de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 17 Julho , 2007, 15:45







Fotos, de cima para baixo:
Fachada principal,
Torre vista do Claustro,
Túmulo de D. Pedro I,
Túmulo de Dona Inês de Castro




MOSTEIRO DE ALCOBAÇA


O meu roteiro de férias contempla sempre a vertente história e monumental. Por onde quer que passe, dou comigo à procura do que nos foi legado pelos nossos antepassados. Depois, aprecio, leio o que encontro à mão, fotografo e registo na memória o que tem mais interesse.
Do Mosteiro da Batalha, passei a Aljubarrota. A seguir, rumei a Alcobaça, onde repousam os restos mortais de D. Pedro I e de Dona Inês, em túmulos com as suas estátuas jacentes, perpetuando um amor até ao fim do mundo, como reza a lenda.
Mas o Mosteiro é muito anterior aos amantes que ali estão à espera dos visitantes que, logo à chegada, muitos, perguntam por eles. A Abadia cisterciense de Santa Maria de Alcobaça vem do tempo de D. Afonso Henriques, pois foi por ele fundada em 1153. Doada à Ordem de Cister pelo nosso primeiro rei, representados por Bernardo de Claraval, a abadia começou a ser construída 25 anos depois da chegada dos monges brancos, concretamente em 1178. Foi uma das mais poderosas abadias da Ordem de Cister, de raiz beneditina, apresentando uma arquitectura austera e grandiosa, bem ao espírito daquele que viria a ser S. Bernardo, tão importante para a construção e identidade da Europa.
Claro que muito do que hoje podemos apreciar sofreu grandes alterações e readaptações. Mas a parte do Mosteiro que está aberta ao público é a mais expressiva, remontando ao período medieval. Os nossos olhos não podem deixar de ficar extasiados perante a beleza sóbria e convidativa ao silêncio da Sala do Capítulo, do Parlatório, do Dormitório, da Sala dos Monges e do Refeitório, com o seu Púlpito do Leitor, uma peça arquitectónica muito bela.
A visita ao Mosteiro de Alcobaça transporta-nos até à corte do nosso rei fundador, através de um conjunto de painéis de azulejos que nos contam a história da doação de D. Afonso Henriques a Bernardo de Claraval. Mas todo o conjunto do Mosteiro nos convida a recuar ao tempo em que os monges da Ordem de Cister ali viveram, tendo por normas de vida o coro, a oração, a penitência e o trabalho manual.
A Ordem de Cister desenvolveu-se a todos os níveis, em Portugal e em toda a Europa. Também a vida monástica se foi adaptando às exigências das épocas. Com as riquezas que vinham das suas vastas propriedades, foi possível empreender grandes obras e reformas. Ali se ergue, à época, uma das maiores livrarias do reino, renovam-se os altares segundo novos gostos e o fausto da abadia atinge o máximo no século XVIII.
Em Alcobaça, tudo respira a herança cisterciense. Nem sequer faltam os doces conventuais e os licores com segredos ancestrais.
Com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, os monges são obrigados a abandonar o Mosteiro. Parte do seu recheio desaparece, encontrando-se muitas peças disseminadas por diversos museus. A Biblioteca é desmembrada, espalhando-se o seu espólio pela Biblioteca Nacional e pela Torre do Tombo.
Em 1985, a UNESCO classificou este Monumento Nacional como “Património Cultural de toda a Humanidade”. Recentemente, os portugueses ajudaram a classificá-lo como uma das sete Maravilhas de Portugal. Por tudo isso e por tudo o mais que não é possível sublinhar aqui, convido os meus leitores a passarem por lá durante estas férias.
Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 17 Julho , 2007, 11:40
A OUTRA FACE

Estranha, a profissão de crítico. Político, religioso, literário, cinematográfico, generalista. Observador severo, mesmo que se esqueça do bem e do bom, nunca deverá deixar passar o erro sem a análise fria, rigorosa, implacável. E a conse-quente denúncia. Caçador de vermes, diverte-se mais com as gralhas que com o texto escorreito de páginas inteiras. Dirão alguns que é questão de feitio e o mundo precisa de gente sem sorriso nem benevolência para por a humanidade na ordem. Estudioso infatigável do pecado original, pensarão outros, na convicção que não obstante todos os trechos bíblicos de esperança o homem não passa dum ser mesquinho e incurável com necessidade de muitos milhões de milénios para se notar uma ligeira curva de progresso.
A esperança é uma virtude sobrenatural, diferente da utopia ou do optimismo que não passa dum volátil estado de alma. Mas a verdade é que o todo da vida e do mundo tem uma outra face que importa observar. Não apenas em nome da tolerância mas da justiça. Da objectividade. Da lucidez. Da concepção realista da humanidade. O que exige uma serenidade que exalte a transparência do coração no olhar de todas as situações. Como da evolução do homem, da descoberta de valores, progressos, sinais duma humanidade que, marcada pelo limite, vai abrindo caminhos na direcção do infinito e não corre, como suspeitam alguns, a velocidade descontrolada para o abismo.
O desprazer mórbido também é uma forma de luxúria. E o olhar sobre o mundo depende sempre do ângulo em que nos colocamos. Complexa tarefa para as janelas da alma. Por isso a proclamação da esperança supõe sempre o ângulo de Deus em todos os momentos, em todos os factos e nos gestos e rostos das pessoas. E Jesus avisou como é arriscado colocar-se apenas como juiz de seu irmão.

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 17 Julho , 2007, 11:25
Porque nos abstemos
de participar?

1. Quem ganha as eleições quando quem vence, de facto, é a abstenção? Talvez esta pergunta, sintomática, seja o espelho de tantas eleições em democracia como do recente acto eleitoral para a autarquia de Lisboa. Pelas tendências estudadas da indiferença que se vai generalizando, e que leva já alguns países europeus a “obrigarem” os cidadãos a votarem sob pena de perderem direitos de cidadania, será de salientar que para uma desejada maturidade democrática não haverá nem praia, nem julho, nem sol nem chuva, nem futebol, nem credibilidades ou descredibilidades de candidatos, “nada” existirá que justifique a habitual (e pacífica, não há outro remédio!) ausência da participação eleitoral.
2. As 1001 razões justificadoras da abstenção a que nos vamos acomodando, no presente, ausente e difícil Portugal, só virão pactuar com essa ideia de passividade e conformismo com a nossa pacata forma de ser. Qualquer acto eleitoral – e é uma privilegiada conquista democrática a possibilidade de votarmos -, pelo seu absoluto secretismo e liberdade, demonstram o autêntico pensar, ser e, no fundo “agir”, sobre a realidade concreta de cada dia; e a este respeito, a conclusão generalizada será que os cidadãos estão longe da “sua” cidade. Que cidadão é aquele que não vota, não participa, não tem (nem quer ter sequer) qualquer ideia para a sua terra mas que depois está na primeira linha da reclamação dos seus direitos?
3. Quem é o “cidadão” que, não cumprindo os seus deveres mais básicos, enche-se de destemida coragem para exigir os seus direitos? Se não concordam com as políticas, então manifestem-no no voto; se sentem sintomas de descredibilidade do nosso sistema democrático, reforçadamente participem afirmando suas visões alternativas. Se a política no seu entender está desmotivante com que motivação “querem” algo de novo? Que sugerem de novo? Entre as diversas interpretações a que mais nos custa é a suave ideia de que “abstenção” será um sinal que os cidadãos dão aos partidos e aos movimentos cívicos de que não concordam com as formas de política realizadas… Quanto a nós, puro engano! Não se tratará de qualquer sinal; será precisamente um não sinal, um “nada” indiferente; nem sequer uma manifestação de desencanto.
4. A política será a “arte” do possível. Assim, diante da desmotivação ou das dificuldades da realização política o cidadão consciente, sob pena de se perder a si próprio, não poderá responder com a indiferença. Na essência, todo o cidadão é político; e em circunstâncias em que não haja identificação com qualquer programa candidato, coerentemente, a forma efectiva de demonstrar essa insatisfação não será a abstenção, pois nesta não há sequer a deslocação ao local do voto. Os cidadãos têm o poder fundante da democracia, mas deixam-no à deriva… É nesta linha de novo compromisso com a vida de todos (que terá de ser afinal a actividade política) que nas sociedades ocidentais, comodamente democráticas, vai hoje progredindo a reflexão sobre a abstenção e a indiferença.
5. Como entender o futuro da liberdade nos contextos abstencionistas? Bem sabemos, e a história assim o diz, que comunidade que seja indiferente à sua gestão e liderança abre permeabilidades a formas menos democráticas de presidir e governar. Neste contexto, hoje tornar-se-á imperativo o aprofundar o facto consumado da “não-participação” (esta que até pode dar jeito em linhas de pensamento menos saudáveis e menos servidoras da dignidade humana e do bem comum). Na actualidade, a abstenção estende-se por uma transversalidade de áreas, da cultura ao associativismo, da política à educação. Aprofundemos a “participação” como eixo estruturante da vida em sociedade; quando não, perdendo a democracia a sua própria frescura original, um certo individualismo sem valores vai alastrando, como o mais doce chocolate; é que até não dá trabalho e é cómodo. O futuro – ainda que no mundo virtual – não se poderá render a este facto, precisa da participação de todos!

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 17 Julho , 2007, 11:12
Gdynia, na Polónia

FLORES EM GDYNIA - POLÓNIA
:
Joaquim Simões, habitual leitor do meu blogue, teve a amabilidade de me enviar, há dias, uma foto de Gdynia, na Polónia, para a rubrica "Ares do Verão", gesto que agradeço, sobretudo porque a capacidade de partilhar é muito bonita.
Com esta foto, aqui está a prova de que as flores, em qualquer parte do mundo, são sempre motivo de boas e expressivas recordações. Quando viajamos, por mais monumentos que visitemos, por mais paisagens por que passemos, as flores que vemos ficam sempre na nossa memória.
Para saber o que andou por lá a fazer, pode consultar o Correio do Vouga.

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