de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 22 Maio , 2010, 08:30

 

 

 

 

Ares de Primavera

 

 

Maria  Donzília Almeida

 

 

Com as temperaturas a subir e a Primavera a mostrar-se em sua plena forma, a atenção que as flores nos despertam é o apelo da natureza a convidar-nos ao banquete! As formas, as cores, as fragrâncias, tudo conjugado com a sinfonia daqueles seres alados que nos sobrevoam e nos encantam, constituem uma verdadeira e muito requintada iguaria. E nós, simples mortais, nem sabemos, muitas vezes, dar-lhe o devido valor.

Mais uma vez evoco, neste contexto de tempo primaveril, a observação perspicaz e muito sentida daquela criança que perante o espectáculo de um céu diafanamente azul, atirou esta exclamação: - O céu estava tão azulinho, tão azulinho, que mais parecia um moranguinho!

A sinestesia resultante da conjugação de sensações visuais e gustativas, despoletada pela intensidade da beleza, ficou, assim, expressa naquela apreciação infantil.

Foi neste cenário de apogeu da estação, que aquele gesto de observar as flores e colher um exemplar, ocorreu àquela aluna oriunda dali perto, onde as casas foram costuradas às tirinhas! O comportamento dessa aluna era marcado por alguma instabilidade, passe o eufemismo, pois na boca de outro professor, “dar-lhe água pela barba” seria a forma mais  adequada para a caracterização.

Com um ar circunspecto abeirou-se da teacher e depositou na sua mesa de trabalho um bouquet de rosas silvestres. Aparentemente um gesto banal, sem grande significado, foi no entanto, enaltecido pela receptora da dádiva. Era uma tentativa muitas vezes usada de cativar a aluna para o acto pedagógico que ia seguir-se.

As rosas foram aproveitadas para explorar algum novo vocabulário, enquanto a turma inalava o perfume que as mesmas exalavam para o ar.

No fim da aula a aluna deu um abraço à professora, como que a selar o compromisso que fizera no início, de... se portar bem! O cartão acoplado ao bouquet, em vez da dedicatória, trazia uma declaração de intenções!

Será que as flores, neste caso as rosas, tiveram o condão de transformar a irrequietude da criança, numa postura serena, tão pouco comum naquela aluna?

Se assim foi, poderemos dizer, neste caso, que os fins justificam os meios. Aquelas rosas silvestres, existentes no jardim da escola exibindo um vermelho escarlate, despertaram a cobiça, o desejo daquela aluna. E deste simples gesto, talvez tenha nascido algo de muito valioso.

De pequenos gestos se colhem grandes significados, sem se criarem quaisquer compromissos.

 

19.05.10

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