PELO QUINTAL ALÉM – 23
O BUXO
A
ti António da Rita
Caríssima/o:
a. A imagem do labirinto traz-nos à ideia o buxo; e, de facto, esta é a planta ideal para estes trabalhos de engenharia de jardinagem. No nosso quintal ficamo-nos por umas sebes que tentam imitar umas empenadas ameias de castelos quase em ruínas.
e. E apesar de o buxo ser frequente no Médio Oriente e na Europa e de em Portugal ser cultivado de Norte a Sul, pelas Gafanhas, apenas o encontrávamos a marcar os caminhos do cemitério. Por que seria (ou será)?
i. A madeira de buxo é extremamente dura, compacta e resistente.
Em virtude desta dureza, os antigos utilizavam o buxo na fabricação de vergastas, varapaus (que os homens usavam como defesa pessoal), bengalas, colheres de pau, piões, pentes, flautas e clarinetes e tábuas de escrever. (Estas últimas eram recobertas por uma camada de cera e, depois, podia-se escrever sobre uma base sólida.) Boa também para travincas ou chavelhas.
Ainda hoje é empregada no fabrico de bolas de bilhar e de objectos de uso doméstico bem como de instrumentos musicais, matemáticos e náuticos.
Mas para a pequenada do nosso tempo o encanto ia para os piões torneados pelo ti António da Rita!
o. Propriedades medicinais indicadas para esta planta: antiasmática, anti-reumática, anti-sifilica , depurativa, diurética, laxante, purgativa,sudorífica, tónico capilar.
Logo, com várias aplicações: Para uso interno não deve ser consumido a não ser em pequenas doses devido ao seu teor narcótico. Há quem use em doenças de fígado e febre. Para cabelo, em lavagens com água quente e abafar. É também usado para o reumatismo, sífilis e suadouros.
Contudo, o seu uso deve ser evitado por grávidas, lactantes, e em casos de hipotensão e fraqueza geral. Não é recomendado para crianças em qualquer circunstância. Doses excessivas poderão causar transtornos no sistema nervoso, assim como perturbações gástricas.
E cuidadinho, porque podem mesmo causar vómitos, convulsões e até a morte.
u. Ora a juventude lembrar-se-á de O Rapaz de Bronze, de Sophia de Mello Breyner Andresen:
«Era uma vez um jardim maravilhoso, cheio de grandes tílias, bétulas, carvalhos, magnólias e plátanos.
Havia nele roseirais, jardins de buxo e pomares. E ruas muito compridas, entre muros de camélias talhadas. (...)
Ora num dos jardins de buxo havia um canteiro com gladíolos. (...)
- Os jardins civilizados - diziam eles - são sempre jardins de buxo.
Perto dos gladíolos estava um caramanchão com glicínias e bancos de azulejos.
- Nos jardins antigos - diziam os gladíolos - há sempre azulejos.
Os buxos, quando ouviam isto, sorriam e murmuravam com voz de buxo, que é uma voz pequenina, húmida e verde.
- Nos jardins antigos havia buxo e azulejos mas não havia gladíolos. (...)»
E entrando por este mundo da fantasia e da mitologia, onde facilmente viajamos pelo tempo, vemos que o buxo foi consagrado aos deuses Afrodite (beleza), Cibele( a grande mãe) e Hades (inferno), simbolizando ao mesmo tempo o amor, a fecundidade e a morte - em resumo, o ciclo da vida. Enfim, o buxo, permanecendo sempre verde, foi considerado símbolo de imortalidade e da eternidade. Então usa-se o buxo no dia de Ramos nos países nórdicos (no lugar das palmas preferidas em países quentes) e também se planta sobre os túmulos.
Procurando na Bíblia, encontramo-lo, por exemplo em
Isaías 41,19 - “Plantarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras; farei crescer nas estepes o cipreste, ao lado do olmo e do buxo”;
Isaías 60,13 - “A glória do Líbano virá a ti, e todos juntos, o cipreste, a faia e o buxo, para ornamentar meu lugar santo e honrar o lugar onde pousam meus pés”;
Eze 27,6 - “Fizeram os teus remos de carvalhos de Basã; os teus bancos fizeram-nos de marfim engastado em buxo das ilhas dos quiteus.”
E desejando-vos agradáveis trabalhos na poda do buxo, fica o
Manuel