de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 03 Novembro , 2007, 20:29
O HOMEM É REI
DE QUASE TUDO
NA NOSSA SOCIEDADE


Não sei se sabem, mas hoje celebra-se o Dia Mundial do Homem, segundo reza a minha agenda. Confesso que não sabia de tal celebração. Mas se há dias para quase tudo e todos, nome-adamente, da Mulher, da Criança, da Mãe, do Pai, dos Avós, também fica bem celebrar o Dia do Homem. Não que ele precise, assim tanto, na nossa soci-edade, que se fale dele, que do homem se fala sempre e a toda a hora, ou não fosse ele o rei de tanta coisa, na política, no desporto, nas religiões, nas empresas, etc... etc, mas porque haverá, e há de certeza, homens muito esquecidos e até menosprezados. Por isso, valerá a pena falar do homem.
Eu disse que na nossa sociedade o homem ainda é rei de quase tudo... tal como nas sociedades árabes. Mas noutras civilizações, noutras culturas, estou em crer que os homens precisam de quem deles se lembre, para que haja mais justiça, mais respeito pelos direitos do ser humano, onde o homem deve estar em pé de igualdade com a mulher, pese embora as diferenças a tantos níveis que os distinguem e os tornam complementares.
Aqui fica, então, recordado o Dia Mundial do Homem, numa perspectiva de todos lutarmos pela dignificação do homem e da mulher neste mundo pautado por tantas injustiças. Afinal, os dias celebrativos servem tão-só para isso, isto é, para que recordemos, no dia próprio, quem se pretende enaltecer.

FM
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 03 Novembro , 2007, 20:09
A cena ocorre em Jericó, cidade relativamente rica e próxima de Jerusalém. Jesus com o seu grupo está de passagem. O comentário corre veloz, dando origem a um certo alvoroço popular. A curiosidade apodera-se dos habitantes. Querem ver o acontecimento. Também Zaqueu, homem rico e influente, se sente “tocado” e não resiste: corre para ganhar distância, sobe a uma árvore, observa a movimentação dos caminhantes e fixa-se, sobretudo, em Jesus de Nazaré. Há nele um impulso irresistível: A curiosidade faz-se expectativa e esta abre horizontes à esperança.
Jesus acompanha os movimentos de Zaqueu e capta os seus sentimentos. Por isso toma uma iniciativa ousada e faz-se seu convidado. Quer ficar em sua casa, ser seu hóspede, sentar-se à sua mesa, partilhar a sua intimidade, acolher as suas preocupações. E fá-lo com tal mestria que o diálogo provoca uma alteração completa na vida do chefe dos publicanos da cidade.
Zaqueu, dando largas à sua alegria, põe-se de pé e, com a maior das simplicidades, abre o coração e exclama: Vou redistribuir os meus bens. Aos pobres darei metade do que possuo e, a quem defraudei, restituirei quatro vezes mais. Jesus aprova decisão tão generosa e garante, com notável firmeza, que a salvação havia entrado em casa de Zaqueu.
A sobriedade deste episódio oferece-nos a riqueza do seu sentido, constituindo uma espécie de “portal” onde se visualiza uma compreensão integral do ser humano e das suas múltiplas relações. Dela resulta uma antropologia que dá consistência e abre horizontes às antropologias de todos os tempos, sobretudo actuais.
O ser humano é “habitado” por uma apetência divina e sente-se chamado a ir ao seu encontro, a buscá-la sem temer comentários nem reacções caricatas. Não lhe basta a satisfação efémera, ainda que necessária. Anseia sempre mais. A medida do seu coração é a da Infinito que, em Jesus de Nazaré, se revela em plenitude. É a Ele que se entrega em aliança de amor que, na terra, se celebra em gestos e sinais, e na eternidade se contempla e vive sem qualquer restrição.
A esta luz, como são redutoras as perspectivas de correntes culturais como o relativismo, o subjectivismo, o materialismo, o hedonismo.
Do encontro com Jesus, Zaqueu apreende uma nova dimensão da vida. Ele não se isola nem contemporiza com atitudes egoístas. Abre-se aos outros, considerados na sua dignidade. Revê comportamentos incorrectos. Não se fica pelo cumprimento da lei. Os outros são pessoas como ele. Reconhece os direitos do pobre e quer respeitá-los.
Este reconhecimento é fundamental para a segurança do nosso crescimento pessoal e para a humanidade da nossa convivência. Sem ele, somos sempre estranhos uns aos outros e tendemos para a inevitável desconsideração das capacidades alheias. O reconhecimento é a afirmação valorativa da nossa comum humanidade e da urgência de implementar atitudes pessoais, regras sociais e medidas legislativas adequadas.
O portal de Zaqueu faz convergir toda a narrativa para a função dos bens: o modo como são adquiridos, administrados e consumidos; a rede de distribuição e de comercialização; os preços e as margens de lucro; enfim, a economia “pura e dura”. Sem bens suficientes, não há possibilidades de atender às necessidades humanas fundamentais de todos e de cada um. Sem produção, não pode haver distribuição. Sem trabalho para todos, não é legítimo acumular empregos. A partilha, antes de ser uma forma de escoar as sobras, tem de proporcionar o acesso pelo emprego ao “banco do trabalho”, às actividades socialmente úteis, às iniciativas de que necessita todo o ser humano e o realiza, embora não sejam remuneradas. Esta visão evangélica, embora apenas esboçada, constitui uma autêntica novidade na área económica e pode contribuir imenso para humanizar as relações comerciais hegemónicas.
Visto do portal de Zaqueu, o nosso mundo pode ser mais humano com o reforço do Evangelho.

Georgino Rocha

Editado por Fernando Martins | Sábado, 03 Novembro , 2007, 09:33
Neste domínio, há um pudor que nos habita. Peço, pois, a compreensão benevolente do leitor.
Quando os meus pais morreram, olhei - era o fim de um mundo! - e constatei que o que deles restava não eram eles e lembrei-me daquela pergunta lancinante que Tolstoi coloca na boca de Ivan Ilitch moribundo: onde é que eu estarei, quando cá já não estiver?
Sempre que passo pela terra que me viu nascer, faço uma visita ao cemitério e, ali, diante dos seus túmulos, ouço as palavras do anjo às mulheres diante do túmulo de Jesus : "Não está aqui!"
Diante da morte, fazemos a experiência do mistério pura e simplesmente. A morte é o absoluto, sem relação. O absoluto tem uma dupla face: a morte e Deus. Daí, tudo quanto dizemos sobre a morte e sobre Deus sentirmo-lo como nada que nos convoca para o silêncio, segundo o preceito de Wittgenstein: "Sobre aquilo de que se não pode falar deve-se calar."
Para onde vão os mortos? O que é morrer e o que é a morte? Depois, o quê?
Impressionou-me em extremo a declaração do teólogo J. I. González Faus sobre o pai, que lhe transmitiu a fé e que considera "uma grande personalidade": "Terminou a sua vida derrotado e duvidando de Deus como quase todos os humanos."
A morte e o seu depois constituem para nós uma tenaz: impensáveis que nos obrigam a pensar. Impensável que tudo acabe como impensável qualquer depois. Lá está Pascal: "Incompreensível que Deus exista, e incompreensível que não exista; que a alma seja com o corpo, que não tenhamos alma; que o mundo seja criado, que o não seja, etc."
O filósofo ateu E. Bloch é modelar nestas perplexidades. A mim perguntou-me ironicamente onde é que meteria tantos milhares de milhões de seres humanos, se houvesse ressurreição dos mortos. Um dia, em Viena, disse que, se houvesse ressurreição, as galinhas estoirariam a rir. Mas, na juventude, admitiu a reencarnação. Na maturidade, teorizou sobre "o núcleo do Humanum extraterritorial à morte".
Bloch casou com Else von Stritzky, uma cristã de Riga, e a relação que entre os dois cresceu foi a de um amor como há poucos. Ela morreu jovem, e o filósofo foi fixando no Diário a sua dor, aliviada pela esperança do reencontro "do Outro Lado" (Drüben), "no Além" (Jenseits).
O teólogo J. Moltmann contou-me que, poucos dias antes da morte, lhe perguntou como reagia a esse desafio, tendo ele respondido: "Estou curioso" - note-se, porém, a força da palavra alemã "neugierig", com o sentido de ansioso por novidades. Moltmann também escreveu que "na véspera de morrer, ao entardecer, ele escutou mais uma vez a sua música mais querida, a abertura de Fidelio, de Beethoven, com o sinal das trombetas para a libertação dos cativos no final". Essa passagem, que associava à Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, 13, 16: "Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá dos céus e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro", sempre o comovera. É que, como escreveu, "em Beethoven, pré-anuncia-se a chegada de um Messias. Erguem-se desde as masmorras sons de liberdade e de recordação utópica. O grande momento chegou, a estrela da esperança cumprida no aqui e agora".
Depois da morte, é a eternidade: a eternidade do nada ou eternidade de Deus. Mas não se tratará da dupla face da mesma eternidade, como diriam, no limite, os místicos? Não será a pergunta - para onde foram os mortos?, onde estão os mortos? - que é mal formulada? Porque os mortos não foram nem estão: a pessoa dos mortos é.
Por mim, nos dias 1 e 2 de Novembro - os dias em que as nossas sociedades científico-técnicas, que fizeram da morte tabu, permitem a visita dos mortos -, coloco um CD com o Requiem Alemão de Brahms e outro com o Requiem de Mozart no leitor de CD, em homenagem aos meus pais, amigos e todos os mortos - poderão ser uns cem mil milhões. A música diz-nos o indizível: o que é existir simultaneamente no tempo e fora dele.
In Diário de Notícias de hoje
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Editado por Fernando Martins | Sábado, 03 Novembro , 2007, 09:17


Onde há ódio, que eu leve o Amor;
Onde há ofensa, que eu leve o Perdão;
Onde há discórdia, que eu leve a União;
Onde há dúvida, que eu leve a Fé.

Onde há erro, que eu leve a Verdade;
Onde há desespero, que eu leve a Esperança;
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria;
Onde há trevas, que eu leve a Luz.

Oh Mestre, fazei que eu procure menos
Ser consolado do que consolar;
Ser compreendido do que compreender;
Ser amado do que amar.

Porque é dando que se recebe;
É perdoando que se é perdoado;
É morrendo que se ressuscita
Para a Vida Eterna.


Liturgia das Horas,
na Hora Intermédia de hoje

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