PELO QUINTAL ALÉM – 21
O LOUREIRO
A
ti Zézé (das Caldeiradas)
Caríssima/o:
a. Boa caldeirada de enguia exige folha de loureiro; mas não só a caldeirada, já que cozinha que se preze, desde os rojões aos enchidos, o não dispensa. E esta seria uma boa razão para o nosso loureiro ter o seu espaço. Durante muitos anos rodeavam o quintal extensas sebes que foram sacrificadas pela ramada de americano...
e. De onde a onde aparecia um loureiro na paisagem da Gafanha e o seu dono era importunado pela vizinhança em dia de pesca abundante ou pela matança do porco.
i. As suas folhas libertam um aroma muito agradável, sendo por isso frequentemente utilizadas como tempero na cozinha tradicional.
É também muito utilizado como planta ornamental em parques e jardins.
Penduravam-se ramos pela casa para refrescar e perfumar o ar, mas dizia-se também para afugentar as moscas e se se pusessem folhas nas gavetas e armários ajudavam a afastar traças.
As flores masculinas e femininas desenvolvem-se em plantas separadas.
Os melros e outra passarada apreciam as suas bagas pretas.
o. Já acima se falou do uso culinário das folhas de loureiro; fica bem dizer: o seu uso é adequado em pratos que exigem cozimento longo e suave; devido ao seu aroma forte, a quantidade deve ser bem doseada, para não camuflar o aroma e o sabor dos outros ingredientes.
Na nossa região não se tinham nem têm em conta as suas propriedades medicinais, no entanto, afirma-se que chá à base de louro, além de relaxante muscular, auxilia em casos de má digestão (azia, mau hálito e indisposição estomacal)...
u. O louro é símbolo da poesia, das letras e do sucesso. A planta é conhecida desde a Grécia antiga, onde as coroas feitas de folhas de louro eram entregues aos vencedores de competições como símbolo da vitória. Daí a expressão "louros da vitória" e o termo "laureado". A palavra “bacharelato” vem do latim “baccalaurus”, o que quer dizer “ formando coberto de louros”. Laurissilva é o nome pelo qual é conhecida a floresta original da Madeira, aquela que já existia aquando da chegada dos descobridores portugueses. Esta designação provém do latim, Laurus (loureiro, lauráceas) e Silva (floresta, bosque). Na Europa, durante a Idade Média, os habitantes dos vilarejos costumavam queimar folhas de louro em praças públicas, pois acreditavam que isto combateria a peste que assolava a região. Como estamos sempre em aprendizagem: no início do Cristianismo, os mortos eram cobertos de louro nas suas sepulturas para simbolizar a vida eterna, porque a planta permanece sempre verde. E no reino da lenda veja-se o que tem para nós Eduardo Sequeira: “Apollo apaixonando-se doidamente por Daphne, filha do rei Penêo, moveu-lhe uma tão intensa perseguição, que esta, para lhe poder fugir, conseguiu que os deuses a transformassem em loureiro. Apollo quiz que o loureiro lhe fosse consagrado tecendo com elle uma corôa, que, depois, sempre trouxe comsigo; significava a referida corôa, que se a donzella não lhe pertenceu em vida, possuia porém o vegetal em que fôra transformada. Baccho, em seguida ás gloriosas victorias na India adornou-se com o louro, e Esculapio fez o mesmo depois das maravilhosas curas que realisou e que lhe deram fama eterna. Os romanos adoptaram o louro como simbolo da victoria.” E o nosso povo canta: O loureiro é pau verde Que racha de nó a nó; Tu falas para quem queres, Eu falo para ti só. O loureiro é planta verde Que se planta p’los quintais. És tu , ó meu lindo amor, O alívio dos meus ais. Manuel