das minorias vai impor-se a nós como a grande questão do século, na exacta medida em que a unificação tecno-económica do mundo suscitará sempre mais a sua balcanização político-cultural.”
Embora se não possa esquecer as responsabilidades dos cristãos no Médio Oriente, são de saudar conversações em curso para finalmente se abrir um templo católico na Arábia Saudita.
Anselmo Borges
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NOTA: Há, de facto, leitores simpáticos. Desde sábado que fiz todos os esforços para colocar o artigo de Anselmo Borges no meu blogue, como é meu hábito todas as semanas. Sei que há inúmeros leitores deste docente da Universidade de Coimbra. Contudo, nada consegui, porque o DN não estava on-line. Hoje de manhã ainda desejava voltar ao DN. Antes disso, porém, recebo um e.mail com a crónica de Anselmo Borges, que me foi enviada, simpatica e oportunamente, por FCS, pelos vistos uma leitora do meu blogue. Aqui lhe agradeço o gesto bonito. Obrigado.
FM
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