de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 14 Junho , 2007, 15:00

À CATA DAS RAÍZES


Há dias fui com um amigo e familiar à cata das nossas raízes. O Manuel Olívio, um apaixonado por estas coisas, gosta de conhecer quem esteve na base dos seus genes. Lê, procura aqui e ali, conversa com quem possa ajudá-lo e sente um prazer enorme quando descobre pontinhas do "iceberg" da sua família, com raízes pelas Gafanhas e terras circunvizinhas. E mais do que isso, consegue incutir em mim esse gosto e esse prazer de catar e adivinhar o nosso passado, com muito de comum. Honra lhe seja feita.
Nessas andanças, fomos duas vezes ao Arquivo Distrital de Aveiro, que assentou arraiais em Aradas. Gentilmente acolhidos, logo as funcionárias, atentas e prestáveis, puseram à nossa disposição os documentos-base, que cotejámos com curiosidade e cuidado. Com curiosidade, como quem busca um tesouro perdido algures, nem sabemos onde. Com cuidado, porque a antiguidade e a fragilidade dos documentos a isso aconselhavam.
A primeira impressão com que fiquei resume-se nisto: há aqui tanta coisa que a todos diz tanto respeito, e poucos se aventuram nesta procura das suas raízes.
Pois é verdade. E se soubermos, como decerto muitos saberão, que será sempre importante conhecer quem somos e donde viemos, para melhor construirmos o futuro nos legados que quisermos deixar aos nossos descendentes, então há que perder o receio e marcarmos lugar no Arquivo Distrital de Aveiro. Há sempre uma mesa e uma cadeira à espera de quem chega. Não faltam funcionárias simpáticas e documentos que nos fazem vibrar.

Fernando Martins
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 14 Junho , 2007, 14:34
O ESTALAR DO VERNIZ
E O PENSAMENTO ÚNICO

Não sou leitor assíduo de Daniel Sampaio e, sem que isso lhe retire o mérito que tem, não o vejo como guru que sabe tudo sobre educação de adolescentes e jovens, nem como mestre incontestável das melhores teorias para os compreender e orientar. Também o li e comprei alguns dos seus livros. Opinião formada, agora sou observador.
Em educação não se pode nem deve esperar tudo de uma pessoa só, ainda que seja professor universitário. Os problemas da educação são complexos e não são todos do foro médico e psiquiátrico. Situação familiar, contexto social, instabilidade da escola, uso livre das novas técnicas de comunicação, permissividade alargada, crise de modelos e referências, cedência dos mais velhos, diálogo geracional raro, perda de sentido na vida, janelas fechadas ao transcendente e à esperança, tudo foi tornando o mundo da gente a educar um mundo com mais problemas que diagnósticos lúcidos e soluções à vista. Quem quiser ter êxito neste campo, tem de ser humilde para acolher e escutar, pondo de parte a suficiência intelectual e o afã das palmas e dos êxitos.
Não estranhei que a Ministra da Educação, ao constituir uma comissão nacional encarregada de propor caminhos para a educação sexual nas escolas, tenha escolhido Daniel Sampaio como seu coordenador. Estas escolhas têm sempre a sua lógica. Porém, não é de aceitar, sem mais, que a proposta apresentada deva ser obrigatoriamente considerada como a única opinião válida e o caminho indiscutível para um problema urgente e grave e de solução difícil. Ao falar-se de educação sexual nas escolas, fala-se de pessoas, ambiente, conteúdos, agentes, meios e instrumentos. Neste, como noutros campos melindrosos, não se podem esquecer, nem menosprezar, elementos importantes para a sua compreensão e resposta, como são os educandos concretos e os intervenientes naturais e óbvios, aos quais esta função primariamente compete, os pais e a família.
O Estado não se pode considerar, como está a acontecer, dono das crianças, dos adolescentes e jovens que frequentam as escolas estatais. Por vezes, forçado por lobbys, que no ensino escolar abundam, determina e exige. Para a execução, não lhe faltam mandatários que esgotam o seu saber e acção, controlando o que se faz e se deve fazer. Muitas vezes sem respeito por quem está em campo. Um critério os domina e orienta: o que manda a senhora ministra e os senhores secretários de Estado.
Muita gente viu há dias um programa na televisão pública, sobre a educação sexual nas escolas. Teve algum mérito como estratégia, mas pareceu querer dizer ao país que, neste campo, as coisas só são aceitáveis como diz e quer a sábia comissão e o seu presidente.
Foi este que, aos olhos atentos dos telespectadores, abafou opiniões contrárias, não se coibindo de puxar, a despropósito, pelos galões de professor, chegando a ser deselegante para quem opinava de modo diferente, nomeadamente uma colega de mesa com reconhecido valor nacional. Tão nervoso ficou por se ver confrontado, que lhe estalou todo o verniz. Eu não esperava isto. E tinha direito a não o esperar.
Interroguei-me sobre o que se pode esperar de sábios de opinião única, que não se controlam, nem aceitam opiniões e considerações alheias.
Sou por uma educação sexual séria, que não se reduza a mera informação, ajude a crescer harmoniosamente, amadurecer, discernir e optar, conte com os pais, formando-os para isso, se for caso. O ME tem de dizer se os pais contam ou não para o governo.
Não pode pensar que crianças, adolescentes e jovens, em formação, não passam de terra de ninguém e massa informe, a moldar segundo modelos e valores preestabelecidos.
A educação escolar, objectivos pretendidos, conteúdos veiculados, modelos propostos, estratégias escolhidas, está a ser problema grave. Há gente nas escolas, com valor e competência, a dizer que vamos por caminho errado. O ME não a ouve, nem a quer ouvir. Mas as crianças não pertencem ao Estado, nem podem ser suas cobaias.
Educar é arte, arte difícil. Nem as pessoas são coisas, nem os artistas se geram por decreto.
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 14 Junho , 2007, 14:25
OS ANJOS DO SEXO


Nelson Rodrigues costumava dizer que 'o sexo é uma mijada'. A frase sempre despertou acusações de boçalidade, sobretudo disparadas por boçais com sérias pretensões de sofisticação urbana. Lamento discordar. Lendo o homem, e sobretudo o teatro do homem, entende-se facilmente que o sexo só é uma 'mijada' quando ele surge despojado de qualquer dimensão privada e humana. Para a restante criação animal, um veterinário basta para ensinar os 'mecanismos' da 'cópula' e os 'resultados' da 'ejaculação'. Mas entre seres humanos, o sexo não é uma questão técnica; é também, ou sobretudo, uma questão de descoberta e intimidade, que nenhuma escola pode, ou deve, ensinar.
Fatalmente, o dr. Daniel Sampaio não concorda com a tese e na passada semana, em espectáculo televisivo digno de registo, o psiquiatra Sampaio mostrou ao país o que andam os nossos 'veterinários' a fazer com as aulas de educação sexual. Primeiro, houve um pequeno filme de animação, intitulado 'Então é Assim!' (a frase típica com que o analfabeto funcional gosta de iniciar a hostilidades), e que pelos vistos tem ampla penetração escolar. A coisa consiste em dezassete minutos de 'National Geographic' para crianças, com a única diferença de que os animais, desta vez, são os pais delas.
Depois, o dr. Sampaio tratou de anunciar, em insulto directo a uma colega de profissão ali presente, que qualquer discórdia perante o filme só mostrava os 'traumas' profundos que existiam na cabeça de quem discordava. O gesto não mostrou apenas a elegância do dr. Sampaio, um verdadeiro exemplo no trato com o sexo oposto. O gesto ilustrou bem como o Estado português entregou a cabeça das crianças à tolerância destes sábios. O bom senso, que normalmente se aprende em casa, aconselharia a fugir deles enquanto as cabeças dos petizes estão intactas. Mas é provável que isto seja apenas o meu trauma profundo a falar.
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Fonte: EXPRESSO DE 9 de Junho de 2007

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 14 Junho , 2007, 14:18


APROVEITANDO UMA ABERTA...
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Com os ares da Primavera a tornarem-se raros, que o tempo de chuva e ventoso não perdoa, lá consegui fotografar o canal central que ladeia o Fórum da cidade. Um passeio pelo canal, e talvez pela ria, deve ter proporcionado a estes turistas paisagens nunca por eles vistas. Registei o acontecimento, em jeito de estímulo a quem não costuma passar por Aveiro. Venham até cá, que há muito para ver e para saborear, mesmo que a Primavera teime em não ficar.




Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 14 Junho , 2007, 14:14
DARFUR - O QUE É ISSO?


Voltamos à questão: informar motiva para as causas ou gera saturação e indiferença? Estaremos na eminência desse paradoxo que é saber mais sobre o mundo e mais indiferentes a ele ficarmos?
Há palavras e lugares que nos cansam: Iraque, Afeganistão, Sudão, Darfur… E há tantos esquecidos… Como poderemos repousar o olhar num ponto, quando tantos e tão trágicos nos roubam permanentemente o sossego?
Sudão, Darfur. Uma guerra civil no coração de África, entre agricultores negros e pastores árabes. Em quatro anos morreram mais de duzentas mil pessoas, dois milhões e meio ficaram deslocadas e quatro milhões carecem de ajuda. Há operações humanitárias montadas no local pela ONU. A matriz do conflito é política pois o governo do Sudão alimenta uma violência implacável de contra-revolta. Isso quer dizer que a comunidade internacional tem de pressionar quem gere a violência e ofende os direitos fundamentais do povo, a vítima primeira e última de todo este morticínio organizado.
É aqui que a informação pode acordar para uma acção concreta. Tão importante como motivar o cidadão sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa. A consciência, o debate, a pressão, a intervenção são uma arma pacífica, justa e eficaz num mundo que já tem bons mecanismos internos de promoção de justiça e paz.
Por isso saudamos e integramos a iniciativa da Missão Press (imprensa missionária) pedindo a resposta de todos os que acreditam em Deus e no homem. Não acabam aqui as causas humanas. Mas é dever grave dos cidadãos acordar sobre as realidades inquietantes do nosso planeta. E esta é considerada pelas Nações Unidas “uma das piores crises da humanidade”. Com o peso da violência e da morte com que se desenrola não permite que alguém fique tranquilamente adormecido. E na hora em que Portugal assume a Presidência da União Europeia temos, como cidadãos, uma responsabilidade acrescida perante o que se passa no Darfur. Porque temos capacidade de intervir no panorama internacional. Como escreve um missionário do Sul do Sudão “cabe à União Europeia liderar uma ofensiva diplomática que force Cartum a encontrar uma solução política num Acordo Compreensivo de Paz entre as partes envolvidas…”

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