
“Renovo o apelo para que os Estados reduzam as suas despesas militares para o armamento e tomem em séria consideração a ideia de criar um fundo mundial destinado a projectos de desenvolvimento pacífico dos povos” – afirmou o Papa.
Mais adiante, Bento XVI salienta que “A produção e o comércio de armas estão em contínuo aumento e vão assumindo um papel decisivo na economia mundial. Há uma tendência para a sobreposição da economia militar à civil.”
Admitindo que cada Estado tem o direito à sua própria defesa, o Papa não deixou de referir que este direito tem que estar sustentado nos “princípios da “suficiência” e da “proporcionalidade”, tendo em conta os “perigos que o Estado corre, pelo que não é lícito qualquer nível de armamento.”
“Podem existir – observa o Papa – guerras desencadeadas por graves violações dos direitos humanos, pela injustiça e pela miséria, mas não se deve esquecer o risco de autênticas guerras do bem-estar, isto é, causadas pela vontade de expandir ou conservar o domínio económico em prejuízo dos outros.”
“No plano económico é necessário o empenho das autoridades para que a economia seja orientada para o serviço da pessoa humana e da solidariedade e não só para o lucro. No plano jurídico, os Estados são chamados a renovar o próprio empenho, em particular o respeito dos tratados internacionais, já em vigor, sobre o desarmamento e o controlo de todos os tipos de armas, bem como a ratificação e a consequente entrada em vigor dos instrumentos já adoptados” – adianta Bento XVI na sua mensagem.
O Papa pede esforços contra a proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre, “que alimentam as guerras locais e a violência urbana, e matam, demasiadas pessoas, todos os dias, no mundo inteiro”, terminando a sua comunicação com palavras de esperança: ”Chegou a hora de mudar o curso da história, de recuperar a confiança, de cultivar o diálogo, de alimentar a solidariedade perseguindo o caminho de “um humanismo integral e solidário.”
Já o secretário do CPJP, D. Giampaolo Crepaldi, frisou que, no decorrer dos trabalhos, foi repetida uma posição favorável ao uso do nuclear, desde que “para fins pacíficos”, ao mesmo tempo que os seus participantes se mostraram preocupados com os “sinais inquietantes”, surgidos nos últimos tempos, que fazem temer uma “militarização do espaço”.
Ainda ontem, dia 14 de Abril, partilhava, com os caros leitores, um texto com o título “ONU: QUE FUTURO?”, em que procurava fazer uma breve reflexão sobre o papel desta Organização no fomento da paz, da justiça e do desenvolvimento dos povos e do mundo, que, como escrevi na altura, deixa, a meu ver, infelizmente, muito a desejar.
No mesmo dia, a Agência Ecclesia transmitia-nos notícias relacionadas com os trabalhos, neste passado fim-de-semana, do Conselho Pontifício Justiça e Paz, no Vaticano, os quais, de algum modo, estão interligados com o texto que escrevi.
O mundo atravessa, a vários níveis, uma crise séria e profunda e a tendência parece ser a do seu agravamento. Os cristãos e os homens de boa vontade têm um compromisso com a esperança e o amor, do qual não podem abdicar nem responsabilizar só os outros.
Vítor Amorim