de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 10 Junho , 2007, 13:06
ARTE E CIÊNCIA, NO PÚBLICO


No segundo caderno do PÚBLICO, P2, há, diariamente, outras informações, para além das habituais notícias. Pequenos textos, é certo, que dizem muito.
Logo na página 2, na primeira coluna, podemos ler um qualquer tema, sempre interessante, sobre o nosso património artístico, valiosíssimo, a que normalmente não temos acesso. Muitos de nós, quando viajamos, raramente procuramos os museus, que os há por toda a parte, felizmente. Com estes textos, pode ser que nos habituemos a registá-los, para os vermos, ao vivo, quando passarmos pelas povoações que os acolhem. No PÚBLICO de hoje, por exemplo, podemos ficar a saber que o Busto de Santa Catarina de Alexandria integrava a antiga banqueta, constituída por seis bustos de santos, igual número de tocheiros e um crucifixo, possuindo ainda o museu o de Santo António. O busto de Santa Catarina, da primeira metade do século XVIII, pode ser apreciado no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.
Na página 3 está também, todos os dias, um pequeno escrito de divulgação científica. Desta feita, a jornalista Ana Gerschenfeld revela-nos que, a partir de estudos elaborados no âmbito da ONU, “um batalhão de peritos concluiu que, devido a uma combinação de alterações climáticas e de destruição dos habitats, a sobrevivência de 400 a 900 espécies de aves vai ficar seriamente ameaçada nas próximas décadas”.
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 10 Junho , 2007, 11:56

A LARANJEIRA
DE SANTA ISABEL



Caríssima/o:


Encontrei esta lenda na sala de aula do professor Saturnino, nas Práticas que faziam parte curricular do Curso do Magistério; após as orientações teóricas dos pedagogos e mestres da Didáctica, íamos para as escolas primárias onde professores devidamente credenciados nos orientavam na leccionação (planos, preparação de material, contacto com os alunos, perfil psicológico e ... a sua maneira de ser e de estar). Creio que muitos de nós seremos capazes de recitar de memória esta saborosa poesia!


«Depois da morte del-rei D. Dinis, sua esposa D. Isabel resolveu ir em peregrinação a Santiago de Compostela. Já o povo lhe chamava Rainha Santa, e acudia aos lugares por onde ela passava, a implorar a sua caridade.
Quando seguia pela estrada de Coimbra ao Porto, entrou D. Isabel numa casa que servia de estalagem, a descansar das fadigas da jornada. Estava lá uma criança cega de nascença, e bastou que a Santa Rainha lhe pusesse a mão na cabeça para que os olhos se lhe abrissem à luz do Sol.
- Real Senhora, como vos hei-de agradecer tamanho milagre? - perguntou a mãe da criancinha.
- Está muito calor! - disse D. Isabel. - Dá-me uma laranja do teu quintal.
Grande foi a confusão da mulher, porque só tinha laranjas azedas; mas, para não desobedecer à Santa, correu a buscá-las.
Ao comer uma, D. Isabel deixou cair no chão uma semente, e desta nasceu uma laranjeira que dava laranjas doces, cada uma das quais trazia junto ao pé as cinco quinas das armas de Portugal.
Nessa terra, chamada Arrifana de Santa Maria, nunca mais se puderam esquecer os milagres da Rainha. A árvore secou há muito; mas toda a gente ainda fala na laranjeira de Santa Isabel.»
[Livro de Leitura da 3.ª Classe, 4.ª edição, 1958, Lello Editores, pg. 54]

Ao recordar os dias tórridos que vivi, calcorreando as calçadas de Coimbra, acode-me esta lenda e vem-me à boca o sumo das laranjas que, ainda crianças, ali no nosso canto, nos vendiam como “laranjas de Mira”. Com este sabor azedo fácil me é imaginar a aflição e a confusão da boa mulher!
E estou convencido que qualquer um de nós gostaria de ir por um olho para fazer uma enxertia de tão maravilhosa laranjeira...
Afinal há lendas que até nos maravilham com o bom e o belo!


Manuel

Editado por Fernando Martins | Domingo, 10 Junho , 2007, 11:51

REZAR PARA QUÊ?
REPENSAR A ORAÇÃO
DE PETIÇÃO




Não há palavras, diante de pais em choro pela perda de um filho: "Tanto pedimos a Deus que nos salvasse o nosso filho, e ele não nos ouviu!..."
Uma vez, uma senhora ainda jovem, muito doce, a quem a mãe morrera seca com o sofrimento, atirou-me: "Sabe? Às vezes penso que Deus não pode ajudar a todos. São tantos a pedir... Coitadinho!..."
É verdade: Deus não pode ouvir as orações todas nem satisfazer todos os pedidos.
O teólogo Andrés Torres Queiruga disse-o de modo chocante, quase brutal, mas, para o crente reflexivo, verdadeiro. Tomemos como exemplo esta oração: "Para que as crianças de África não morram de fome, oremos ao Senhor." "Objectivamente, uma petição deste tipo implica o seguinte: 1. que nós somos bons e tentamos convencer Deus a sê-lo também; 2. que Deus está passivo enquanto o não convencermos, se formos capazes; 3. que, se, no domingo seguinte, as crianças africanas continuarem a morrer de fome, a consequência lógica é que Deus não nos ouviu nem teve piedade; 4. que Deus, se quisesse, podia solucionar o problema da fome, mas, por um motivo qualquer, não quer fazê-lo." Conclui: "Sem pretendê-lo conscientemente, mas presente na objectividade do que dizemos, estamos a projectar uma imagem monstruosa de Deus: não só ferimos a ternura infinita do seu amor sempre disposto a salvar como, além disso, acabamos por dizer implicitamente algo que não nos atreveríamos a dizer do mais canalha dos humanos."
Quando se reflecte, percebe-se claramente que a chamada oração de petição exige ser repensada. Deus, porque é Força criadora infinita, não intervém de fora, e quem acredita que Deus é Amor não pode estar a implorar-lhe que tenha piedade. Fazê-lo é contradizer-se.
Compreende-se - isso sim - que o crente, na sua dor e frente ao horror do mundo, ore, fazendo perguntas e gritando com Deus. Job, sentindo-se inocente, queria levar Deus a um tribunal que julgasse com independência. Está na Bíblia! Jesus rezou na cruz: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" E, como sabia o teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer, executado pelo nazismo, o crente terá cada vez mais de aprender a "viver diante de Deus e com Deus sem Deus".
Não há Homem religioso que não reze. Mas, como diz o Evangelho, é preciso pedir o que a maior parte das vezes se não quer pedir: o Espírito Santo e a conversão. Na verdade, não se trata de converter Deus à vontade humana e aos seus caprichos, ao seu orgulho e vaidade, à sua avareza e ganância, mas de o Homem se converter ao que Deus quer: simplicidade, capacidade de partilha, humildade, paciência e todas aquelas virtudes que já não estão muito em uso, mas tornam o Homem humano e trazem paz.
Quem não deseja ardentemente estar com o Amor? Rezar é marcar encontro com Deus, Anti-mal e Fundamento de todo o ser - Deus é Presença intimíssima e infinitamente activa em todo o real. Nesse encontro, o Homem faz então a experiência da religação à Fonte criadora e dinamizadora de tudo, reconcilia-se com a finitude e, depois de ter descido ao mais profundo, volta ao quotidiano da vida com esperança e serenidade, aquela serenidade de que fala Santa Teresa de Ávila: "Nada te perturbe. Nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem Deus nada lhe falta. Só Deus basta."
No entanto, a serenidade não significa passividade nem resignação. Pelo contrário, quem foi ao encontro do Deus que, como diz o Evangelho, mora no oculto, "identifica-se" com ele e com o seu amor e entrega-se ao cuidado da sua obra, a começar por quem mais precisa: o pobre, o escarnecido, o humilhado, o doente, o chicoteado, o velho, o deficiente, qualquer um que sofre. Afinal, é mesmo possível, por exemplo, nós acabarmos com a fome em África!
O Evangelho diz que Deus sabe do que os seres humanos precisam, antes de lho pedirem. Por isso, previne contra o longo palavreado vão de quem reza. Manda é o silêncio e a paz interior, para que ele possa entrar: "Tu, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai."
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