de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 06 Dezembro , 2007, 17:44



Novas Sendas, no terreno…


1. Precisamos cada vez mais de apreciar e valorizar aqueles projectos que antecipam o futuro, pelo colocar em rede a sociedade integrando a diversidade das comunidades. Quando não, por vezes, só ao nos deparamos com os problemas das crispadas intolerâncias que facilmente enchem os noticiários, nessa hora, então discursamos sobre o que fazer em ordem a uma coexistência social na diversidade de razões, culturas, formas de ser e pensar…em ordem a um desenvolvimento assente na dignidade da pessoa humana. Que bom seria que, numa sensibilidade social (desejada de forma sempre maior), fosse enaltecida a consistência de projectos (que são vida) que no silêncio de todos os dias procuram semear os valores da paz, do sentido do outro e da educação (a chave do futuro).
2. O Projecto Novas Sendas (promovido pela Cáritas Diocesana de Aveiro e com o apoio parceiro de inúmeras entidades da região, de autarquias até às áreas de saúde, educação-formação, segurança social, emprego, pastoral) representa este sinal da cooperação entre todos em ordem a uma integração social positiva e estimulante da diversidade. Derivando de anterior projecto “Senda Gitana”, este “Novas Sendas” nasceu em Fevereiro de 2005, chegando ao (final no) presente como um rasto de luz para a população de etnia cigana dos três bairros do Lugar de Ervideiros (Quinta do Simão). Uma esperança se vai confirmando ao observarmos as crianças a quererem a Escola e os seus Pais a considerarem como importante a convivência e a formação…
3. Deste esforço de anos, um eco de co-responsabilidade social vai dizendo que o projecto não pode parar. Chega-se, sim, ao final de uma etapa, pois parar seria o risco de deitar a perder este esforço intercultural de anos. Não é nem foram teorias, foi a vida no “terreno” (como tanto sublinha a coordenação), no procurar semear nas famílias o ideal de que uma sempre mais saudável forma de viver é possível e desejável. Um caminho feito numa ténue e por vezes surpreendente fronteira, entre o respeito cultural e a dignidade das pessoas. Visionário projecto que transforma as mentalidades de uns e outros, a ponto de não se ficar à espera dos problemas para obter soluções. Se é certo que as dificuldades sempre persistem, a procura antecipada de soluções comprometidas e alargadas confirma que, também nesta área, Aveiro vai abrindo as portas do futuro.
4. Uma realização dinâmica, em que também a “imagem social” das comunidades diferentes vai mudando (embora lenta), nesta aprendizagem inclusiva da cultura do outro e numa convergência recíproca, tendo como horizonte a dignificação da pessoa humana. Assim continue, cada vez mais, sempre ensinando a “pescar”. No “terreno”, dando e recebendo, estimulando esses “outros” que graças ao “projecto” são hoje mais próximos, esses que também somos nós. Se assim não for, adiaremos o futuro.

Alexandre Cruz

Foto: Crianças do projecto "Novas sendas", do meu arquivo


Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 06 Dezembro , 2007, 12:36

NATAL
:
Um anjo imaginado,
Um anjo dialéctico, actual,
Ergueu a mão e disse: — É noite de Natal,
Paz à imaginação!
E todo o ritual
Que antecede o milagre habitual
Perdeu a exaltação.

Em vez de excelsos hinos de confiança
No mistério divino,
E de mirra, e de incenso e oiro
Derramados

No presépio vazio,
Duas perguntas brancas, regeladas
Como a neve que cai,
E breves como o vento
Que entra por uma fresta, quezilento,
Redemoinha e sai:


À volta da lareira
Quantas almas se aquecem
Fraternamente?
Quantas desejam que o Menino venha
Ouvir humanamente
O lancinante crepitar da lenha?

Miguel Torga

In “POESIA COMPLETA”
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 06 Dezembro , 2007, 11:33


FESTA DAS CRUZES OU DO ABRAÇO

Caríssima/o:


“Por fim, em Guardão (Vila do Caramulo), Festa das Cruzes ou do Abraço (quinta-feira da Ascensão) com bênção dos campos (ritual propiciatória da abundância). Há quem lhe chame Festa das Ladainhas com o abraço das cruzes (processionais) de vários povos em redor, cerimonial ligado à lenda de batalha dos infiéis e o povo de Guardão festejou com abraços depois da vitória. “
Assim podíamos começar a conversa que pessoa amiga puxou e toda ela está envolvida em lenda. Mas afinal onde fica Guardão?

«Freguesia do concelho de Tondela e do distrito de Viseu, possui uma área de 18.700 km2.
Enquadrada pela Serra do Caramulo, dista cerca de 20 km da sede concelhia e abrange as seguintes povoações: Cadraço, Carvalhinho, Caselho, Ceidão, Guardão de Cima, Guardão de Baixo, Janardo, Jueus, Laceiras, Caramulo, Pedrógão.
A antiguidade da povoação, anterior à fundação da Nacionalidade Portuguesa, é comprovada pelo Castro de São Bartolomeu, situado num cabeço a 631 metros de altitude, onde se encontram inúmeros vestígios de outras épocas, como cerâmicas ou moedas medievais, cuja origem se desconhece, mas que facilmente se poderá ligar à existência de uma feira na região, desde o período de formação de Portugal.
Pensa-se que Guardão constituiria um dos extremos da "civitas" romana.»

Afinal como se processa o “abraço”?

«Enfeitadas com ouro, laços e flores, as cruzes saem em procissão das respectivas Capelas, levando na frente o pendão da freguesia. Encontram-se todas no adro da Capela de São Bartolomeu, seguindo os cortejos, depois, um por um, para a Igreja de Nª Sª dos Milagres.
Pelas dez horas da manhã, chegam as primeiras cruzes, as de Santiago, depois as de Santa Eulália e, por fim, as de Castelões.
À chegada das primeiras cruzes, anunciadas pelo tocar do sino, saem da Igreja Matriz as cruzes de Guardão, dirigindo-se para o largo, junto do cruzeiro, de modo a receberem aí os primeiros cruciferários. À medida que vai chegando cada um dos cortejos, cumpre-se o ritual do “tocar das cruzes”, até que, no final se unem todas “como num abraço”.

Este cerimonial que se realiza, segundo a população, há mais de mil anos, pretende recordar e homenagear o abraço dado pelos habitantes aos soldados que ali, um dia, lutaram contra os Mouros, expulsando-os, definitivamente, daquela região.»


Um tanto longe do tempo, entremos no espírito deste abraço e brindemos com o povo!

Manuel

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 06 Dezembro , 2007, 11:25

SEM DILEMAS, COM REALISMOS

1. A complexidade da vida em sociedade democrática faz com que os dilemas que, de quando em quando se vão levantando, sejam ineficientes em ordem a um sempre maior desenvolvimento futuro. Dilemas como “público ou privado”, “tecnologias ou filosofias”, “igrejas ou estados”, “máquinas ou pessoas”, quando ainda tornados presentes espelham uma visão parcelar (quando não mesmo radical) da realidade que é bem mais abrangente que qualquer esquema predefinido. Quando se quer considerar a realidade como se ela fosse “preta ou branca” estamos diante de uma visão pragmática e tecnocrática que se fica pela rama… O tempo histórico dos dilemas na abordagem social, como se esta pudesse ser vista numa linha instrumental, teve a sua época e quando ainda brilham reflexos desta forma de pensar será porque as bases de uma memória aberta e consciente andam pela rama.
2. A própria história, na sua construção (dialéctica) em crescendo é mesmo assim, e tantas vezes as querelas culturais entre os conservadores do passado e os progressistas do “amanhã” ocuparam demasiado espaço, como se a história das pessoas em sociedade fosse algo desgarrado da vida simples e concreta e não tivesse a capacidade razoável de ser receptora dos impulsos renovadores. (Por vezes assim foi!) Um desses momentos marcantes, que valerá a pena recordar, de tensão entre o passado e o futuro foi a famosa crise cultural francesa dos fins do séc. XVII, a designada de “Querela dos Antigos e dos Modernos” (1687-1715); uma “guerra” cultural na viragem do século e no fim de uma época. Dizem os estudiosos que este tempo, em muito, preparou as ideias futuras, mesmo nas ciências das sociais e psicologias.
3. Sendo certo que os tempos de mudança acelerada (como a globalização presente) desafiam grandemente à consistência dos valores essenciais, verificamos que diante das tensões e fragmentações sociais ganha essencial importância o equilíbrio de pontes entre o passado e o futuro. A mudança (silenciosa) de paradigmas em andamento que vão transformando as concepções de Família, Escola, Religião, Estado, Comunicação (on-line)… precisam de novas pontes de entendimento e não de dilemas que separam toda a densidade da realidade, hoje em “rede”. Neste procurado equilíbrio, não há fórmulas, na certeza de que o futuro daqui a uma década será muitíssimo diferente do passado de há dez anos. Basta ouvir os sentimentos que pairam nas “ruas” do mundo para que a apreensão se transforme em pontes de realismo para um saudável futuro. Na obra “As Chaves para o séc. XXI” (com a UNESCO, 2000), sublinha-se que este não pode ser um monólogo tecnológico, mas de diálogo entre as pessoas. Aqui todos os instrumentos podem ajudar, mas tudo depende, cada vez mais, dos valores realistas dos utilizadores. Afinal, sempre assim foi!

Alexandre Cruz

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