de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 22 Maio , 2007, 12:45



AVALIAR ALUNOS É TAMBÉM
AVALIAR PROFESSORES

Por notícias de hoje, parece que alguns professores estão um pouco incomodados com as avaliações a que estão a ser sujeitos os alunos dos 4º e 6º anos. Dizem eles que, pelos vistos, são os professores de Português e de Matemática que estão a ser avaliados. E a ser assim, o Ministério da Educação devia dizê-lo abertamente. Há aqui um equívoco qualquer, isto é, há professores que pensam que os alunos avaliados não mostram, muitas vezes, o trabalho dos seus professores. Mostram sempre, mas ainda mostram capacidades e incapacidades de alunos e de docentes, ambientes nada favoráveis à aprendizagem, falta de recursos didácticos e de pessoal de apoio, entre outras razões, certamente.
É sabido que há professores sem vocação para o ensino, sem capacidade para estabelecerem empatias com alunos, sem estabilidade profissional, longe das suas famílias, sem ligação efectiva e afectiva às escolas onde trabalham, sem qualquer apoio da comunidade educativa, sem conhecimentos do meio, em suma, sem condições que lhes assegurem trabalhos rentáveis.
Penso que nos dias de hoje todos temos de ser avaliados. Seja em que profissão for, a produtividade e a competitividade exigem gente trabalhadora, competente, disponível, com capacidade de adaptação às novas tecnologias, aberta à inovação. E os professores, mais do que ninguém, têm de ser exemplo disso, porque deles depende, em grande parte, a formação das novas gerações.
Sei que há alunos difíceis, famílias destroçadas que dão às escolas alunos vencidos à partida e revoltados contra tudo e contra todos.
Sei que certos professores não encontram condições ideais para um trabalho digno, condições essas que levem os alunos a entusiasmarem-se pela escola e pela beleza de saber mais.
Sei que há turmas terrivelmente indisciplinadas e crianças e jovens desmotivados. Mas também sei que há professores que não têm nenhuma vocação para o ensino e para lidarem com crianças e jovens de comportamentos anormais.
Em resumo, a avaliação de alunos conduz, inevitavelmente, à avaliação dos professores. E não é preciso o Ministério andar a dizer isso. Toda a gente de bom senso sabe que é assim. Porém, é importante que se diga que será urgente averiguar a razão do fracasso, se os alunos mostrarem que estão mal preparados. É que a culpa pode não ser apenas deles.


Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Terça-feira, 22 Maio , 2007, 11:16

MOTE
PARA UMA TELENOVELA



Primeiro, a imaginação. Nem censura, nem re-pressão, nem redução de meios, nem diminuição de notícias. Apenas isto: libertar o povo da inquietação desatinada dos telejornais. Caiu um avião com 400 pessoas na Patagónia? Não há necessidade de afligir potenciais viajantes com essa notícia. Um tornado arrasou 20 cidades? Que adianta a notícia? Explodiram 20 bombas e mataram 800 pessoas? O vereador roubou e fugiu? Mais uma criança raptada? O desemprego aumenta? Mas não há outras novidades?
Para tranquilidade do povo, as televisões fizeram um pacto: dar apenas boas notícias, agradáveis, que o povo já tem muito com que se atribular. Assim, uma troca de horário: às 20 horas a telenovela em forma de notícias. Depois, em ficção, todos os dramalhões da terra, que são verdade, mas não naquela hora. As pessoas divertir-se-iam com a violência da irrealidade e a irrealidade do bem e da paz. Longe da fúria e da barbaridade das imagens acontecidas no dia, na hora, em directo.
Que há, neste todo, de mentira e verdade? Como ficam um cidadão e uma sociedade navegando nestas águas que ninguém sabe analisar como límpidas ou salobras?
Vem a pergunta: o problema será da tecnologia que tornou inevitável sabermos tudo sobre a hora ou mesmo antes de acontecer? E a rádio, a televisão, o telemóvel, a net e o correio electrónico?
De que falam as pessoas? Que factos e fantasias enchem as suas mentes, alimentam os seus monólogos, diálogos, discussões, afirmação, recusa, instintos e nobreza? Falam bem do chefe, do colega, da sogra, do presidente? Em cada ser começa esta complexidade. Na educação das crianças com as suas agressões, transgressões, mentiras. Nos jovens que desafiam, em rotura, qualquer lei convencionada e sobretudo imposta. E por aí adiante, nos mecanismos do afecto, da sexualidade, da auto-afirmação, da defesa como castelo do eu, da intriga, divertimento... ou nos simples desaires da aldeia…
Será o ser humano apenas um animal com vastas áreas de selva e curtas fímbrias de nobreza e transcendência? Será que o bem, o belo, a dádiva, a festa, a harmonia, não têm dimensão e brilho suficientes para preencher o quadro da vida que todos nós gostamos de desenhar na nossa existência?
Uma pergunta mais: os agentes de comunicação sujeitos ao poder económico e político como podem gerar outro tipo de media? E quem teria autoridade e capacidade de os controlar? O poder? Económico, político, popular anónimo?
Bom mote para uma telenovela não muito cor-de-rosa.

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