de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Setembro , 2007, 17:07

D. Maria da Luz



Neste mês de Setembro, mês da tradicional Maior Idade/Viver Solidário, dedicamos a rubrica “A Nossa Gente” à D. Maria da Luz Rocha, que homenageamos pela sua história de vida e pelo trabalho desenvolvido em prol dos mais desfavorecidos.
Nascida a 17 de Novembro de 1922, a D. Maria da Luz completa este ano, sempre com um espírito jovem e alegre, o seu 85º aniversário.
Filha de comerciantes, abandonou os estudos após a conclusão da 4ª classe, devido às dificuldades financeiras dos seus pais. Depois de um namoro atribulado, casou aos 17 anos de idade, mas o infortúnio bateu-lhe à porta quando, passados apenas 12 anos, fica viúva com 4 filhos para criar, sendo que um deles ainda vinha a caminho.
Para poder sustentar o agregado familiar, decidiu ir trabalhar para o talho do pai, ocupando assim o lugar do falecido marido.
Sempre lutadora, a D. Maria da Luz nunca voltou as costas a quem lhe batia à porta, sobretudo mulheres desprezadas pela sociedade de então. Exemplo disso foi quando, em 1953, ajudou uma mãe solteira que não tinha onde morar, acolhendo-a em sua casa, onde vivia com os 4 filhos e os sogros. Já nesta altura a D. Maria fazia parte das Conferências de S. Vicente de Paulo, instituição que lhe deu a conhecer o caso.
E outros casos se foram sucedendo, parecendo outras jovens que necessitavam de ajuda e iam ficando, temporariamente, em sua casa até que se encontrasse uma instituição que as pudesse acolher.
Um certo dia, o Sr. Bispo da Diocese de Aveiro, tendo conhecimento desta situação, visitou a D. Maria da Luz no intuito de conhecer a sua casa, onde albergava algumas jovens, prometendo ajuda no sentido de transformar o espaço numa Instituição. Foi por intermédio do Bispo que surgiu o “Lar da Providência”, tendo, mais tarde, com o 25 de Abril e a abertura da Instituição às crianças, passado a chamar-se “Obra de Providência”, uma vez que deixou de ser Lar.
Actualmente, a Obra de Providência tem como valências a Creche, o Jardim-de-Infância e o Centro Comunitário Sénior. É neste último que ocupa a maior parte do seu tempo gerindo o trabalho desenvolvido por alguns idosos na recuperação de peças de vestuário e confecção de mantas, babetes, entre outras, que têm como destino famílias carenciadas, dando igualmente apoio na dinamização das diversas actividades de carácter lúdico, que propiciam momentos de convívio entre os utentes.
Apesar das dificuldades da vida, a D. Maria da Luz nunca baixou os braços, lutando contra preconceitos e continuando a sua missão de ajudar, tendo como filosofia a entrega ilimitada aos outros.
É assim, desta forma, que descobre que, em cada acto de dádiva, a verdadeira felicidade nasce quando uma mão se estende desinteressadamente em direcção a outra.
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In “Viver em”, da CMI
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NOTA: Toda a gente da cidade da Gafanha da Nazaré, e muito para além dela, conhece a D. Maria da Luz Rocha. Basta dizer D. Maria da Luz para se saber de quem se trata, tão marcante tem sido para todos nós a sua vida.
A homenagem simples que a Câmara de Ílhavo lhe prestou é inteiramente merecida, ou não fosse esta nossa conterrânea um exemplo para todos nós, pela sua intervenção na sociedade, sempre em prol dos mais desprotegidos.
Daqui me associo a quanto foi dito, formulando votos de que continue a testemunhar o viver cristão, que foi sempre, que me lembre, a sua grande preocupação.
F.M.

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Setembro , 2007, 16:15

Cavaco Silva
considera federação
entre Portugal
e Espanha
uma ideia "absurda"


O Presidente da República, Cavaco Silva, classificou hoje como um "absurdo" a ideia da criação de uma federação ibérica entre Portugal e Espanha, defendida em Julho pelo Nobel da Literatura José Saramago.
"Basta conhecer a história de Portugal para dizer que essa hipótese é um total absurdo", respondeu Aníbal Cavaco Silva a uma questão colocada por uma jornalista da agência de notícias espanhola EFE.
O chefe de Estado falava durante uma conferência de imprensa no âmbito da sua visita ao Parlamento Europeu, reunido em sessão plenária, em Estrasburgo — a primeira das instituições europeias que visitou, seguindo ainda hoje para Bruxelas.
Saramago defendeu em Julho, numa entrevista ao "Diário de Notícias", a fusão entre Portugal e Espanha, sugerindo que daí poderia resultar um país designado Ibéria. O escritor de 84 anos, que reside há 14 anos na ilha espanhola de Lanzarote, considera que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.
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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 04 Setembro , 2007, 11:09
Um texto de Luís Santos

A SANTA DAS SARJETAS


A 5 de Setembro de 1997, o coração de Madre Teresa de Calcutá deu o último suspiro. Passados dez anos, a obra que a "santa das sarjetas" ergueu continua viva e o seu sorriso perdurará. Esta data ficará na história do século XX. Durante a sua vida, ela simbolizava o amor aos mais carenciados. Aquela frágil mulher tinha uma força inesgotável e colocava em prática as palavras do Evangelho: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22, 39).
Com o final do milénio à porta desapareceu a mulher que se entregou aos "mais pobres dos pobres" e deixou muitos corações desamparados. Uma paragem cardíaca, depois de várias pneumonias e crises de malária, "levaram" Madre Teresa. Viveu com o coração, o coração a matou. A humanidade perdeu alguém que, por nada ter nem poder, tinha toda a autoridade porque ninguém conseguia dizer não a um pedido que ela formulasse.
Calcutá chorou, provavelmente, como nenhuma outra cidade do mundo, a morte desta mulher que escolheu a gigantesca metrópole indiana para viver toda uma vida ao serviço daqueles que não tinham ninguém. "Era uma verdadeira santa admirada por todos os indianos, independentemente da sua religião" - sublinhavam os habitantes de Calcutá.
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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 03 Setembro , 2007, 13:02


VERÃO COM NEVOEIRO A INCOMODAR
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Hoje, na Praia da Barra, o nevoeiro matinal nem me deixou usufruir um esperado dia de Verão. Diziam os mais antigos que o primeiro de Setembro é o primeiro dia de Inverno. O ditado cumpriu-se. Porém, estou convencido de que durante o dia não hão-de faltar veraneantes... os que apostam em aproveitar o período estival em toda a sua plenitude, quer faça calor, quer haja nevoeiro frio e incomodativo. Talvez um sol radioso desponte, para contentamento de todos.
Cá por mim, vou ficando à espera de melhores dias, já que o Verão de 2007 foi, como rezam as informações científicas, o mais frio dos últimos 20 anos.
Talvez por isso, a Praia estava, hoje de manhã, quase deserta. Vejam o Molhe Sul com pouca visibilidade e com pouca gente. E as tradicionais barracas nem sequer foram montadas. Ali estavam às moscas. Melhores dias virão. É a nossa sorte.


Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 03 Setembro , 2007, 12:32
Líder da Igreja Católica diz que é comum duvidar
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Bento XVI admite dúvidas
de madre Teresa
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O Papa admitiu, no sábado, que mesmo "a madre Teresa de Calcutá, apesar do seu espírito de caridade e fé, sofreu com o silêncio de Deus". Bento XVI falava perante milhares de jovens em Loreto, na Itália, numa peregrinação de dois dias que serviu para preparar as Jornadas Mundiais da Juventude de 2008 em Sydney.
O chefe da Igreja Católica, que ontem à tarde regressou à sua residência de Verão em Castelo Gandolfo, falava sobre a fundadora das Missionárias da Caridade em vésperas da publicação de um livro que revela que a freira católica questionou a sua fé e teve períodos de dúvida a respeito da existência de Deus. "Todos os crentes conhecem o silêncio de Deus. Até mesmo a madre Teresa", disse Bento XVI, de improviso, acrescentando que esse silêncio serve para os crentes perceberem a situação das pessoas que não acreditam em Deus.
As afirmações do Papa assumem especial importância numa altura em que o conteúdo das cartas que originaram o livro tem levantado especulações sobre a possibilidade de o processo de canonização da madre Teresa, em curso, vir a ser abalado. Bento XVI lembrou aos jovens que ter dúvidas é algo de muito comum.
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 02 Setembro , 2007, 16:14

COMO RECORDEI O NOME
DO MEU AMIGO
DA ESCOLA PRIMÁRIA

Quando encontrei o meu amigo João, na avenida principal da cidade, nem sequer soube, de repente, como era o seu nome. Emigrante há décadas, na França, só de tempos a tempos vinha à terra, sempre no mês de Agosto, mês em que eu habitualmente saía para gozar, longe da rotina, uns dias de lazer. Esta coincidência de desencontros a fio fez de nós uns simples desconhecidos.
Saí de casa logo de manhã cedo com vontade de caminhar ao deus-dará, usufruindo de um sol que tardava em aparecer para nos aquecer. Ruas cheias de gente que deambulava a caminho da igreja matriz, para a missa dominical, ou em busca de um lugar num café do centro da cidade para saborear a “bica” e ler o jornal. Das pastelarias e padarias saíam pessoas apressadas com saquinhos de pão fumegante que apetecia comer, logo ali, barrado com manteiga. Carros passavam decerto com destinos marcados e no quiosque eu esperava ansioso o diário que todos os dias costumo ler, na convicção de que iria ter acesso a alguma novidade, daqueles que nos prendem a atenção e nos deixam a pensar.
Da berma da rua, uma voz, forte e alegre, chama por mim, feliz pelo encontro. Olho e vejo um rosto conhecido de há muito tempo. Do tempo da escola primária, da Escola da Ti Zefa, onde o professor Ribau nos ensinou as primeiras letras e nos encaminhou na vida.
- Sabes quem eu sou? – perguntou, certo de que eu o reconheceria, o meu antigo companheiro de classe.
Confesso que os olhos e a voz me não eram estranhos. Mas o nome não me saiu. Disfarcei o mais que pude e comecei a conversar, indagando das suas andanças. Que tinha emigrado para França, que andara embarcado, que já tinha netos, que vivia da reforma e do mealheiro que fora abastecendo ao longo dos anos, que agora andava pelas ruas da cidade à cata de recordações, que tinha encontrado bastantes colegas da escola e das brincadeiras, que se cruzava com amigos dos vários empregos que teve, que era muito feliz. Mas o nome, o nome dele nunca me vinha à memória. Teimosamente eu ia tentando regressar ao tempo das nossas brincadeiras. A conversa nunca mais tinha fim. Eu gostava de o ouvir e de ver a sua felicidade, de estar com um amigo que me fez retroceder até à meninice, levando-me à escola primária, onde, aos sábados, o nosso professor contava sempre histórias carregadas de moral.
Jamais esquecerei a história do jovem que tinha por hábito mentir, gritando no monte, junto do rebanho que apascentava, que havia lobo à vista. Os aldeões acorriam e nada. Regressavam a casa revoltados com a desfaçatez do jovem. Mas um dia o lobo veio mesmo para atacar o rebanho. O rapaz bem gritou para lhe acudirem, mas desta vez os aldeões não responderam ao pedido de socorro. E o jovem pastor lá ficou sem uma das suas boas ovelhas. Depois vinha a lição de moral, que fomos guardando para a vida.
Ali, pregados no chão, as memórias de infância surgiam uma após outras, mas o seu nome, por mais que contornasse as conversas, sempre na esperança de o ouvir da sua própria boca, nunca surgia.
De repente, o meu amigo lembrou o dia do exame da terceira classe. Recordo-me bem. Alinhados em duas filas, esperávamos o nosso professor e os examinadores. Como era costume, entrávamos na sala segundo um critério muito próprio do nosso mestre. A primeira fila a entrar era sempre a que estava mais alinhada, com espaços entre alunos mais homogéneos. Professor atento à disciplina, gostava de premiar os mais respeitadores das leis que estabelecia. Quando o meu amigo se cruzava com ele, junto à porta de entrada, o nosso professor sussurrou-lhe com alguma mágoa:
- Ó João, então não tinhas uns sapatos para calçar neste dia?
E foi assim, com esta história contada pelo meu condiscípulo, que recordei o seu nome, perdido na minha memória durante minutos sem fim.
Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Domingo, 02 Setembro , 2007, 12:07

A CATEDRAL DA LAREIRA

Na Catedral da Lareira
há chamas ajoelhadas,
erguendo as mãos da fogueira,
esguias como as espadas.

São poentes os vitrais…
Ardem pinheiros… Perfume…
As chamas rezam missais
com letras feitas de lume

Quero rezar com vocês!...
Ó Sol! Senhor português,
escuta o meu sonho, atende-o…

Vem ensinar-me a rezar
– tu que és o brando luar,
e a flor, o fruto, e o Incêndio…

José Gomes Ferreira




Nota: Um livro de José Gomes Ferreira, LONGE, perdido na estante, e que me veio à mão, há dias, levou-me a pensar como a memória é curta, tantas vezes. José Gomes Ferreira é um poeta que, durante muito tempo, foi bastante falado. Hoje está simplesmente esquecido. Como ele, muitos outros, que foram, e são, grandes poetas.
LONGE foi publicado em 1921. A segunda edição, que possuo, veio a lume em 1927, quando o poeta, na altura, era Consul de Portugal na Noruega, como o atesta um seu cartão, com dedicatória a Alfredo Brochado.

Editado por Fernando Martins | Domingo, 02 Setembro , 2007, 10:56

A PAZ DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
EM TEMPO DE FÉRIAS
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A Universidade de Aveiro, conhecida pela dinâmica que imprime a toda a vida académica e pela posição de líder em muitas áreas do Ensino Superior, mostra, em tempo de férias, uma certa e compreensível tranquilidade, nas suas ruas, largos e alamedas. Pelo menos à vista de quem passa, que lá dentro devem estar a fervilhar projectos para o ano lectivo e de investigação que se avizinha.
Numa recente passagem pude ver a paz que por ali existe. Paz que não é sinónimo de sonolência nem de apatia. Só que, sem alunos, aos milhares, a alameda mostra-se assim... Daqui a um mês, se tanto, tudo será diferente.

Editado por Fernando Martins | Domingo, 02 Setembro , 2007, 09:13


DO SIGNO-SAIMÃO
AO PINTO NEGRO

Caríssima/o:

Seja, voltemos atrás aos passeios-visitas escolares. De facto, naqueles tempos, havia-os obrigatórios, para além do castelo de Guimarães.
Fascínio a ponto de os coleccionarmos eram os vidros coloridos ou os frascos dos mais diversos feitios. Assim uma ida a Oliveira de Azeméis impunha-se e era sempre pólo de interesse e de atracção. O olhar das nossas crianças a surpreender os mais pequenos gestos e sopros dos operários era a prova que não se pedia.
Contudo, e a contra-gosto, falar de vidros é recordar o ralho e o tabefe (e fiquemo-nos por aí!...) inevitáveis quando, nos nossos renhidos desafios em plena estrada, inadvertidamente a bola se transviava e estilhaçava o vidro da janela da vizinha... Bem, vamos até às terras de Oliveira de Azeméis:


«No concelho de Oliveira de Azeméis, vamos ao lugar de Silvares, na freguesia de Macinhata da Seixa. Além fica a casa dos Soares de Pinho, estão a vê-la? Agora reparem no brasão, que está voltado para o Largo do Cruzeiro. Ora, é "uma raposa a formar o salto" e "uma águia de pescoço vergado". Qualquer dirá que se trata de "um ameaço, um fantasma dentro de um signo-saimão". E tal medo aquilo inspira às pessoas que como umas mulheres andassem por ali a apanhar trapos, ao darem com o dianho da pedra, assustaram-se mesmo. Pois benzeram-se três vezes e foram buscar um livro de S. Cipriano para completarem a expulsão do mafarrico daquele sítio. Não queriam que ele lhes entrasse na pele, pois então!
Ainda em Macinhata da Seixa, porque é que as pessoas receiam tanto passar pelo caminho do cemitério, da Cavada à igreja? Porque, dizem, por ali apareciam almas penadas, caixões abertos, mesmo fogos fátuos e outros sinais reais ou imaginados que perturbavam os que não tinham itinerário alternativo. Ora, esses sustos todos acabaram porque o velho caminho foi substituído por um estradão que parece não seduzir os espectros...
Também se conta que cada vez que o moleiro da casa dos Barbedo tinha de atravessar a ponte antiga do Requeixo, que se supõe romana, tinha sempre problemas. Sempre o jumento que utilizava no transporte do grão e da farinha tropeçava num calço da ponte. Pois uma vez, o homem rogou a praga:
- Um raio te deite abaixo!
Não se ria o leitor que a praga cumpriu-se.
Porém, a ponte não caiu exactamente de um raio, mas de uma cheia...
Mas há algo que o leitor talvez possa experimentar, se tiver a pachorra de se deslocar a Macinhata da Seixa. Pois procurará, entre a Escravilheira e o Alvão, o conhecido sítio do Sarrado. Ali havia, e julgamos que ainda haverá, um penedo em que se encontrava gravada uma ferradura de cavalo. Ora acontece que quando alguém ali passava e se punha a olhar fixamente para aquilo que diziam ser uma pintura dos mouros, a cabeça começava a andar à roda, como se a pessoa andasse à volta. E o sujeito adormecia, acordando muito tempo depois enjoado. Porém, se o passante olhasse ligeirinho par o penedo da ferradura escutava, isso sim, umas gargalhadas de mulher, como se alguém estivesse a fazer pouco dele ao abrigo da mole granítica!
Também conta uma pessoa de Macinhata que na ladeira do caminho que vai do Alvão para o fundo da Taipa, havia a Presa do loureiro. Pois uma senhora a caminho do moinho, ao passar por ali, viu uma ninhada de pintainhos brancos a meter-se por um buraco. Logo ela os apanhou a todos e meteu-os no avental. Quando chegou a casa, quis metê-los debaixo de uma galinha choca para que estivessem bem abrigados e tratados. Pois não é que, repentinamente, apareceu mais um todo pretinho? E mal a boa mulher esboçou o gesto de se benzer, logo o pintainho negro desapareceu para sempre!»
[V. M.,179]

Manuel

Editado por Fernando Martins | Sábado, 01 Setembro , 2007, 16:36

ANTIGA PONTE DA GAFANHA
:
A minha geração, tal como a anterior, não pode deixar de se comover com esta fotografia da ponte de Gafanha. Comover com as recordações a que ela nos conduz, mas também com as lembranças que ela nos traz à memória da evolução dos nossos mundos. Nos tempos de hoje, seria impensável ver, entre nós, uma ponte como esta, de madeira, com as suas fragilidades. Lembro que, por exemplo, quando os sinais dessa fragilidade se faziam sentir, os passageiros da camioneta da carreira tinham de passar a ponte a pé (Não confundam com pontapé), retomando a camioneta no outro lado. Não fosse o diabo tecê-las e a ponte ruir com o peso.
Esta fotografia anda por aí na Net. Foi-me enviada por mão amiga, o que agradeço, e é com muito gosto que a partilho com os meus leitores.

Editado por Fernando Martins | Sábado, 01 Setembro , 2007, 10:25
Durante a viagem à Polónia
Grupo Etnográfico
da Gafanha da Nazaré
celebra mais um aniversário



Foi no dia 1 de Setembro de 1983 que nasceu o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. Até hoje, pelo trabalho desenvolvido, merece os nossos parabéns. Com o seu amor ao legado dos nossos avós, tem levado, bem longe, a nossa Terra.
Isto não significa que vai ficar por aqui. O Grupo vai continuar, certamente, a descobrir, a estudar, a preservar e a divulgar, no País ou no estrangeiro, a riqueza da nossa cultura, alicerçada em povos de matriz gandareza ou dos areais de Vagos, mas também dos mais variados recantos de Portugal.
Quando eu era miúdo, por exemplo, recordo-me bem das gentes do Norte, sobretudo de Fafe e suas redondezas, que, a caminho das secas do bacalhau, onde trabalhavam de sol a sol, cantavam em grupo as modas das suas terras, enquanto faziam meias de lã. Penso que estas áreas da etnografia e do folclore precisam de ser estudadas.
Neste dia de aniversário, aqui fica a sugestão.
Um abraço para todos quantos dirigem e trabalham, com muito amor, no Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.

Editado por Fernando Martins | Sábado, 01 Setembro , 2007, 10:13
O JESUS DE RATZINGER-BENTO XVI (2)
:
Passados dois mil anos sobre a sua execução, um terço da população mundial acredita hoje em Jesus como o Cristo, o Messias, o Filho de Deus, o Salvador. Sobre ele escreveram-se centenas de milhares de livros e artigos. Os debates filosófico-teológicos por causa dele não têm conta. Por causa dele se morreu, por causa dele se matou. Há milhares de lugares consagrados ao seu culto. Não houve na História nenhum homem tão discutido e sobre o qual se tenha debatido e escrito tanto. "Ele dividiu a História ao meio" (padre Carreira das Neves).
A questão de Jesus é a da relação entre o Jesus da História e o Cristo da fé. Como se chegou à confissão de que Jesus é o Cristo, que quer dizer o Messias, e o Filho de Deus?
É a fé que estabelece esse laço, mas baseada na História. Sem o Jesus da História, o Cristo não passaria de um mito, mas, sem a confissão de fé de que o Jesus da História é o Cristo, Jesus não passaria de um mestre espiritual e mais uma vítima no calvário do mundo. A vida e a morte de Jesus abrem para a sua interpretação e reconhecimento como o Cristo; o Cristo ilumina a vida e a morte de Jesus. A chave acaba por ser a experiência da ressurreição - o Crucificado é o Vivente em Deus para sempre.
J. Ratzinger-Bento XVI, no seu "Jesus de Nazaré", resultado de "uma longa caminhada interior" e que não é "um acto do Magistério", pressupõe esta tensão dinâmica e entrecruzada da História e da fé, mesmo se, como disse o cardeal Carlo Martini, especialista em estudos bíblicos, "ele não é exegeta, mas teólogo e, se bem que se mova agilmente por entre a literatura exegética do seu tempo, não fez estudos de primeira mão, por exemplo, sobre o texto crítico do Novo Testamento".
Num horizonte mais paulino e agostiniano, acentua o Cristo eterno da fé, mas sublinhando que esse é o Jesus da história, "o dos Evangelhos". O cristianismo tem o seu núcleo na cristologia e, portanto, na confissão de fé da mais íntima unidade de Jesus com o Pai. Em Jesus, Deus vem ao nosso encontro. Ele é Deus presente no meio dos homens.
Quem ler atentamente depara-se com um belo testemunho sobre Jesus e a fé tradicional da Igreja. O seu pendor conservador é notório, por exemplo, quando, ao explicar a oração do Pai Nosso, afirma que, apesar de todas as imagens sobre o amor materno de Deus, "Mãe" não é um título com o qual possamos dirigir- -nos a Ele.
Embora a dimensão sociopolítica da actividade de Jesus fique na penumbra, Ratzinger- -Bento XVI não deixa de reconhecer a importância da presença das mulheres na comunidade mais próxima de Jesus e que é inegável "a opção preferencial pelos pobres". Apesar de declarar que o lugar do Reino de Deus é "a interioridade do Homem", alerta para os horrores do totalitarismo e da injustiça: "Face ao abuso do poder económico, face às crueldades de um capitalismo que degrada o Homem a simples mercadoria", compreendemos a advertência de Jesus frente ao deus Dinheiro, que "mantém grande parte do mundo numa opressão cruel".
Comentando a parábola do bom Samaritano, sublinha a sua actualidade, e escreve sobre a África: quando traduzimos a parábola para as dimensões da comunidade mundial, "vemos que nos dizem respeito os povos de África, roubados e espoliados. Vemos então como são realmente nossos 'próximos', que também o nosso estilo de vida e a nossa história os espoliaram e espoliam. E isto não se passa apenas com a África."
Não vemos também à nossa volta "o Homem espoliado e destroçado"? "As vítimas da droga, do tráfico de seres humanos, do turismo sexual, seres humanos intimamente destruídos, que, no meio da riqueza material, estão vazios."
O fio condutor da obra de Ratzinger-Bento XVI é que o sinal de Deus para os homens é o próprio Jesus. Agora, sabemos que Deus é amor. É preciso "converter-se do Deus--Lei ao Deus maior, o Deus do amor". Para se não trair o essencial da mensagem, não se pode misturar a fé e a política. O preço da fusão da fé e do poder político é "a fé pôr-se ao serviço do poder e ter de se dobrar aos seus critérios."

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