
À VIRGEM SANTÍSSIMA
Num sonho todo feito de incerteza
De nocturna e indizível ansiedade,
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza…
Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade,
Era outra luz, era outra suavidade
Que até nem sei se as há na natureza…
Um místico sofrer… uma ventura
Feita só do perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira…
Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa…
E deixa-me sonhar a vida inteira!
Diz Oliveira Martins: “Estou certo, absolutamente certo, de que este livro, embora sem eco no espírito vulgar que faz reputação e dá popularidade, há-de encontrar um acolhimento amoroso em todas as almas de eleição, e durar enquanto houver corações aflitos, e enquanto se falar a língua portuguesa.”
Penso que ainda dura esse acolhimento por parte de muitos portugueses com sensibilidade para as artes. Eu próprio me encontro nesse rol. Em férias, sobretudo, gosto de reler os clássicos e quantos me tocam mais intimamente. Por isso, aqui fica esta minha sugestão para os que podem gozar férias neste ano de 2007.
Só mais uma achega: O poema que relembro aos meus leitores, dedicado à Virgem Santíssima, não significa que Antero tenha professado o catolicismo ou até o cristianismo, embora tenha sido influenciado pelos seus valores, que bem conhecia. Aliás, isso acontece com muito boa gente dos nossos quotidianos.
F.M.