de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Julho , 2007, 11:34

"AO PÉ DAS PALAVRAS"


No próximo sábado, 28 de Julho, pelas 18.30 horas, na Gafanha da Nazaré, no Navio-Museu Santo André, vai ser apresentado um livro de poesia de Hélder Ramos, com prefácio de João Alberto Roque, ambos gafanhões. “Ao pé das palavras”, assim se chama a obra, vai, por certo, merecer a atenção não apenas dos amantes da poesia, mas, fundamentalmente, de todos os que gostam da arte de bem escrever.
Hélder Ramos começou muito jovem a escrever poesia, sou eu disso testemunha, pois me recordo bem de o ter ajudado a publicar alguns poemas numa revista (Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré) de que apenas foram editados três números. A Gafanha da Nazaré, terra de poetas e de outros cultores das artes literárias, mas também de artistas de várias correntes estéticas, bem merecia uma publicação periódica, se, para tanto, houvesse coragem de avançar com ela, para bem do enriquecimento cultural dos gafanhões e dos que assumiram esta terra como sua.
Hélder Ramos, agraciado com vários prémios literários, a par de uma carreira docente e de uma variada intervenção cultural a diversos níveis, merece o carinho da nossa gente e o apoio de quantos, sobretudo instituições vocacionadas para a cultura, acreditam que as artes, tornando o mundo mais belo, são sempre uma mais-valia para a formação integral dos homens e mulheres que apostam numa sociedade mais humana e mais fraterna.
Os meus parabéns ao Hélder, com votos de longa carreira no domínio da poesia, mas não só.

F.M.


APERITIVO: Aqui ficam, como aperitivo,
quatro poemas do livro de Hélder Ramos
::




PARA LÁ DOS TELHADOS

Para lá dos telhados
Somem-se fumos de montanha
A acariciar
O céu sem limite
De onde vem
A tua música
Que ouço
E prende
Ao mundo
A alma
Que enleva
Na distância
Os sentidos

OPÇÃO

É à noite que segredas
Existirem sombras
Na essência dos vultos
Onde, suspensos,
Os jardins de águas tristes
Se aquietam
Como fábricas de esperanças
Programadas...
Depois, no rumor
Luminoso de um novo dia
Inocente,
Abre as asas em glória
E não digas mais nada;
- Faz como quem aprende
A abrir sendas de vitória
Ou sê a sombra na estrada.

EVOCAÇÃO I


Não foi o vento
Que pediu que partisse
Sem destino
Nem o mar
Me prendeu
Com os seus brilhos
Foi a saudade
Dos teus olhos
Pronta
Em acenos
De ânimo
E mistérios
Sem conta

O VÍCIO DO MAR


Tens nos teus olhos
O vício do mar
Que me chama
Em cada onda
A rolar
Inquieta;
Desejosa
Do fulgor
De cada imagem:
Palavra
Ansiosa
Por saber
E sei que és
Essa força
Solene
A renascer
Que habita
Um poema
Por conhecer

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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Julho , 2007, 11:10
Monumento ao Homem do Mar. À esquerda está o Museu de Ílhavo

EXPOSIÇÃO: A DIÁSPORA DOS ÍLHAVOS

No próximo dia 8 de Agosto, o Museu Marítimo de Ílhavo comemora 70 anos de vida. Para recordar e celebrar essa efeméride vai haver festa, com um programa que durará 70 horas.
Os ílhavos vão poder apreciar exposições, música, teatro, poesia, cinema, visitas guiadas e dança contemporânea. Mas ainda poderão saborear a rica gastronomia da região.
Diz o Diário de Aveiro que Álvaro Garrido, director do Museu, “destaca a exposição «A Diáspora dos Ílhavos», uma narrativa ancorada numa investigação inédita que versa um dos principais imaginários da história local, mitos e realidades. Desde a segunda metade do século XVIII, os ilhavenses fizeram um movimento migratório ao longo da costa continental portuguesa motivado por factores, como a sazonalidade da pesca, o assoreamento da Ria de Aveiro e a escassez de outros recursos económicos.
Esta exposição compõe-se de discursos vários, de onde ressalta uma peça proveniente do British Museum e que se crê ser do «barco de mar» característico das artes da costa de Aveiro e muito usado pelos ílhavos nos seus movimentos migratórios do litoral português.
«A diáspora dos Ílhavos» vai estar patente ao público na Sala de Exposições Temporárias”.

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Julho , 2007, 10:57


TEATRO PRÍNCIPE D. CARLOS

Passear por qualquer povoação, desde a mais humilde aldeia até à mais sonante e cosmopolita cidade, exige de nós uma atenção especial, para descortinarmos sinais ou vestígios da história local e até nacional.
Há dias vi, na Figueira da Foz, um símbolo do que digo: Uma lápida, perto da Câmara Municipal, recordava um edifício e acontecimentos a ele ligados. Diz assim:



Memória

Neste local esteve edificado o
TEATRO PRÍNCIPE D. CARLOS

Inaugurado em 8 de Agosto de 1874, sede do Ginásio Clube Figueirense desde 1896 até 25 de Fevereiro de 1914, data em que foi destruído por um incêndio.

Erigido pelo Ginásio Clube Figueirense
em 28 de Fevereiro de 2000

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 26 Julho , 2007, 08:53
APRENDER ATÉ MORRER,
MESMO PARA UM PRÉMIO NOBEL

Li, com interesse e sem especiais preconceitos, a entrevista de José Saramago ao DN (5.7.2007). Deixo a outros, que já começaram a fazer os seus comentários e vão continuar por certo, os aspectos opináveis de ordem nacional e política, para me fixar apenas nos religiosos, a que dogmaticamente o escritor se referiu.
As suas palavras e opiniões não constituem novidade, uma vez que José Saramago, pelo menos em determinados assuntos, nunca reviu nem actualizou a tradicional cassete, esquecendo, não sei se de propósito, por inércia ou por acinte, que também neste campo, sem mudar o essencial da fé cristã, muitas coisas mudaram.
Actualizar conceitos, aprofundar conhecimentos, rever critérios de discernimento crítico é próprio de pessoas intelectualmente honestas, que, enquanto vivas, não dão por completado, em nenhum aspecto, o seu saber.
Um Prémio Nobel, qualquer que seja o campo em que foi galardoado, não é, por esse motivo, um poço sem fundo nem de ciência e, muito menos, de sabedoria, em todos os ramos da cultura. Nesse logro correu há séculos um “sábio”, Pico de Mirandola, quando se afirmou detentor de todo o saber humano de então. Hoje cita-se e recorda-se como se de um louco se tratasse.
De pé continua a velha sentença do sábio helénico, própria dos verdadeiros sábios, sempre humildes perante o universo inesgotável do saber humano: “Só sei que nada sei”.
José Saramago, nada consciente das suas limitações, desfralda, mais uma vez, a velha bandeira, eivada de preconceitos, de uma Igreja retrógrada e intolerante, prisioneira do concílio de Trento, agora obcecada com o corpo das pessoas e a pretender controlá-lo. E sentencia, sem apelo, que se alguma coisa ela tem a dizer o “faça no plano da salvação das almas e deixe o corpo em paz”.
Tal sentença para um qualquer romancista, que, pela sua profissão, se espera seja sempre um humanista, é, no mínimo, preocupante pela pobreza antropológica que denuncia e pelo vazio cultural que comporta. Já nem falo da mensagem da Igreja, que ele certamente desconhece. De há muito que ela ensina que a alma, durante a vida terrena da pessoa, não é uma entidade separada do corpo.
Diz noutro lugar Saramago que “a Europa não deve ser um clube religioso centrado no cristianismo ou nas diversas religiões que estão representadas no continente e que têm seu peso”. Não deve ser, nem se pretende que seja. Apenas se preocupa a Igreja e as diversas religiões credíveis, para bem dos europeus, em avivar a memória histórica, que alguns rasgaram, por ignorância ou má fé. A Europa não se explica a si própria por via dos limites geográficos ou dos arranjos políticos, sempre circunstanciais, mas pelo património cultural que a animou, lhe deu corpo e rosto, lhe configurou a história e deu rumo ao seu desígnio e projectos. E tudo isto tem a ver com o cristianismo e não só com ele. Tudo isto hoje parece secundário para os intelectuais de pacotilha, que preferem desconhecer as raízes culturais e destruir o que vem de trás, mormente se tem sinais de religioso ou sobretudo de cristão, em vez de procurarem, numa linha de fidelidade científica, o modo de melhor servir as pessoas e o bem comum que as ajuda a ser e a manterem-se dignas e sem complexos. Sem respeito pela memória, nunca haverá futuro consistente.
O projecto europeu não começou com o sonho de Lenine, nem acabou com a queda do muro de Berlim. Não sobrevive à custa de Bruxelas, nem vive ansioso por novos tratados que o justifiquem, onde quer que eles sejam datados.
A Europa precisa de pessoas com dimensão humana e histórica e com valores morais, capacitadas para assumir e integrar êxitos e fracassos de ontem e de hoje.
O cristianismo, bem como outras confissões religiosas, porque deram alma à Europa, para além das suas falhas e desvios, tributo pago ao tempo, estão aí, como sempre estiveram, a lutar pela Europa das pessoas, com poucos parceiros com igual preocupação. As pessoas são a sua indispensável riqueza, o seu verdadeiro património.

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