A CIMEIRA
1. Aproxima-se a “hora” da Cimeira Europa-África. Depois de longa preparação e expectativa sobre as presenças e ausências, dos que ficam em hotéis ou em tendas, dos que tomam as refeições oficiais ou trazem as suas cozinhas, eis que finalmente, no próximo fim-de-semana realiza-se, sob a coordenação da presidência portuguesa da UA, a tão desejada Cimeira Europa-África. Para Portugal é importante que corra bem. Para os países europeus é o “regresso” geopolítico a África. Para África é a presença diplomática como um “mostrar-se” na estabilidade para consolidação de parcerias socioeconómicas. Para além deste pró-forma haverá oportunidade para agarrar a fundo as questões fundamentais de um mundo desequilibrado em desigualdades gritantes? Que frutos para o futuro serão expectáveis de tão grandioso encontro?
2. Desde já, uma conta parece estar garantida. A Cimeira, acima do previsto, custará ao Estado (aos contribuintes portugueses) dez milhões de Euros. Pelo valor garantido muito se tem mesmo de esperar de um fim-de-semana tão pesado que, mesmo assim, conta com quatro ausências dos 27 europeus (Reino Unido, República Checa, Eslováquia, Lituânia). Não faltará o champanhe, como há dias no brinde da presidência chinesa com o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro de Portugal; direitos humanos, depois! Também o próprio ditador Mugabe do Zimbabwé beberá duas taças, a dele e a da ausência de Gordon Brown; direitos humanos, a ver vamos. Tudo preparado, num cumprir de calendário onde alguns desafios estão em agenda.
3. Paz e segurança; desenvolvimento; democracia; energia; migrações e alterações climáticas; direitos humanos; Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Em perspectiva oito parcerias estratégicas entre a União Europeia e a União Africana, também num forte apelo às sociedades civis africanas. Da parte africana, das 53 presenças possíveis, estarão em Lisboa 46 ou 47 chefes de Estado. É importante que tudo corra bem, especialmente para Portugal. A diplomacia da presidência portuguesa já considera “histórico” o acontecimento (Diário de Notícias, 4 Dez.). Já?! Será por se esperarem poucos frutos concretos ou tudo já estará predefinido? Então, Cimeira para quê? Ou não haverá (sequer algum) significativo discurso directo? Estará a diplomacia do gabinete a fechar o diálogo político vivo?
4. Tudo com chefes de Estado…Não haverá para além destes quem dê eco das sociedades concretas? Que nova conjugação possível entre diplomacia política e verdade social? Tantas vezes não se chegam a soluções, também porque os chefes de Estado vivem longe dos problemas.
Alexandre Cruz