PELO QUINTAL ALÉM – 24
O MALMEQUER
A
todas/os que desfolham
malmequeres
Caríssima/o:
a. Para escrever, mesmo sobre assunto que nos prenda e submeta, torna-se uma necessidade criar silêncios e cortar com os puxões da vida. Não admira que o malmequer me esteja a chamar insistentemente e quase a implorar a minha disponibilidade... e eu, nada... Só a abelha que pousou no centro amarelo daquela flor me sorriu à página branca e conseguiu que as teclas se submetessem às regras da escrita... (Para evitar falsos juízos, não é o insecto que aparece na imagem!...)
De facto, no quintal, os malmequeres são uma nota de cor na verdura que tudo subjuga.
e. Pela Gafanha, o malmequer espreitava aqui e ali com a sua flor branca e mãos piedosas aprimoravam-se nos arranjos dos altares ou nas campas dos familiares.
i. E é e era pelas suas flores que esta planta se acarinhava...
o. ... pois nem se utilizava em chá, embora nos digam que: “Toda a planta é considerada medicinal, com muitas indicações: expectorante, anti-séptica e cicatrizante...; impede a formação de pus em cortes e queimaduras, favorecendo a granulação dos tecidos que apressam a cicatrização. Bom para contusões e frieiras...; também a infusão é recomendável para lavar a boca, contra as doenças das gengivas; excelente em loções para o rosto...” Como sempre, em excesso, pode provocar depressão, nervosismo, falta de apetite, náuseas e até vómitos. Em culinária, afirma-se que as suas pétalas são comestíveis e podem usar-se para dar cor de açafrão e um leve gosto picante ao arroz, sopas, queijo-cremes, iogurte, manteiga, omeletes, pratos com leite, pães e bolos. u. E algumas curiosidades: 1.Os antigos egípcios acreditavam que possuía propriedades de rejuvenescimento. Os hindus utilizavam-na para decorar altares e os persas e gregos guarneciam e aromatizavam a comida com as suas pétalas douradas. 2.Uma das lendas que a envolvem diz que a menina que pisar descalça as suas pétalas, começará a entender a linguagem dos pássaros. 3.O símbolo do voluntariado da Liga Portuguesa Contra o Cancro é um malmequer, que, como todos sabem, é uma flor que se dá a quem se Quer Bem. É uma flor singela, que brota espontaneamente na Natureza; tal como o Voluntário, dá cor e alegra o ambiente sem pedir nada em troca. 4. E terminemos com a letra de uma canção de Raul Solnado, da revista “P'rà frente Lisboa”, de 1972, e que lhe ouvimos no ZIP-ZIP: Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Malmequer é branco, branco Que outra cor querem que escolha Se te querem ver bonito Por que te arrancam as folhas? Por muito humilde que sejas Malmequer ó meu amigo Lá vem o dia da espiga Que tens honras de trigo Refrão Malmequer tens pouca flor Mesmo assim és um valente Antes ser dez réis de flor Do que ser dez réis de gente És uma flor do povo Vem do povo a tua força Estás bem agarrado à terra Não há vento que te torça Refrão Malmequer ou bem-me-quer És a flor mais desprezada Uns com muito, outros com pouco E a maioria sem nada És branco da cor da paz Mas seja lá por que for Há para aí uns malmequeres Que andam a mudar de cor Refrão Regam-te a seiva com esperança Mesmo assim não és feliz Há muitas ervas daninhas Que te atacam a raiz Malmequer se fores regado Num dia de muito Sol Cresce, cresce, cresce, cresce Para seres um girassol Manuel