de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Junho , 2007, 23:08


Presidência da República
protesta junto da RTP


A Presidência da República dirigiu uma carta ao Conselho de Administração da RTP a propósito da transmissão das Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
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Em carta dirigida ao Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Portugal, a Presidência da República questionou o modo como foram transmitidas, no canal 1 da RTP, as Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Atendendo às especiais responsabilidades inerentes à prestação do serviço público de televisão, afigura-se incompreensível que a transmissão daquelas cerimónias haja sido interrompida, contrariando uma prática há muito estabelecida e sem que quaisquer razões de programação o justificassem.
Ao proceder deste modo, e ao invés do que tem acontecido em anos anteriores, o canal público de televisão privou os Portugueses e as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo de acompanharem na íntegra as cerimónias comemorativas do dia 10 de Junho, facto que a Presidência da República considera inaceitável.
Fonte: Site da Presidência da Répública
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NOTA: Há critérios jornalísticos que tenho dificuldade em compreender. Por esta e por outras, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas está a ser cada vez mais desvalorizado, levando o povo a ficar indiferente à efeméride. Pergunto: a RTP seria capaz de suspender a transmissão de um jogo de futebol, em especial da nossa selecção? Seria capaz de interromper a transmissão, em directo, da chegada de um qualquer craque de futebol ao aeroporto? Penso que não. Então...há que ter a coragem de levar os responsáveis a explicarem os seus critérios de trabalho.
F.M.
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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Junho , 2007, 18:47

ASSIM É QUE ESTÁ BEM...



Há dias, quando critiquei, para um amigo, o aspecto desta marina improvisada pelos pescadores, no local onde terminava a antiga ponte de madeira que ligava o Forte à Barra, logo ele adiantou, com alguma razão, por entre as minhas gargalhadas, mais palavra, menos palavra: Assim é que está bem; no dia em que fizerem uma moderna, eles terão de pagar o sítio da amarração das bateiras; como está, é de graça.
Tem razão o meu amigo. O povo, com os seus improvisos, lá se vai desenrascando sem mais gastos… A não ser que melhorassem os ancoradoiros, sem mais despesas para os pescadores.
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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Junho , 2007, 14:04
Uma viagem épica
por um continente impressionante





ÁFRICA ACIMA


Acabei de ler, há dias, África Acima, um livro que recolhe crónicas semanais que Gonçalo Cadilhe publicou no EXPRESSO durante vários meses. É, no fundo, um relato de uma viagem de oito meses em que o jornalista percorreu 27 mil quilómetros através de África, viajando desde o Cabo da Boa Esperança, no Sul, até ao Estreito de Gibraltar, no Norte.
Confirmo o que reforça o título na capa. Trata-se, de facto, de “uma viagem épica por um continente impressionante”, com o viajante e aventureiro, o figueirense Gonçalo Cadilhe, a descobrir, com outros olhares, África do Sul e Namíbia, Botsuana e Zimbabué, Zâmbia e Angola, República do Congo e Gabão, Camarões e Nigéria, Níger e Mali, Mauritânia e Marrocos.
Acompanhei, com muito gosto, o autor, que antes havia escrito Planisfério Pessoal e A Lua Pode Esperar, na descoberta de paisagens únicas, no contacto com outros povos e outras civilizações, no encontro com amigos e desconhecidos, na contemplação dos mistérios africanos, nos diálogos com gente prestável e com gente corrupta, nas deslocações por estradas desfeitas e por caminhos de terra batida. Sempre por terra, com os pés bem assentes no chão. Nunca de avião, que “voar sobre África não é viajar por África”, realça o meu cicerone, nesta viagem em que nos convida a imitá-lo, um dia… se pudermos criar em nós este prazer de conhecer outras terra e outras gentes, ao vivo.
A pé ou de moto, de táxi ou autocarro, de camião, de barco e de comboio, Gonçalo Cadilhe ensinou-me a conversar com pessoas estranhas e hostis, cordatas e disponíveis, colaborantes e amigas, honestas ou desonestas, abertas ou fechadas. Recordou-me que há sempre um português em qualquer esquina, um amigo em cada canto, um gesto de simpatia onde menos se espera. Mostrou-me muita riqueza natural e pobreza extrema por todos os lados, com atrasos ancestrais e desafiarem-nos à cooperação com os africanos.
A natureza que o apaixonou também me apaixonou. E a sua visão do mundo leva-me a pensar sobre quanto e como eu poderia ser diferente, no modo de contemplar e ajudar, mesmo de longe, a humanidade sofredora daquele recanto imenso ainda à nossa espera.
Diz o autor: “Cada vez me revolta mais a existência de um jardim zoológico. São várias as violações cometidas sobre os animais, não percebo com que justificação. Para as crianças poderem passar um domingo diferente? Para poderem ver ao vivo os bichos selvagens? Não justifica a existência dessa cruel instituição que é o equivalente na natureza à prisão perpétua nas sociedades humanas, com a diferença de que os animais do zoológico não cometeram qualquer crime.”
E acrescenta: “Não falemos então dos circos de animais. Se o zoo é a prisão perpétua, o circo é o desterro com trabalhos forçados.”
Se puderem, ou quando puderem, leiam África Acima de Gonçalo Cadilhe. Será, sem dúvida, como foi para mim, uma viagem fascinante.

Fernando Martins
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Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 12 Junho , 2007, 14:03
Que modelo de
desenvolvimento?



1. Para os chamados países desenvolvidos, para os países em processo de estruturação do seu desenvolvimento, a questão sobre o modelo de vida a seguir apresenta-se cada vez mais como a questão decisiva. Sendo verdade que muitas forças (umas às claras outras obscuras) existem que condicionam os caminhos de desenvolvimento saudável e justo, tanto lá longe como cá perto, todavia, a questão fundamental do futuro das sociedades não se pode desnortear na indiferença reinante, antes terá de ser assumida por todos como reflexão transversal. Aliás, a própria indiferença generalizada convém às forças obscuras que assim melhor controlam as suas vontades unilaterais e muitas vezes menos servidoras de TODOS, porque menos auscultadoras da realidade real. Democracia, cada vez mais, terá de ser sinónimo de participação de TODOS … quando não, deixa de o ser transformando-se em oligarquia (seja política seja económica). Naturalmente, neste processo de construção comum, as elites pensantes, às claras, assumirão um papel relevante de liderança do debate…
2. Um enorme perigo atravessa os processos de desenvolvimento das sociedades: por impossibilidade de acesso ou por distracção individualista, o alienar-se da vida social do bem comum e só aparecer na hora de apagar o fogo. Há países em vias de desenvolvimento onde ainda é impossível o aceder democrático às questões fundamentais de todos nessa sociedade em embrião; há países (tipicamente ocidentais) que se têm esquecido de alimentar a liberdade participada, o que vai gerando uma certa anemia social permiável ao controle social de uns pequenos grupos na sombra, que terão tanta mais força quanto mais a indiferença avançar. Que sensibilidade para TODOS (re)pensarmos o modelo de desenvolvimento que estamos a construir? Onde estão os lugares, dos formais aos informais, para estas questões virem à ribalta e serem plataforma de diálogo, encontro, perspectiva de um futuro comum para TODOS e CADA UM?
3. Nos últimos anos tem crescido a noção e necessidade de uma cidadania assumida na vida cívica diária. Certamente que nesta cidadania pretendida não está inscrita a limitada visão provinda da Revolução Francesa (1789), quando nos direitos do homem e do cidadão não havia ainda lugar para a dignidade do ser humano. O regresso do discurso das cidadanias – espelhado em tantos movimentos cívicos - certamente quererá despertar um adormecimento generalizado naquilo que deverão ser as preocupações de TODOS, não só no cumprimento dos direitos e deveres (como é típico da cidadania) mas numa abertura disponível para a construção social ética e dignificante (como sabemos a lei – pedagógica - não pode ser o centro de tudo, até porque nem tudo o que é legal é ética e dignamente correcto). Nas nossas sociedades, viveremos ainda (ou já) numa mentalidade generalizada em que a preocupação das coisas de cada um é o centro de tudo? E a preocupação comunitária pelo bem de TODOS? Sem esta raiz a comunidade desaparece e a democracia seca…
4. A questão do modelo de desenvolvimento (?) não pode ser lateral, hoje, a todos os processos sociais, da formação/educação à política/gestão económica. O planeta que nos pede que o salvemos ecologicamente propõe-nos que nos salvemos a nós próprios numa abertura humana, sensível e solidária, capaz de reflectir abertamente para redefinir o modelo em que nos temos construído. À desigualdade social que cresce, geradora de profundos desequilíbrios que alastram, torna-se imperioso propor paradigmas de um estilo de vida que não assente no consumo do “ter” mas que revalorize bem mais o “ser”. Neste contexto, em tempos de globalização diária, uma obra de referência de Amartya Sen (prémio nobel da economia 1998), «O Desenvolvimento como Liberdade» (2003, Gradiva), propõe-nos a reflexão sobre o essencial: terá de ser a Liberdade o eixo que determina o desenvolvimento humano e não os euros, os dólares ou as menos claras vontades políticas unilaterais. Que também nas nossas sociedades a liberdade (empenhada por isso responsável no debate, na reflexão para decisões comunitárias) seja o caminho do aprofundamento da nossa própria democracia. Que modelo de desenvolvimento? Estamos disponíveis para mudar a bem de todos? E quem, no panorama mais elevado, nos dá esse generoso exemplo congregador?


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