de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Domingo, 06 Junho , 2010, 07:30

 

PELO QUINTAL ALÉM – 24

 

 

 

 

O MALMEQUER

 

A

todas/os que desfolham

malmequeres

 

 

Caríssima/o:

 

a. Para escrever, mesmo sobre assunto que nos prenda e submeta, torna-se uma necessidade criar silêncios e cortar com os puxões da vida. Não admira que o malmequer me esteja a chamar insistentemente e quase a implorar a minha disponibilidade... e eu, nada... Só a abelha que pousou no centro amarelo daquela flor me sorriu à página branca e conseguiu que as teclas se submetessem às regras da escrita... (Para evitar falsos juízos, não é o insecto que aparece na imagem!...)

De facto, no quintal, os malmequeres são uma nota de cor na verdura que tudo subjuga.

 

e. Pela Gafanha, o malmequer espreitava aqui e ali com a sua flor branca e mãos piedosas aprimoravam-se nos arranjos dos altares ou nas campas dos familiares.

 

i. E é e era pelas suas flores que esta planta se acarinhava...

 

o. ... pois nem se utilizava em chá, embora nos digam que:

 

“Toda a planta é considerada medicinal, com muitas indicações: expectorante, anti-séptica e cicatrizante...; impede a formação de pus em cortes e queimaduras, favorecendo a granulação dos tecidos que apressam a cicatrização. Bom para contusões e frieiras...; também a infusão é recomendável para lavar a boca, contra as doenças das gengivas; excelente em loções para o rosto...”

Como sempre, em excesso, pode provocar depressão, nervosismo, falta de apetite, náuseas e até vómitos.

Em culinária, afirma-se que as suas pétalas são comestíveis e podem usar-se para dar cor de açafrão e um leve gosto picante ao arroz, sopas, queijo-cremes, iogurte, manteiga, omeletes, pratos com leite, pães e bolos.

 

u. E algumas curiosidades:

 

1.Os antigos egípcios acreditavam que possuía propriedades de rejuvenescimento. Os hindus utilizavam-na para decorar altares e os persas e gregos guarneciam e aromatizavam a comida com as suas pétalas douradas.

 

2.Uma das lendas que a envolvem diz que a menina que pisar descalça as suas pétalas, começará a entender a linguagem dos pássaros.

 

3.O símbolo do voluntariado da Liga Portuguesa Contra o Cancro  é um malmequer, que, como todos sabem, é uma flor que se dá a quem se Quer Bem. É uma flor singela, que brota espontaneamente na Natureza; tal como o Voluntário, dá cor e alegra o ambiente sem pedir nada em troca.

 

4. E terminemos com a letra de uma canção de Raul Solnado, da revista “P'rà frente Lisboa”, de 1972, e que lhe ouvimos no ZIP-ZIP:

 

Português, ó malmequer

Em que terra foste semeado?

Português, ó malmequer

Cada vez andas mais desfolhado

 

Malmequer é branco, branco

Que outra cor querem que escolha

Se te querem ver bonito

Por que te arrancam as folhas?

 

Por muito humilde que sejas

Malmequer ó meu amigo

Lá vem o dia da espiga

Que tens honras de trigo

 

Refrão

 

Malmequer tens pouca flor

Mesmo assim és um valente

Antes ser dez réis de flor

Do que ser dez réis de gente

 

És uma flor do povo

Vem do povo a tua força

Estás bem agarrado à terra

Não há vento que te torça

 

Refrão

 

Malmequer ou bem-me-quer

És a flor mais desprezada

Uns com muito, outros com pouco

E a maioria sem nada

 

És branco da cor da paz

Mas seja lá por que for

Há para aí uns malmequeres

Que andam a mudar de cor

 

Refrão

 

Regam-te a seiva com esperança

Mesmo assim não és feliz

Há muitas ervas daninhas

Que te atacam a raiz

 

Malmequer se fores regado

Num dia de muito Sol

Cresce, cresce, cresce, cresce

Para seres um girassol

                                                                                                                                                        

 

Manuel        

 


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