2. Um dia destes, na nossa cidade, no momento em que o sinal vermelho obriga a parar, reparo num rosto de uma pessoa, de seus 70-80 anos que estava à janela de uma casa. O dia estava de um sol que brilhava, iluminando as ruas e as relações das pessoas. O rosto dessa pessoa idosa, que parecia estar em pé com muleta, era como quem, procurando fugir daquela solidão que “mata”, anseia por uma réstia de luminosidade que seja o sentir a vida da cidade. O semáforo passou a verde, tem de se acelerar, senão uma buzinadela faz assustar os transeuntes do passeio. Uma última olhadela nessa pessoa e, até sempre. Quantas janelas falam solidão pelo olhar de quem ela é o único fio de contacto com a cidade dos vivos! Quantas janelas, do lado de dentro, gritam um silêncio perturbador da inquietação do “não há tempo” para amar a vida dos que nos deram a vida?!...
3. O único remédio parece ser mesmo “remediar”. Os modelos de sociedade, de quando em quando com impulsos que cortam o resto de tempo para conviver, caminham na ordem do pragmatismo alucinante. Este, muitas vezes, dependendo do património de valores, é inimigo da “companhia”, da sensibilidade, do tempo para estarmos mais uns com os outros. Mas também, noutras circunstâncias, quando esse tempo sobra não existe um “coração” afável que saiba cuidar do essencial. Este é o tempo das opções com sentido de humanidade. Quanto mais ampararmos mais seremos amparados... Se não cuidarmos dessa árvores da vida, com afecto, amor e presença, também é essa janela que nos (des)espera. Tem de haver tempo…para que o sol de todos os dias possa entrar por essas janelas de um coração humano!
Alexandre Cruz