de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 06 Outubro , 2007, 10:45

A TERRA DO ANJO

Caríssima/o:
Falamos nós de JOC…
Pois bem, a Gafanha ficou certamente nos anais desse movimento já que vários de nós fomos responsáveis a nível da Diocese de Aveiro. Para além de outras funções, foram presidentes diocesanos: Manuel Eduardo Ribau, António da Rocha Vareta, Manuel Olívio da Rocha, Manuel Fernando da Rocha Martins, João Gandarinho Ramos e João Gandarinho Fidalgo. Na pessoa destes rapazes fica a minha homenagem e a minha saudação amiga a todos aqueles que passaram pela sede da Residência Paroquial e que, para além das nossas brincadeiras de juventude, muito nós fomos ajudando a crescer e, quiçá, a tornarmo-nos mais responsáveis. E passemos hoje pela Terra do Anjo…
Sabem qual é a Terra do Anjo?
Pois vejamos a lenda que nos pode dizer alguma coisa sobre esta questão. Vamos até à margem direita do Vouga, a duas léguas da cidade de Aveiro. Aí, há muitos anos, existia uma pequena aldeia de pescadores que trabalhava nas águas do rio.
E nessa comunidade havia um homem, já entrado na idade que nunca casara e vivia no sofrimento de não ter um filho a quem ensinar a sua arte e fosse a sua companhia no fim da vida.
A lenda não lhe guarda o nome mas regista que se tratava de uma pessoa extremamente devota a Nossa Senhora. Assim, constantemente lhe dirigia orações, por entre as quais lhe pedia um filho, nascesse este de mulher com quem casasse ou criança abandonada. Às vezes, desencantado com a falta de resposta de Nossa Senhora, dirigia as suas palavras ao rio, seu íntimo no quotidiano. E uma manhã, levando o seu barco de um lado para o outro, o pescador viu uma caixotinha a boiar nas águas, e dentro dela chorava uma criança. Doido de contentamento, agradeceu a Nossa Senhora, interrogando-a sobre o que ela queria em troca, naturalmente ela não lhe respondeu.
Assim o rapaz foi crescendo, aprendendo a vida com o velho pescador, que arranjou outro ânimo para encarar a vida. Toda a gente andava admirada com a felicidade daquela nova família! Porém, a partir de determinada altura, uma nuvem cinzenta começou a pairar nos olhos límpidos do rapaz. É que ele queria saber como é que viera ao mundo. Quem era sua mãe? E seu pai? A história, aliás verdadeira, do seu aparecimento nas águas, contada pelo velho pescador, não o consolava. Ele queria ser como os outros. E não conseguia. Num esforço para desanuviar a existência do seu rapaz, o velho pescador do Vouga levou-o com ele à cidade e foi falar com um padre que tinha fama de muito sabedor. Mas há casos em que os saberes não servem para nada. E ao padre apenas lhe serviu certa sabedoria no trato, mandando para casa os dois pescadores, recomendando-lhes que pensassem noutra coisa. Terá também dito que muitas vezes são insondáveis os desígnios do Altíssimo…
Bem, a vida continuou e, um dia, um clamoroso dia, soltou-se uma epidemia que começou a dizimar a população das margens do Vouga. O rapaz, mostrando a generosidade aprendida com o seu velho pai, atendeu aos doentes. Porém, por desgraça, também ele foi apanhado pela terrível doença. Prostrado no leito, a seu lado tinha o velho a lamentar-se de o ver naquele estado, que piorava em cada dia. E o pai voltou-se de novo para Nossa Senhora, implorando-lhe que lhe salvasse o filho. E à voz do ‘valei-me’, entrou no quarto uma mulher envolta em neve, dizendo: ‘Aqui estou’! Era Nossa Senhora das Neves, dizendo que vinha buscar o rapaz para a sua corte de anjos.
Assim como o dera, o levava para um lugar de glória, reservando-lhe a função de anjo da guarda daquela terra. Que terra? Angeja.” [V. M., 5]
E pronto, fiquemos por aqui que a gasolina da motorizada não nos leva mais longe, por hoje!


Manuel


Nota: De terras sem acentos nem cedilhas, veio a colaboração habitual do meu (nosso) amigo Manuel. Espero ter feito as correcções devidas. Se não aconteceu, estarei sempre a tempo de pôr certo o que está mal.

FM

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 04 Outubro , 2007, 17:36

ASAE EM GRANDE

A ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) está em grande momento de intervenção, na defesa dos interesses das populações, ao nível da segurança alimentar e económica. Notícias frequentes dão conta das suas inspecções e consequentes decisões, sem contemplação. Desta feita ousou entrar, e bem, em lugares onde seria normal haver muita higiene. E o que aconteceu? Detectou falhas na higiene em três cantinas e num bar hospitalares. Vejam só! Claro que foram logo encerrados, até se encontrarem em condições legais, isto é, respeitando as normas exigidas para estabelecimentos desta natureza.
Sabe-se agora, conforme revelou o PÚBLICO, que 23 por cento dos Hospitais Públicos só fazem controlo microbiológico da alimentação de três em três meses, o que me parece, a mim leigo, um pouco estranho, já que nos estabelecimentos de Saúde não devem faltar meios para fazer análises com mais frequência.
Penso que estes quatro casos serão uma pequeníssima percentagem dos Hospitais portugueses. Mas serão o suficiente, para, a partir desta intervenção da ASAE, todos começarem a olhar para a higiene que deve existir em toda a parte, em especial nos locais onde se cuida da saúde de muita gente.

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 04 Outubro , 2007, 16:05
VALORES REPUBLICANOS E COLABORAÇÃO NO BEM DE TODOS

Políticos e intelectuais laicos referem-se frequentemente aos valores republicanos para justificar juízos, atitudes e acções, marcados pelo laicismo agnóstico ou na linha de fidelidade a objectivos sociais e políticos de associações laicas, antigas e modernas.
Se por “valor”, seja ele republicano ou monárquico, se continua a entender aquilo que vale sempre e para todos, sem excepção, ainda bem, tanto mais que a sobreposição pública de interesses pessoais e de grupos, vai tornando tudo relativo e a tudo faz perder a consistência de objectivo e de universal. Chega-se à conclusão de que já nada vale, a não ser o que interessa a cada um. Esta erosão atinge também os valores morais e éticos que determinam o viver em sociedade e os comportamentos necessários para uma vivência mútua, serena e construtiva, quem quer que seja que os propõe ou defende.
Normalmente quando se fala de valores republicanos dá-se como matriz a Revolução Francesa, com a proclamação da trilogia que lhe está historicamente associada: igualdade, liberdade fraternidade, não se esquecendo o valor da tolerância.
Os revolucionários não foram inovadores. Viviam na Europa, no seio de uma cultura com raízes cristãs e judaicas e os valores propostos eram património desta cultura, embora as contingências históricas por vezes os ocultassem onde eles deviam ser testemunhados com maior clareza e eloquência. As tensões provocadas pela Revolução, com o ódio programado contra a Igreja, bem como as desconfianças e atitudes negativas desta em relação ao que se proclamou como se fosse novo e sem paternidade e apenas fruto da ideologia reinante, explicam estas tensões e a sua continuação histórica.
Não fora o propósito de apagar a história e fazer dela uma leitura enviesada, e as coisas não tinham tomado o rumo que ainda hoje acoberta, com iguais sentimentos, muita gente por essa Europa fora. A discussão das raízes culturais cristãs da Europa, ainda que não únicas, faz-se a partir de uma leitura liberta e realista da história e nunca terá valor sério quando feita pela pré determinada direcção que se pretendeu impor-lhe. O redactor da proposta de uma constituição europeia, um francês de renome que vai ser aí recebido e homenageado por um bem concebido aparato ideológico, pensa que a Europa moderna se deve encontrar consigo mesma, rejeitando as suas raízes cristãs e explicar-se a si própria à luz dos valores republicanos que lhe dão forma e consistência.
A constituição deixou de o ser e tenta-se agora um simples tratado, que salve a situação e mantenha o mesmo silêncio em relação ao essencial. Esta pobreza, numa tão apregoada cidadania, pôs de parte a verdade histórica e alimenta-se de conveniências políticas e arranjos diplomáticos; vai mutilando as leis que deixaram de se orientar para o bem comum que é a sua razão de ser, para favorecer interesses diversos; vai deteriorando as relações humanas e sociais, europeias e internacionais, cedendo a pressões e a promessas; já não fala dos direitos humanos na sua globalidade e integralidade, porque as pessoas valem hoje menos que os resultados económicos, sempre prioritários e aglutinadores.
Afinal, da igualdade, da liberdade e da fraternidade, bem como da tolerância, menosprezada a matriz cristã que lhes pode dar consistência e sentido de universalidade, pouco pode restar. Ficará daí apenas a bandeira de apoio para os que, caídos no vazio cultural ou na intolerância odienta, mais não fazem do que destruir, por campanhas sem sentido de cidadania ou por perversão desta, tudo o que vai contra os propósitos de um determinado laicismo agnóstico?
A verdadeira laicidade respeita a autonomia e defende a inter-relação e a comunicação construtiva em todos os campos em que as pessoas se situam e sempre a favor destas. Não falta gente sensata que vê que este é o verdadeiro caminho. Dizer que “todos devem ser respeitados” exige o contributo dialogado de todos para que assim seja.
Isso não acontece quando, por falta de respeito às pessoas e ao legítimo pluralismo, se persegue quem sempre as defendeu, deitando mão de mentiras publicadas e de defesa de leis redutoras, impostas sem critérios do melhor bem que se tornam uma afronta dispensável a cidadãos deste país democrático.

António Marcelino
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 04 Outubro , 2007, 13:06

QUEM CONTROLA AS CLAQUES DO FUTEBOL?

É público que uma claque de futebol, os “SUPERDRAGÕES”, está a contas com a Justiça. Problemas de contrabando, segundo a comunicação social, estarão na base de algumas averiguações e detenções. A violência também costuma marcar comportamentos menos correctos nesta claque e noutras, aparentemente gozando da complacência das direcções dos clubes que elas apoiam.
Confesso que tenho alguma dificuldade em compreender certas atitudes demasiado agressivas das claques de futebol. Aprendi que o Desporto, em geral, é uma escola de virtudes e que ganhar, empatar e perder fazem parte do jogo, o qual deve ser, no fundo, uma festa e não uma guerra sem regras nem leis.
O que se vê hoje, em muitos campos de futebol, em especial, é que as claques, normalmente, têm como padrão comportamental a violência gratuita e estúpida, obviamente sem qualquer respeito pelos adversários e pela ética desportiva.
Geram nos campos e fora deles um clima ofensivo das boas normas das relações humanas, sendo conhecido que até pacatos cidadãos, quando integrados numa qualquer claque, perdem as estribeiras, ignoram as mais elementares regras da boa educação e ofendem tudo e todos, em nome dos clubes que apoiam cegamente.
Triste é pois o facto de ver que os dirigentes dos nossos clubes ficam indiferentes a estes desmandos, muitas vezes sem qualquer palavra de condenação perante actos que pessoas de bem têm de condenar.
Que fique claro, contudo, que aceito as claques organizadas, mas também acho que deviam ser estabelecidas regras para a sua existência, enquanto grupos de adeptos que se preparam para incitar os seus clubes. E quem não cumprir, que sofra as respectivas consequências.
Afinal, o desporto não é para sermos mais felizes?

FM
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 04 Outubro , 2007, 12:30

DIA MUNDIAL DOS ANIMAIS

1. Os dias assinalados existem quando para “todos os dias” importa uma renovada tomada de consciência de determinada causa. 4 de Outubro é dia de São Francisco (1881-1226) e, nessa linha de uma unidade de respeitabilidade biouniversal, com “todas as criaturas”, como Francisco gostava de dizer; assim, 4 de Outubro é também o Dia Mundial dos Animais.
2. Que seria das nossas cidades sem uma atenção constante a esta dimensão da protecção dos animais? Será que só damos o devido reconhecimento (queixoso!) e consequente apoio na hora do acidente? Em São Paulo do Brasil, hoje, constata-se o drama de mais de 200 mil cachorros abandonados na cidade. Mas não é só lá longe que o drama existe.
3. No último verão, em Portugal, o abandono de animais atingiu todos os recordes. Por trás desta realidade, mesmo para além da crise económica, continua a persistir um défice de formação cívica que abranja a totalidade das dimensões e das relações das pessoas com a natureza e com as coisas. Ou então, que dizer de quem despeja o cão ou gato para a rua? E ainda, afinal, de quem é a rua pública?!
4. É dramática, e no fundo reflexo de como se sente a vida, a “coisificação” a ponto de que quando apetece (tudo bem!) queremos um cão ou um gato, já quando não apetece (ou custa algo) deita-se fora. É isto mesmo que acontece, e numa mentalidade tal em que a rua comum, em muitos destes gestos (e em mais um verão passado), é esse balde de lixo comum. Que o digam as heróicas pessoas que, contra ventos e marés, e ainda em Portugal sem a devida “protecção”, correm mundos e fundos nesta causa.
5. Ainda: à mudança de mentalidade não caberá a ideia de que é preciso esperar pelo cumprimento dos Direitos Humanos para depois, então, avançarmos pelos Direitos dos Animais (da Europa). Quando assim se pensa, “adiadamente”, nem uma coisa nem outra (sendo pressuposta a hierarquia de verdades). Há hoje uma reconhecida (na teoria) transversalidade que nos diz que todas as causas são iceberg da causa essencial: a ética global dos seres humanos.
6. Neste esforço colectivo, as entidades (sociais, políticas e educativas) só podem agradecer e corresponder eficazmente a quem dá o seu tempo de vida a cuidar de uma problemática de todos: a protecção e qualidade de Vida Animal. Antes que seja mais tarde, porque já o é!

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 03 Outubro , 2007, 16:14

NÃO ACHO BEM NEGOCIAR COM DEUS

“Rezo todos os dias, mas nunca fiz promessas, nem farei, porque Deus não é subornável”

Nicolau Breyner,

In “Tabu”,
revista do semanário “SOL”
:
Nicolau Breyner tem razão. Há muita gente que olha para Deus como se olha para um negociante. Se me deres saúde, vou à missa ao domingo; se eu sarar, farei mais caridade; se me sair o Euromilhões, darei uma boas esmolas às instituições de solidariedade social; se… se… se…
Pois é verdade. Este relacionamento, ou negócio, com Deus dá mostras de que há gente que ainda não descobriu o Deus-Pai que não tem nada de negociante, isto é, não tem nenhuma apetência, julgo eu, para agir em função do que possa receber em troca.
A oração-negócio está muito enraizada entre os crentes, que atiram para plano secundário a oração-adoração, a oração-agradecimento e a oração-petição, esta última sem o triste espírito de promessa de dar qualquer coisa, em troca do que se deseja receber da bondade, que é o próprio Deus. Não vejo mal nenhum em pedir seja o que for a Deus. Mas, de facto, não acho bem negociar com um Pai que tudo nos pode dar, em função do que necessitamos. Se os pais terrenos dão aos filhos o que lhes faz falta, sem que nada lhes seja pedido, muito mais dará Deus-Pai a todos os seus filhos. Até, porventura, àqueles que nem para Ele olham.

FM
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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 03 Outubro , 2007, 15:09

SANTA JOANA
CONTINUA A SUSCITAR INTERESSE

O dia-a-dia traz-me sempre curiosidades. De quando em vez, sinto que há figuras históricas que continuam a suscitar interesse e a provocar estudos. Vejo isso, por exemplo, em estudantes que, na elaboração de teses, optam por personalidades que fazem parte da História Pátria ou mesmo local. Essa opção tem a ver, disso estou convencido, pelo exemplo de vida e pela capacidade de intervenção política, cívica, espiritual ou artística dos escolhidos.
Com alguma frequência, sou questionado, por estudiosos ou académicos, sobre pessoas, muito conhecidas, umas, e menos conhecidas, outras, que tiveram como origem terras aveirenses. De algumas delas nunca tinha ouvido falar. E para ajudar os que me procuram, lá tenho eu que telefonar a quem possa dar uma ajuda. Acabo, então, por ficar a saber um pouco mais de quem fez parte dos alicerces das nossas terras e das nossas gentes.
Santa Joana, por razões óbvias, tem lugar de destaque nestas buscas históricas. Mas há muitos outros que, desconhecidos para muitos, até têm túmulos e monumentos em templos e praças das nossas vilas e cidades.
Ainda bem que as nossas universidades vão despertando nos jovens estes gostos pelo nosso passado comum.

F.M.
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Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 03 Outubro , 2007, 12:51



O ESTADO DO MUNDO

1. Com este título temático “O Estado do Mundo” a Fundação Calouste Gulbenkian levou a efeito um intenso programa internacional e multidisciplinar em Fórum Cultural que percorreu as comemorações dos 50 anos (www.gulbenkian.pt/estadodomundo). Neste mesmo contexto, como encerramento deste ano comemorativo, a Fundação apresenta a Exposição “Um Atlas de Acontecimentos”, uma mostra com a presença de 28 artistas provenientes de variados países e de diversas regiões culturais.
2. A estatura que caracteriza a FCG, na actividade cultural quotidiana, ao longo da viagem cinquentenária, e no levantar (de forma simples) das grandes questões fundamentais do nosso tempo [da política às re(li)giões] é meritória e reconhecida. A temática promovida que percorreu o ano desperta em nós a urgência de que é o mundo que nos preocupa, que o global toca (mais que nunca) o local e por isso há-de ser bem compreendido para nos situarmos neste tempo novo, integrando os seus dinamismos e lendo com espírito crítico as suas ambiguidades.
3. O Estado do Mundo? Sim, e nesta questão hoje poderemos colocar o estado da cidade, da freguesia, da associação, da comunidade, da política, da pessoa, da vida, da dignidade humana. A transversalidade das reflexões hoje tornam-se uma obrigação, e, é um facto, os localismos fechados acabam por asfixiar; todavia, também a abertura a tudo o que vem de novo, ilusória, pode deitar a perder identidades saudáveis, patrimónios, valores culturais. Vivemos, hoje, na fronteira do próprio tempo. Talvez a distracção nos torne desatentos ao que urge debater.
4. Globalização nem deverá significar sedução nem rejeição. Ergue-se nesta novíssima fase histórica global uma premente necessidade, sem absolutismos particularistas, de pensar criticamente a história que todos os dias construímos. Como que sem nos apercebermos, muita da história está a “ser” mais ausência que presença, mais distância que sentido (afecto) de Humanidade, mais virtual que real. Desafios inadiáveis estarão aí, onde teremos de reler os grandes “diálogos” da história humana e neles reaprender a reintegrar, acolher a diferença, aquecer a relação e o afecto. Por contraditório que pareça, nunca se falou tanto de certas matérias fundamentais, mas as mesmas para as quais não temos tempo nem alcance, nem modo. Teremos de repensar (quase) as relações de tudo. Sem dramas, sem “coisas” tecnológicas, como pessoas humanas. Os impulsos das globalizações são assim!

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 02 Outubro , 2007, 15:07

ESTRANHOS MONGES

Mesmo os que não sabem onde fica a Birmânia ou Rangum, se questionam sobre o batalhão de monges fora dos seus mosteiros a serem o alvo principal duma telhuda junta militar que quer correr um país a ferro e a fogo.
Temos de admitir que a esta distância, que não é pouca, não é fácil entender os mecanismos dos jogos militares, manifestantes, agrupamentos jovens e monges, sob o olhar prepotente e assustado de ditadores que tudo mandam mas que andam com medo de tudo perder.
Mas - pergunta-se de novo - no meio de tudo isto, que fazem os monges budistas? Primeiro, não há um budismo apenas, mesmo na Birmânia. Há uma concepção individualista que privilegia a passagem para o nirvana fazendo dos obstáculos ondas de transição. E há uma escola mais empenhada na justiça e na liberdade – lembre-se a corrente Dalai Lama e do seu empenhamento político pela independência do Tibete.
Há um terceiro elemento: uma legitima-ção com a aproximação popular, que faz do budismo um companheiro do povo nas suas expressões espirituais e nos seus empenhamentos comunitários.
A esta distância geográfica, cultural e religiosa, pouco entendemos das notícias que nos chegam dum país humilhado por uma ditadura militar em confronto com uma escola de espiritualidade que nem tem referência a Deus como a generalidade das religiões que conhecemos. No seu aparente distanciamento da realidade para maior libertação interior em relação aos mecanismos do poder, do dinheiro, do consumismo hedonista, os monges da Birmânia vivem nos seus mosteiros com as esmolas do povo, são uma percentagem significativa da população (praticamente não há família que não tenha um filho num mosteiro). Vieram para a rua na hora de defender a liberdade e os direitos dos mais indefesos. Puseram-se na linha da frente de contestação aos militares sem a mais pequena ambição de poder. Com a sua perspectiva de reencarnação não desprezam a vida terrena na esperança do que viverão no futuro. Dir-se-ia que há muitos aspectos coincidentes com um cristianismo encarnado, activo, interveniente, que tanto apela à perfeição pessoal, como à intervenção social na implantação da justiça e no respeito por todos e cada um.
Estamos realmente muito distantes. Não nos revemos nas concepções dos quatrocentos mil monges que povoam os mosteiros da Birmânia. Mas sentimo-nos irmanados em muitos valores humanos que defendem. E não podemos deixar de aprender a forma como ligam contemplação e acção, meditação e compromisso, espiritualidade e empenhamento social. Ou talvez estejamos menos distantes do que nos parece.


António Rego

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 02 Outubro , 2007, 14:53

O ENCANTO DA NOSSA RIA
Hoje de manhã, a caminho de Aveiro, um amigo comentou embevecido: a nossa região é, de facto, muito bonita; aprecie o encanto da nossa ria, com tanta água a envolver-nos por todos os lados! É verdade. Nem sempre sabemos apreciar o que temos de bom. Passamos a vida a criticar tudo e mais alguma coisa, sem assumirmos a coragem de reconhecer o muito de bom que possuímos. Uma das nossas grandes riquezas está na beleza da nossa ria, com todos os dias a mostra-se, com cores e ares diferentes, desafiadora, para que a apreciemos devidamente. Só que, com as pressas, nem sempre a olhamos com olhos de ver.

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 02 Outubro , 2007, 12:51
SINAIS DE TOTALITARISMO

Há quase cem anos, Afonso Costa disse que ia acabar com a religião católica em Portugal. Enganou-se. O que acabou foi a I República, em boa parte por causa dos violentos ataques aos católicos.
Pelo contrário, depois do 25 de Abril prevaleceu o bom senso da parte de políticos como Mário Soares. Perceberam que a última coisa que interessava à jovem democracia portuguesa era reabrir a chamada questão religiosa.
Entretanto, a Igreja soube adaptar-se ao pluralismo. Por isso, promove o diálogo com outras confissões e com os que não têm qualquer religião.
Mas, infelizmente, parece que há quem queira ressuscitar o anticlericalismo primário e o ódio a tudo o que cheire a religião. Como revela a actual polémica sobre a assistência religiosa nos hospitais, ainda há quem confunda a saudável separação entre Estado e Igreja com um laicismo agressivo.
Ora, uma coisa é o Estado laico. Outra será impor a toda a sociedade uma vivência anti-religiosa, negando às igrejas e aos crentes enquanto tais qualquer presença no espaço público.
Uma imposição não só antidemocrática como totalitária.

Francisco Sarsfield Cabral

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 01 Outubro , 2007, 14:39

TERNURA É O MÍNIMO
QUE PODEMOS DAR
AOS MAIS VELHOS


Celebra-se hoje o Dia Mundial do Idoso. Para muitos, será um dia como outro qualquer. A lufa-lufa de quem trabalha e o comodismo dos que (nunca) nada fazem não dão espaço para se pensar nestas coisas. Mas o Dia Mundial do Idoso, como outros dias celebrativos como este, serve, precisamente, para nos convidar a reflectir. Neste caso, sobre quem está no outono da vida, quiçá no inverno.
Pensar nisso, enquanto ainda estamos (talvez) longe dessa situação, julgo que será urgente, não vá dar-se o caso de amanhã podermos ficar com a consciência pesada por nada termos feito que pudesse dignificar os mais velhos. Os mais velhos são, para as gerações do presente, se quisermos, livros abertos de conhecimento e de sabedoria conquistados em riquíssimas experiências que a vida proporciona a quem está nela e atento ao que nela corre.
Os velhos são os que se queixam da saúde que se torna periclitante; são os que protestam pelos serviços de Saúde que os não têm em conta, ou os que sofrem calados a indiferença dos detentores dos poderes; são os que ficam esquecidos, dias após dias, num recanto das suas habitações, sem quem olhe por eles; são os que recebem reformas miseráveis; são os ignorados pelas famílias e pela sociedade; são os que foram atirados para lares, que não passam, frequentemente, de armazéns de pessoas sofredoras. São gente que deu tudo o que podia à comunidade e que agora passa por eles com tacanha indiferença.
Apoiá-los, dignificando-os, é nossa obrigação. Colher deles, permanentemente, ensinamentos para a vida é imperioso. Dar-lhes ternura, a toda a hora, é o mínimo que podemos fazer neste Dia Mundial do Idoso e sempre.

FM
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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 01 Outubro , 2007, 14:12

Celebrar a Música

1. Diz o filósofo grego Platão (428/27-347) que «a música penetra mais fundo na alma humana». A música, que exige a “pausa” despertando os sentidos humanos, é, hoje, uma das expressões artísticas constantes com maior relevo. Mas há música e música! Quando Platão diz que a música penetra fundo na alma humana, convida-nos para a qualidade, sensibilidade, harmonia, virtudes fundamentais à própria experiência do ser pessoa. Conhecer e apreciar música é dar cor e poesia à vida!
2. Celebra-se a 1 de Outubro o Dia Mundial da Música. Uma oportunidade renovada, como uma rampa de lançamento, para valorizar e multiplicar as potencialidades da arte musical. Que seria do mundo sem música!? (Não seria!) Arte nobilíssima que se foi vendendo à lógica comercial da quantidade (e muitas vezes mesmo de sons reflexo da escuridão existencial), a música é, no fundo, a celebração da interioridade humana, no que ela tem da beleza da luz (mas também) da tristeza da “noite”.
3. Será possível medir o desenvolvimento de um país pela aposta formativa na área musical? Não sabemos. O certo é que saber música é “aprender” a linguagem matemática, e que nos países onde a música é rainha, a estética, a criatividade e a visão empreendedora triunfam. A música, como afinal toda a cultura, não dá resultados imediatos, não tem uma compensação lucrativa económica no primeiro momento. Exige a sabedoria da persistência no tempo, a capacidade de vencer mesmo a indiferença colectiva, o lutar todos os dias contra uma maré difícil. Só resiste quem ama!
4. São, ainda assim, muitos os grandes portugueses que se dedicam à música, sendo a sua força o “gosto” que os faz não cansar. A sua missão é heróica, para mais num país onde a música não faz parte do “programa”. Isto é, faz mas muito pouco; continuamos – por falta de dinheiros ou de visão?... - a esquecer as mil e uma potencialidades transversais da música. Talvez um dia! Felizmente que, nestes dias, despertados pelo Dia Mundial da Música, se renova a oportunidade valorizadora da arte musical, em conferências, concertos, numa viagem sempre sensibilizante pela música (o mesmo é dizer), pela Humanidade.
5. A 3ª Edição dos FESTIVAIS DE OUTONO (Universidade de Aveiro e Fundação João Jacinto de Magalhães), de 1 de Outubro a 9 de Novembro, é essa persistente e inspirada oportunidade renovadora, numa parceira envolvência regional, com grandes nomes da música nacional e internacional. Essencial ver e ouvir (programa): http://www.ua.pt/

Alexandre Cruz

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 01 Outubro , 2007, 12:42

Exposição no CUFC

“PERDIDOS E ACHADOS”

A associação "Perdidos e Achados", que luta pela defesa dos direitos dos animais, vai celebrar, no dia 5 de Outubro, no CUFC, o Dia Mundial do Animal. Vai estar patente ao público uma exposição sobre as suas actividades e uma venda de produtos para o Natal, cuja receita possa colmatar algumas dívidas contraídas na compra de alimentos para os animais abandonados.

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