de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Dezembro , 2007, 18:18


A CIMEIRA

1. Aproxima-se a “hora” da Cimeira Europa-África. Depois de longa preparação e expectativa sobre as presenças e ausências, dos que ficam em hotéis ou em tendas, dos que tomam as refeições oficiais ou trazem as suas cozinhas, eis que finalmente, no próximo fim-de-semana realiza-se, sob a coordenação da presidência portuguesa da UA, a tão desejada Cimeira Europa-África. Para Portugal é importante que corra bem. Para os países europeus é o “regresso” geopolítico a África. Para África é a presença diplomática como um “mostrar-se” na estabilidade para consolidação de parcerias socioeconómicas. Para além deste pró-forma haverá oportunidade para agarrar a fundo as questões fundamentais de um mundo desequilibrado em desigualdades gritantes? Que frutos para o futuro serão expectáveis de tão grandioso encontro?
2. Desde já, uma conta parece estar garantida. A Cimeira, acima do previsto, custará ao Estado (aos contribuintes portugueses) dez milhões de Euros. Pelo valor garantido muito se tem mesmo de esperar de um fim-de-semana tão pesado que, mesmo assim, conta com quatro ausências dos 27 europeus (Reino Unido, República Checa, Eslováquia, Lituânia). Não faltará o champanhe, como há dias no brinde da presidência chinesa com o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro de Portugal; direitos humanos, depois! Também o próprio ditador Mugabe do Zimbabwé beberá duas taças, a dele e a da ausência de Gordon Brown; direitos humanos, a ver vamos. Tudo preparado, num cumprir de calendário onde alguns desafios estão em agenda.
3. Paz e segurança; desenvolvimento; democracia; energia; migrações e alterações climáticas; direitos humanos; Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Em perspectiva oito parcerias estratégicas entre a União Europeia e a União Africana, também num forte apelo às sociedades civis africanas. Da parte africana, das 53 presenças possíveis, estarão em Lisboa 46 ou 47 chefes de Estado. É importante que tudo corra bem, especialmente para Portugal. A diplomacia da presidência portuguesa já considera “histórico” o acontecimento (Diário de Notícias, 4 Dez.). Já?! Será por se esperarem poucos frutos concretos ou tudo já estará predefinido? Então, Cimeira para quê? Ou não haverá (sequer algum) significativo discurso directo? Estará a diplomacia do gabinete a fechar o diálogo político vivo?
4. Tudo com chefes de Estado…Não haverá para além destes quem dê eco das sociedades concretas? Que nova conjugação possível entre diplomacia política e verdade social? Tantas vezes não se chegam a soluções, também porque os chefes de Estado vivem longe dos problemas.

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Dezembro , 2007, 17:32

MAIS DE 300 PROFESSORES
E FUNCIONÁRIOS AGREDIDOS


Algo vai mal nas escolas portuguesas. Quando mais de 300 professores e funcionários são agredidos no ano lectivo de 2006/2007, temos de reconhecer que o mundo da educação e da aprendizagem tem um longo caminho a percorrer para se tornar num mundo onde o respeito por quem aprende e por quem ensina e educa é norma que todos aceitam e cumprem.
Confesso que acho estranho reconhecer-se que, nas escolas portuguesas, a violência, mesmo circunscrita a certas zonas, é uma situação sem solução à vista a curto prazo. Os professores e demais educadores precisam, mesmo, não de guardas, mas de condições que permitam uma educação integral dos alunos, com apoios altamente qualificados. Os improvisos e as soluções de remedeio não levam a parte nenhuma.
Urge, de facto, estudar-se o problema, até porque, creio eu, não faltarão estudos, técnicas e gente qualificada para enquadrar os violentos e os mal-educados num clima propício à educação. As crianças não precisam de ser enjauladas para serem educadas. Mas precisam, isso sim, de acompanhamento adequado na hora certa.

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Dezembro , 2007, 16:58




Gafanhão que se preze não passa sem navios. E se não puder navegar, não resiste a passar por onde eles estão, como que a descansar das labutas no mar alto. Nos portos de pesca, na Gafanha da Nazaré, há sempre navios à espera que os gafanhões, e não só, os apreciem. Ontem por lá andei a contemplar estes bravos que, com homens valentes, enfretam, por vezes, a brutalidade das ondas marinhas. Mas também pensei no que foi a frota portuguesa antes da entrada na UE. A mais importante e mais dinâmica do País ancorava na Gafanha da Nazaré. Agora... é melhor pensar que um dia ela poderá regressar.





Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Dezembro , 2007, 15:13


Começou pela caridade, passa pela esperança e tudo leva a crer que nos conduzirá proximamente à fé. Bento XVI, na sua segunda Carta ao Povo Cristão. Que, como "encíclica" se destina a circular pelas comunidades para ser lida como uma epístola de Paulo ou de Pedro aos cristãos dispersos por diversas igrejas.
Tal como Paulo fazia, conhecedor da realidade e da missão da Igreja, Bento XVI fala a este tempo a partir do olhar sobre os acontecimentos convertidos em sinais que precisam ser lidos com a iluminação da fé. E parece-nos de facto muitas vezes que o homem de hoje anda um pouco perturbado com os sinais preponderantes ou que mais se impõem nas narrativas de palavras e imagens que constituem sempre referência aos caminhos por onde andamos. E pode dizer-se que estes tempos não são, para muitos, timbrados de esperança. Há uma série de esforços e promessas em muitos terrenos que parecem ter fracassado. A fome ainda habita o nosso mundo e o nosso país nas suas múltiplas formas. Os acordos e tratados, convenções e cimeiras parecem sugerir-nos um novo tempo de paz parecido com o sonhado por Isaías. Mas os tropeços são constantes e a paz perde-se outra vez no horizonte, como ponto minúsculo e inalcançável. E por aí adiante.
É neste contexto que a esperança ganha uma especial dimensão e oportunidade. Tal como a fé, sua parente íntima que não se define pelo somatório de razões lógicas ou filosóficas, a esperança não brota como instinto de saída de emergência para as crises, ou dum optimismo barato que só vê meia face do globo, como se a noite não existisse. É nesse complexo de luz e sombra que a esperança brota. Com algo desconhecido: "esse desconhecido - diz o Papa - é a verdadeira "esperança" que nos impele e o facto de nos ser desconhecida é, ao mesmo tempo, a causa de todas as ansiedades como também de todos os impulsos positivos ou destruidores, para o mundo autêntico e o ser humano verdadeiro."
Tudo isto tem a ver com Deus. A esperança é sobrenatural. Mas o problema é que muitos crentes, mesmo cristãos, em matéria de esperança, ainda que com muita fé, não vêem mais longe que os pagãos porque se refugiam nos seus próprios becos. É a novidade dum horizonte desenhado pela redenção de Jesus que importa proclamar ao mundo de hoje para que se não aprisione nos próprios instrumentos de redenção.
Mesmo com alguns acentos técnicos e teológicos mais áridos, esta carta de Bento XVI clarifica o momento que vivemos e o grande depois que é a eternidade. Com a esperança colocada de permeio. E algumas propostas concretas de celebrar a vida e a morte e o além, na esperança… onde somos salvos. Por isso é tão importante pedir a Deus a esperança. Como pedir o pão de cada dia.

António Rego

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