Durante três horas, entre entrevista e sessão fotográfica, não deu sinais de impaciência. Respondeu a tudo menos ao que diz mexer com a sua liberdade. António Barreto parece estar tão bem resolvido com a vida, que até dá inveja. Tem dúvidas e faz questão de as admitir. No final, pede para limparmos os lugares-comuns, como se não soubesse que nenhuma palavra sua é para deitar fora. O tempo foi curto, mas chegou para pensar.
Depois de tanto estudo e da análise de tantos números, sabe se os portugueses são felizes?
Essa é a pergunta do milhão de dólares. São rezingões, reclamam, protestam, queixam-se. Não creio que seja do ADN, tem razões históricas. É verdade que têm altíssimas aspirações, tantas quanto os países mais ricos da Europa. Conhecem esses países, já emigraram, foram de férias,sabem como funcionam, aspiram às c asas suíças, às férias francesas, aos serviços dinamarqueses, ingleses, à educação sueca. Acontece que do grupo de países ricos - do qual fazemos parte - Portugal é o último. A diferença entre o que temos e o que queremos é enorme.
Desejamos mas não conseguimos?
Quando um português vê como funciona uma escola secundária na Holanda ou em Inglaterra ou um centro de saúde na Suécia ou Suíça, fica impressionado com a rapidez, competência, prontidão, limpeza. E isso cria rezinguice, frustração. Daí não retiro infelicidade. Há uns 30 anos, veio ter comigo um matemático que trabalhava nas Nações Unidas. Estava preocupadíssimo porque queria encontrar um indicador, um só, que medisse a felicidade das pessoas. Fiquei estupefacto. O homem era muito capaz do ponto de vista técnico. Disse-lhe que acho que não se pode medir a felicidade das pessoas. Pode medir-se, perante certas situações, questões ou factos, um certo grau de satisfação. Mas a satisfação muda muito. A Fundação [Francisco Manuel dos Santos] vai ocupar-se disso. É possível, com barómetros que foram feitos há dez, vinte, trinta anos detectar a evolução das atitudes dos cidadãos perante certas coisas. Sabe-se, por exemplo, olhando para o Eurobarómetro, que a confiança dos portugueses, o grau de satisfação nalgumas instituições democráticas está em declínio. É possível medir perante coisas concretas.
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