REFLECTIR E ACTUAR NA MARGEM DA PROSTITUIÇÃO1. Realizou-se em Aveiro, a 25 de Março, uma Jornada Interdiocesana de Reflexão sobre a Prostituição. A promoção e organização foi da responsabilidade das Cáritas Diocesanas de Aveiro (
www.caritas.pt/aveiro), Coimbra, Guarda, Lamego, Leiria/Fátima, Viseu e Cáritas Portuguesa. Como intervenientes será de destacar a comunicação da responsável da Associação “O Ninho” (Lisboa) e a palestra de docente da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). Ainda, e descendo à nossa realidade local da Região Centro do País, contou-se com a intervenção do Lar do Divino Salvador (Ílhavo - Aveiro), do Projecto RIA (Aveiro), das Irmãs Adoradoras (Coimbra), e das Cáritas Diocesanas promotoras e presentes. Achámos oportuno a apresentação de todas estas referências participantes pois elas são, por si, sinal social de uma preocupação de todos e que cada vez mais deve ser vista de forma abrangente e parceira, quer geograficamente quer interdisciplinarmente.
2. Das diversas intervenções iniciais, de entidades da sociedade aveirense, destaque-se a premência de um “assunto” que deve ser trazido com humanidade à luz do dia. A “prostituição” traz consigo uma perturbante conjuntura de causas e promove um leque problemático de consequências, onde, como alguém lembrava, mais uma vez “a mulher é a vítima”. Encarar o flagelo da “prostituição”, em múltiplas vertentes, é reflectir sobre as piores condições de indignidade humana; actuar neste terreno complexo, nunca foi nem será uma questão legislativa, é trazer para a luz do dia como preocupação quem por determinadas circunstâncias (sendo a pobreza uma delas) entrou no precipício. Estamos diante de uma realidade social que, muitas vezes, quase que toca o “faz de conta que não se vê”. Há uma meia dúzia de “podres” sociais que existem e persistem, mas em que a sociedade do bem-estar passa ao lado. Reconhecidos os que, servindo a pessoa na sua dignidade, vivem a inquietude e dão a vida e as suas energias para minimizar, recuperar, “amar” quem vive os submundos da margem desumanizante.
3. Nas questões humanas fundamentais não há soluções fáceis, instantâneas e pragmáticas, mas uma procura concertada que capacite os que vivem a solicitude no terreno concreto. É esse o esforço meritório de entidades como as referidas que fazem “força positiva” em dar um sinal social de que sociedade terá de significar “comunidade”. Neste sentido, o que indignifica alguns deve preocupar todos. Não se espere dos Estados as respostas para tudo, seria diminuir as potencialidades de uma dinâmica e desejada sociedade civil; não se espere que a sociedade civil faça tudo sem a cooperação dos Estados, seria sinal de que estes vivem longe das pessoas. A cooperação tem veias interdiocesanas, intermunicipais, transdisciplinares e interinstitucionais. Desta forma, em rede, a reflexão fica bem mais próxima da acção solícita na “margem” da sociedade que, pelos dados estatísticos, vai crescendo com um rio… É nestas margens delicadas que se vê a “prova dos 9” do verdadeiro serviço à humanidade das pessoas. Não o discurso mas na vida; na restituição da esperança, o mesmo é dizer, na “força” que brota da Páscoa que, com este ou outro nome Altíssimo, quer chegar à Pessoa toda e a todas as pessoas!
Alexandre Cruz