de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 26 Fevereiro , 2008, 14:54
São cereais, senhor!

1. Nas últimas semanas fomos alertados para a notícia da subida dos preços do trigo nos mer-cados internacionais. Destes dias, conse-quentemente, para a constatação alarmante de que será difícil garantir os programas de co-operação alimentar da ONU para com os povos em vias de desenvolvimento. Segundo Ab-dolreza Abbassian, de nacionalidade iraniana e que antes de chegar há 18 anos à FAO (Or-ganização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) trabalhou na OCDE e no FMI, as razões desta quebra e do pânico dos mercados são múltiplas e tocam tanto as explicações de crescente concentração económica como os factores psicológicos globais.
2. No dizer desta especialista que esteve recentemente em Lisboa (no congresso do milho), há uma rede de «imprevisibilidade dos inúmeros factores que contribuem para a formação dos preços», o que torna todas as projecções arriscadas, demonstrativo de que «nunca o mercado foi tão volátil e isso vai continuar». Verifica-se a queda das reservas existentes, apesar do aumento de produção, observando-se neste ano 2008 o nível mais baixo de trigo em stock dos últimos 30 anos. Preocupante, no que representa este cereal como primeira fonte alimentícia mundial; simultaneamente desafio à reinvenção dos mecanismos alimentares que garanta o “justo pão”, processo que está em curso.
3. Se é certo que ao leque de razões poderemos acrescentar as questões da hiper-procura das novas potências chinesa e indiana, a par da emergência dos biocombustíveis, todavia, estas razões para a especialista iraniana aparecem como “mitos” que se vão criando, sendo também uma das razões a ter em conta a problemática das questões ambientais. Diante dos cenários de instabilidade global, que agora também chegou aos mercados de cereais, sobre a agricultura portuguesa, enaltece Abdolreza Abbassian as vantagens de ter uma agricultura diversificada, sendo a especialização um risco nestes contextos de incerteza. É verdade a segunda afirmação… Mas não deixa de ser interessante, com várias pistas de reflexão, que quem vem de fora diga que temos agricultura (?) diversificada…
4. Talvez tenhamos, sim, é inúmeras potencialidades nas nossas terras deste lindo país de sol. Mas, na realidade, uma boa parte delas estão à espera do nosso regresso, quando passarmos da tecnocracia, sem medos, para as terras dos chamados, de forma cara, “produtos biológicos”. Até lá, precisamos da redefinição estratégica para um global “milagre dos cereais”!

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 26 Fevereiro , 2008, 12:42

Pouco crédito deve ser dado a reformas que não implicam mudança de quem as promove, que atingem apenas terceiros. E também àquelas que precisem de muitas lentes mediáticas para as ampliar. Mesmo que assim não pareça, a respectiva sustentabilidade vê-se no tempo, na capacidade que tiverem ou não para oferecer melhores dias, a todos os cidadãos.
No interior da Igreja Católica, são de algumas décadas as tentativas de mudanças que proporcionem aos leigos compromisso e iniciativa nos dinamismos sociais onde quer estar presente. O que acontece quando as reformas dão lugar a processos de conversão, porque só estes permitem transformações globais, capazes de suportar modos diferentes de ser e estar em grupo, em comunidade. Para isso é necessário tempo, o suficiente, que oferece durabilidade e implica envolvimentos recíprocos (como é analisado no dossier AE desta semana).
Se em causa estiver a organização de sociedades, acrescidas são as razões!
A cada passo, nas estruturas nacionais e nas empresariais, as consecutivas reformas aparecem como estandarte de bem-saber-fazer: sejam elas de âmbito burocrático ou estrutural, servem sempre para horas ou dias de propaganda de quem as promove. Sobretudo se são anunciadas e “implementadas”, segundo os tempos mediáticos e não naqueles que deveriam reger a política, o governo das sociedades.
Às notícias que as divulgam seguem-se, às vezes, outras menos agradáveis: uma em cada cinco crianças portuguesas encontra-se em risco de pobreza; sms coloca professores em manifestação; protestos contra fecho das urgências; um difuso mal-estar na sociedade portuguesa...
Sinais contraditórios na mesma sociedade que podem lançar a suspeita sobre boas intenções reformadoras. Sobretudo quando em causa estão sectores fulcrais da organização de sociedades democráticas.
Se há reformas que precisam só de tempo, outras implicam mudanças de procedimentos, de relacionamentos, da cultura do ser estar em sociedade. E isso não se dita através de uma reforma. Só acontece com um processo de conversão.

Paulo Rocha
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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 25 Fevereiro , 2008, 17:48



A ADACE (Associação de Defesa do Ambiente Cacia – Esgueira), em carta assinada por Rosa Maria Pratas Melo, presidente da direcção, enviou-me algumas denúncias sobre o estado de degradação em que se encontra a nossa Ria, candidata às 7 Maravilhas Naturais do Mundo, avançando, contudo, com a ideia de que ela “precisa de ser apoiada e respeitada”.
Diz que há muitas questões de poluição por resolver e que, sob o ponto de vista ambiental, “os sucessivos governos e todos nós temos, certamente, muitos problemas de consciência”.
Depois de outras e pertinentes denúncias, diz que num passeio pela Ria viu “restos de obras, plásticos, entulho de vária ordem, monstros urbanos”, mais “cais escuros degradados e sucata”.
Claro que se fala há muito de tudo isto e que é urgente uma grande campanha de limpeza da nossa laguna, no sentido de a tornar mais apetecida e visitada. A Ria de Aveiro tem imensas potencialidades para figurar entre as Maravilhas Naturais do Mundo, sendo certo que todos temos de colaborar com quem teve a coragem de a candidatar. A Ria, apesar de tudo, merece.

FM
:
NOTA: Fotos enviadas, gentilmente, pela ADACE

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 25 Fevereiro , 2008, 16:59
Há muita coisa boa nas nossas televisões e nos demais ór-gãos de comunicação social. O importante será saber fazer escolhas, deitando para o caixote do lixo o que não presta. Por isso, há que promover a formação, no sentido de todos aprendermos a distinguir o que é de qualidade do que não vale nada. Concordando com o que diz João César das Neves, aqui deixo um naco da sua prosa de hoje no Diário de Notícias.

NOTA: Há dias achei graça a um comentário num blogue. Dizia a dona dele que, face às notícias sem nexo que via, lhe apetecia atirar um tijolo à televisão. A mim também, mas como o aparelho é caro, ainda não tive coragem de o fazer. Mas que a fecho muita vezes, lá isso fecho!


Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 25 Fevereiro , 2008, 16:52
Ao pós-crítica


1. A ideia central, e muito sublinhada, era «um mal-estar difuso», que «alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional», podendo-se chegar a «uma crise social de contornos difíceis de prever». Esta foi a linha de pensamento do alerta lançado na semana passada pela Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES). No documento são focados sectores frágeis como a degradação da confiança política, os sinais de crise nos valores, na comunicação social e na justiça, a criminalidade e a insegurança. Este documento deu azo aos comentários mais variados. Na generalidade, carregaram muito mais no pessimismo que continuamente nos derrota que esboçam uma leitura em ordem ao compromisso social de todos na busca das soluções comuns.
2. Naturalmente, todos, pessoas e / ou entidades têm o direito / dever de expressar publicamente como cidadania o seu contentamento ou descontentamento diante da realidade social. O país tem recebido alertas de diversas ordens de pensamento e de diferentes formas de ver e viver a vida em sociedade e as suas crises (neste aspecto lembre-se há anos o fundamentado documento: Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa - “Crise de sociedade, crise de civilização”, 2001). São muitos os pareceres, mas normalmente os que mais sofrem a “crise” vivem-na no silêncio e na luta diária, vendo à noite nas notícias outros que não a vivem, sempre estética e comodamente instalados, a falar dela continuamente. Talvez nestes discursos todos exista um contraditório e um alarmismo mediático que acaba por tocar o “deixa andar”, como se não tivesse sempre dependido e dependesse de todos as soluções (do rigor aos valores humanos e sociais) para os problemas a resolver. Afinal, não são os cidadãos que votam, elegem, levantam, mantêm ou derrubam…?
3. Volta e meia vêm estes alertas. Mas seja dito que eles têm crescido, na proporção do crescimento das desigualdades da sociedade portuguesa. Todavia, não chega só constatar o que vai mal, o carregar nos medos de existir… Na realidade, uma mentalidade pró-activa e dinâmica talvez ofereça a capacidade de criar mais soluções. Depois da crítica de quem muitas vezes vive bem acima da média será preciso passar ao “pós-crítica” e mesmo a uma ordem de justiça redistributiva que se diz não existir. É claro que neste “pós-crítica” estarão os dinamismos situados a cada circunstância. Talvez o eixo esteja na concepção que temos de “política”. No geral, pouco ligamos a não ser na hora de não concordar ou desconfiar. Ainda não descobrimos que todo o cidadão todos os dias é político. Ainda deixamos tudo andar, até… De certeza que com uma cultura activa e mais participativa de todos os cidadãos hoje estaríamos, pelo menos, um pouco mais acima…


Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Domingo, 24 Fevereiro , 2008, 21:30
No Seminário de Aveiro, 26 de Fevereiro, às 12.30 horas

ÉTICA E RESPONSABILIDADE
SOCIAL NAS EMPRESAS

Por iniciativa da ACEGE - Associação Cristã de Empresários e Gestores, vai ter lugar no Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro, no próximo dia 26 de Fevereiro, terça-feira, pelas 12.30 horas, um almoço/debate com o Dr. José Roquette, que falará sobre ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS.
Este encontro será, igualmente, a oportunidade para retomar a actividade regular da ACEGE em Aveiro através de um conjunto de palestras mensais sobre os temas relacionados com a vida, por vezes difícil, daqueles que procuram viver a empresa com responsabilidade e valores.
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 24 Fevereiro , 2008, 12:30




Há muito se sabe da pobreza em Portugal. Os números elevados dos que passam fome ou vivem em situações degradantes são divulgados de vez em quando. Agora sublinha-se que “Portugal é um dos oito países da União Europeia onde se registam os níveis mais elevados de pobreza nas crianças.” Não haverá forma de resolver o problema? As políticas não poderiam pôr na agenda esse tema como PRIORITÁRIO?

Editado por Fernando Martins | Domingo, 24 Fevereiro , 2008, 10:56
Seca do bacalhau antiga (clicar para ampliar)

AGENTES DE EDUCAÇÃO: O MESTRE-ESCOLA

Caríssima/o:

Vamos hoje encontrar uma figura impagável e inapagável da nossa memória colectiva. Ler o P. João Vieira Resende é um refrescar dessa mesma memória que se quer sempre viva e interpelante. Os [] indicam-nos as páginas da Monografia onde se encontram estas imagens:

«Antes que chegassem, porém, os pioneiros da instrução, ou fosse o professor primário, ou fosse o capelão permanente, depois pároco da Gafanha, como viviam estes povos, isolados do convívio social, entregues à crítica situação de primários, aos seus instintos semi-bárbaros? [207]
Viviam no seu deserto, na mais completa rudez; se quiseram afinar as suas almas e levantar-se ao nível de homens civilizados, viram-se na dura necessidade de desdobrar as suas energias, gastas nas lides de remexer as areias, num outro plano, todo de formação espiritual e de sacrifícios, o qual consistia em reservar uma parte da noite para aprender o abc, que um mestre improvisado insuficientemente lhes ia ensinando. Pouco avançavam com uma instrução tão rudimentar e subministrada a conta-gotas por um ou outro mestre particular. Mas que podia ele fazer sem método, em noites de inverno, à luz mortiça da candeia, em uma espécie de sala incómoda, onde penetrava o vento e caía a chuva? Ainda assim, lá se iam desbravando aqueles cérebros broncos, fechados às claridades da instrução.
Conhecemos na Encarnação o senhor mestre Manuel das Neves que ensinou, com certo gosto e proficiência, algumas dezenas de rapazes a ler, escrever e contar. Ainda existem alguns homens que lhe devem o pouco que sabem.
Este tinha sido precedido por outro mestre, o João Gramata, irmão da Joana Maluca.
Na Cale da Vila também a mocidade aprendia com Domingos Fernandes Caleiro.
O povo respeitava-os muito, e por isso os tratava com muita deferência, chamando-lhe o “Senhor Mestre”.
E antes destes, quantos! Devemos, pois, render preito a estes homens, a estes “Senhores Mestres” pelo amor que tiveram à instrução e pelo muito bem que fizeram.
Em tão rudimentares escolas eram sempre muito poucos os que alguma coisa aprendiam e inúmeros os que não passavam do soletrar, pois que os frequentadores delas eram, em geral, homens já feitos que pouco ou nada aproveitaram.
Cansados pelos trabalhos do dia, como poderiam aplicar-se convenientemente ao estudo, a cair de sono e com mestres inaptos?!
Mestres e discípulos, ainda que animados de muito boa vontade, deixavam sempre uma obra incompleta, ficando muito limitado o número dos que mal sabiam ler e pior assinar o seu nome.»[208]

Aqui fica a minha modesta mas sincera homenagem, o meu “preito a estes homens, a estes 'Senhores Mestres', pelo amor que tiveram à instrução e pelo muito bem que fizeram”!
Que este “AMOR” e este “BEM” iluminem ainda hoje as nossas Escolas!

Manuel

Editado por Fernando Martins | Domingo, 24 Fevereiro , 2008, 10:49


Património de Aveiro no Moliceiro

1. (Aceitámos o repto lançado...) Há breves dias ocorreu mais uma oportuníssima tertúlia promovida pela Associação dos Antigos Alunos da Universidade de Aveiro (http://www.aaaua.ua.pt/), entidade atenta na dinâmica da mobilização nas mais variadas áreas de iniciativa, sempre aberta à comunidade em geral tendo como especial referência os antigos alunos da academia aveirense. O local destas iniciativas de periodicidade (sensivelmente) mensal é o Hotel Moliceiro. Um espaço ex-libris da cidade que, numa visão de “hotel como cultura”, acolhe esta habitual linha programática de reflexão e debate sobre assuntos que dizem respeito a todos os cidadãos, quer da cidade e região quer da “aldeia” do mundo actual. Desta vez o tema era «o património aveirense»; e que melhor local para o acolher que um (Hotel) Moliceiro!...
2. Sempre que esta reflexão vem à ribalta juntam-se muitas vozes de zelo cuidadoso a par dos sentimentos de ansiedade sobre o que vai ficando por cuidar. Passado, presente e futuro entrecruzam-se neste reconhecimento admirável aos que “deram a vida” (e em que lutas!) por um património aveirense mais preservado e amado. Mas também se reconhece a continuada carência de elos de ligação potenciadores de uma comunidade que viva, conheça, estude, aprecie e se identifique com o seu património cultural. Dos canais (sempre adiados) da Ria de Aveiro, aos canais das comunicações articuladas e programáticas entre todos os “agentes” ainda paira “ruído” no ar, não chegando um cómodo dizer-se que “estamos disponíveis” como se o futuro se fizesse de uma simples “boa vontade” sem o agarrar determinado dos processos de forma concreta, parceira e objectiva.
3. Até quando as causas do património terão de ser uma “luta”? Não corresponderá ele ao que de melhor temos para viver com qualidade e partilhar com quem nos visita? A história dos que edificaram no tempo entidades como a ADERAV (Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro: http://www.aderav.com.sapo.pt/) mostra-nos que a determinação do “agarrar” a causa salvou Aveiro de “cegueiras” contra o património. Os esforços contemporâneos também são muitos. Alguns, seja sublinhado, como a Rota da Luz, surgem mesmo como plataforma de visibilidade nunca vista para Aveiro. Mas, cá dentro, numa mesma “mesa”, a “rede” poderá despertar as 1001 potencialidades… O primeiro passo é sempre o querer, valorizando o essencial que une a região e suas gentes. Embarcar num mesmo “moliceiro visionário” pode multiplicar caminhos e rentabilizar estratégias. Ninguém que pense a cultura, que “tenha” património e que ame a região pode ficar de fora (do que é público, da sociedade civil ao religioso ou privado). E podem uns ovos-moles ajudar a criar pontes!...
4. Agora só pessoalmente: das coisas que lançam grande interpelação é o facto de em Portugal existirem muitas redes de turismo espanholas a organizar os nossos roteiros do património regional / nacional… Sem palavras, pena. Claro, a nossa menor visão ou o desentendimento são (lhes) um presente caído do céu! (E depois, em Portugal, falta-nos a auto-estima!...)

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Fevereiro , 2008, 18:16
Clicar na imagem para ampliar

Será que alguém duvida da esperteza das aves marinhas? Elas sabem que a traineira leva peixe e do bom. E como a fome aperta...
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Fevereiro , 2008, 11:42


Na pesca do bacalhau

Inaugurado em 1937, o museu situa-se desde 2001 em novas e modernas instalações, desenhadas pelos arquitectos Nuno e José Mateus. Dedica boa parte do seu espaço à relação dos habitantes locais com a água. Duas exposições permanentes evocam dois dos eixos centrais desse tema: a pesca do bacalhau nas águas da Terra Nova (em lugres à vela, de madeira, servindo de base a flotilhas de dóris a remos, tripulados por um só homem) e a faina da ria de Aveiro (pesca e apanha do moliço). Um pólo exterior do museu acolhe o antigo arrastão Santo André, lançado à água em 1948 e que correspondeu à fase seguinte da pesca ao bacalhau, já mecanizada. Este navio-museu inaugurado em Janeiro de 2007 vale bem uma visita: podem ver-se a casa das máquinas, a cozinha e refeitório, os camarotes e até o grande porão do bacalhau.

Museu Marítimo de Ílhavo, Av. Dr. Rocha Madail, Tel. 234 329990
:
Fonte: PÚBLICO de hoje

Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Fevereiro , 2008, 09:27
Não é todos os dias que encontramos homens íntegros no exercí-cio de funções relevantes e mesmo na vida de todos os dias. Sei que os há. Mas na política, área mais visível, embora haja pessoas respeitáveis, são mais, na minha opinião, as que agora dizem uma coisa e amanhã o seu contrário.
Guilherme d’Oliveira Martins é uma personalidade polivalente e multifacetada. É socialista, escritor, foi ministro dos Governos de António Guterres e deputado, é docente universitário, confe-rencista, militante católico, presidente da Centro Nacional de Cultura e Presidenta do Tribunal de Contas.
Fala sobre literatura, história, direito, filosofia, política, arte e religião, entre outros assuntos, sempre com elevação. Já Eduardo Prado Coelho, que o admirava, sublinhava a sua cultura global. Quando foi nomeado para o Tribunal de Contas, logo surgiram vozes de protesto pelo facto de ele ser socialista. Que iria pactuar com o Governo, era o mínimo que dele se esperava. Mas esses arautos da desgraça, que vêem nos outros aquilo que são, enganaram-se.
Guilherme d’Oliveira Martins, como pessoa honesta, não perdeu tempo com esses críticos. E uma vez no Tribunal, começou a exercer as suas funções com a independência que o caracteriza. Na sequência de outras decisões, em que reprovou contas do Governo de José Sócrates, também o Tribunal a que preside não deu luz verde a um empréstimo que a Câmara Municipal de Lisboa queria contrair para pagar dívidas. Choveram os protestos. Mas Guilherme d’Oliveira Martins já respondeu que se limitava a cumprir a lei. E disse mais: se não concordam com ela, os legisladores que a alterem.

FM
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Fevereiro , 2008, 08:31


Deixei a floresta de cimento
que me incomodava
e fugi para o mar
que ali perto bramia
e me desafiava
com seu rugido
cadenciado

Senti que o frio do cimento se foi
paulatinamente

Veio então o calor das águas revoltas
que batiam forte
contra as pedras sofredoras

E com o bater do mar e o sofrer das pedras
fiquei tranquilo
e feliz
a ver passar o tempo

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Fevereiro , 2008, 08:07

Esta é a pergunta decisiva. De facto, se não somos livres, o que se chama dignidade humana pode ser uma convenção, mas não tem fundamento real.
Mas quem nunca foi assaltado pela pergunta: a minha vida teria podido ser diferente? Para sabê-lo cientificamente, seria preciso o que não é possível: repetir a vida exactamente nas mesmas circunstâncias. Só assim se verificaria se as "escolhas" se repetiam nos mesmos termos ou não.
Não há dúvida de que a liberdade humana é condicionada. Mas ela existe ou é uma ilusão? Não vêm agora neurocientistas dizer que, mediante dados da tomografia de emissão de positrões e da ressonância magnética nuclear funcional, se mostra que afinal as nossas decisões são dirigidas por processos neuronais inconscientes?
De qualquer modo, em 2004, destacados neurocientistas também tornaram público um "Manifesto sobre o presente e o futuro da investigação do cérebro" - cito Hans Küng, no seu Der Anfang aller Dinge (O princípio de todas as coisas) -, revelando-se prudentes no que toca às "grandes perguntas": "Como surgem a consciência e a vivência do eu?
Como se entrelaçam a acção racional e a acção emocional? Que valor se deve conceder à ideia de 'livre arbítrio'? Colocar já hoje as grandes perguntas das neurociências é legítimo, mas pensar que terão resposta nos próximos dez anos é muito pouco realista." É preciso continuar as investigações, no sentido de perceber o nexo entre a mente e o cérebro. "Mas nenhum progresso terminará num triunfo do reducionismo neuronal. Mesmo que alguma vez chegássemos a explicar a totalidade dos processos neuronais subjacentes à simpatia que o ser humano pode sentir pelos seus congéneres, ao seu enamoramento e à sua responsabilidade moral, a autonomia da 'perspectiva interna' permaneceria intacta. Pois também uma fuga de Bach não perde nada do seu fascínio, quando se compreende com exactidão como está construída."
A liberdade não é desvinculável da experiência subjectiva, da "perspectiva interna". Essa experiência é transcendental, no sentido de que se afirma até na sua negação. De facto, se tudo se movesse no quadro do determinismo total, como surgiria o debate sobre a liberdade?
Essa experiência coloca-se concretamente no campo da moral e da responsabilidade. Neste contexto, há um célebre exercício mental de Kant na Crítica da Razão Prática, que é elucidativo e obriga a pensar. Suponhamos que alguém, sob pena de morte imediata, se vê confrontado com a ordem de levantar um falso testemunho contra uma pessoa que sabe ser inocente. Nessas circunstâncias e por muito grande que seja o seu amor à vida, pensará que é possível resistir. "Talvez não se atreva a assegurar que assim faria, no caso de isso realmente acontecer; mas não terá outro remédio senão aceitar sem hesitações que tem essa possibilidade." Existem as duas possibilidades: resistir ou não. "Julga, portanto, que é capaz de fazer algo, pois é consciente de que deve moralmente fazê-lo e, desse modo, descobre em si a liberdade que, sem a lei moral, lhe teria passado despercebida."
O que confunde frequentemente o debate é a falta de esclarecimento quanto ao que é realmente a liberdade. Ela é a não submissão à necessidade coactiva, externa e interna, mas não pode, por outro lado, ser confundida com a arbitrariedade e a pura espontaneidade - não implica a espontaneidade a necessidade?
A liberdade radica na experiência originária do Homem como dom para si mesmo.
Paradoxalmente, é na abertura a tudo, portanto, no horizonte da totalidade do ser, que ele vem a si mesmo como eu único e senhor de si. Então, agir livremente é a capacidade de erguer-se acima dos próprios interesses, para pôr-se no lugar do outro e agir racionalmente.
É preciso distinguir entre causas e razões. Quando se age sob uma causalidade constringente, não há liberdade. Ser livre é propor-se ideais, deliberar e agir segundo razões e argumentos, impondo limites aos impulsos, inclinações e desejos, o que mostra que o Homem pode ser senhor dos seus actos e, assim, responsável, isto é, responder por eles.

Anselmo Borges
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 23 Fevereiro , 2008, 07:21
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A Conversa Aberta do Fórum::UniverSal vai ter como convidado o antigo Presidente da Assembleia da República, Barbosa de Melo. O tema, "Os (esc)olhos da Justiça, é por demais oportuno. Será no CUFC, no dia 5 de Março, pelas 21 horas. A entrada é livre.
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