INDIGNAÇÃO SOCIAL
Georgino Rocha
1. Uma onda de indignação ética perpassa em toda a sociedade. Justificadamente. O que se anuncia para aliviar a angústia gerada pela “crise”, vem agravar a vida de quem não tem, não sabe ou não pode. A grande maioria da gente simples, a mais sacrificada, sente-se “usada” como recurso fácil, mealheiro à disposição, mão de obra barata.
A revolta, que lhe dá força, tende a aumentar e pode vir em breve a provocar fortes convulsões sociais e políticas. A injustiça esgota a paciência e a união faz a força.
2. A esta consciência cívica junta-se, reforçando-a, a mensagem cristã. Tanto a que brota do Evangelho como da reflexão teológica e dos ensinamentos do magistério da Igreja.
Jesus deixa-nos exemplos maravilhosos de atitudes pessoais e directrizes claras que podem inspirar quem tenha de gerir o bem comum universal. “Parte, reparte e comparte” o que é seu e, num extremo de generosidade, faz-se eucaristia, memorial constante de uma doação sem limites.
No seu seguimento, pôde o Vaticano II repetir uma das frases mais célebres e expressivas dos tempos iniciais da Igreja: Alimenta o que morre de fome, porque se não o alimentas, mata-lo. Ou esta: Quem se encontra em situação de necessidade extrema tem o direito de tirar das riquezas alheias o necessário para si mesmo.
E Santo Agostinho, falando sobre a posse de bens necessários para a vida, afirma: Em caso de dúvida, sempre será melhor e mais seguro renunciar porque quando tu tens e o teu irmão não, ocorrem duas coisas: Ele carece de dinheiro e tu, de justiça.
E muitas outras indicações éticas e morais, tanto a nível pessoal como comunitário, fazem parte do pensamento social cristão, designadamente dos últimos Papas, e urgem uma intervenção ousada e inteligente para que se venha a criar uma “nova ordem” mundial.
3. A desobediência civil dos pobres e espoliados está na “ordem do dia”.A objecção de consciência também, sobretudo na área fiscal. É preciso uma reflexão aprofundada e alargada porque a política parece não estar ainda amadurecida para estes assuntos. Os defensores dos direitos humanos e todos os que colocam a pessoa, toda a pessoa, no centro da ordem social e económica, não podem gastar mais tempo em beneficências que façam esquecer esta urgência.
Pessoa, vida digna, bens necessários para todos constituem um tripé em que assenta a qualidade democrática de toda organização social.