Crónica de um Professor
Abraços grátis!
Maria Donzília Almeida
À festa da Páscoa, que celebrou a ressurreição de Cristo, parece que a natureza quis associar-se num acto de renovação e aí está no seu esplendor.
O sol, após um longo divórcio da terra, reatou as relações amistosas que fazem a harmonia das coisas, dos seres vegetais, das pessoas, em suma da vida. Andava toda a gente tristonha, sorumbática, pesarosa. O tempo tem de facto uma influência marcante no humor das pessoas, basta analisar o temperamento fogoso e extrovertido de quem tem o astro-rei como presença constante e de forte expressão - os Brasileiros.
Foi neste sábado de Abril, que em passagem pela Lusa Atenas, me encontrei, confortavelmente instalada, numa esplanada, em pleno Largo da Portagem.
O tempo estava delicioso, prenunciando os amenos dias de Verão, que nesta cidade, são por vezes tórridos. Alguns turistas já demandavam os encantos desta cidade dos amores, aparecendo com os seus trajes frescos e descontraídos e a avidez de absorver o máximo desta urbe académica. É bom ser turista em terra alheia! E....na nossa também!
A um canto da rua Visconde da Luz, um indivíduo arrancava ao saxofone os acordes de melodias antigas e modernas, criando à volta uma atmosfera mística e acolhedora. Sobranceira a todo este panorama, impunha-se do seu pedestal a estátua do Conimbricense Joaquim António de Aguiar, com o ar majestoso de quem serve a Respublica.
Usufruíamos dum momento de lazer, nesta moldura de beleza natural, ali consubstanciada nos jardins primorosamente cuidados, com uma leve brisa que acariciava os nossos rostos e a vista pacificadora do rio Mondego ao fundo, a espreguiçar-se entre as margens.
A interromper este cenário quase idílico, fui surpreendida pela vozearia e gargalhar de um grupo de pessoas que estavam nas mesas adjacentes. Que era? Um grupo de jovens, talvez teenagers, ostentava cartazes pretos com a seguinte inscrição, em letras brancas, rotundas: Abraços grátis! Só a visualização do texto já provocava hilaridade, quanto mais a concretização do mesmo! O que é certo é que toda a gente aderia à iniciativa dos abraços, fossem novos, fossem mais velhos! E, para que os turistas não fossem esquecidos, também havia a versão em língua inglesa: Free Hugs! Insólito, não? Mas a verdade é que em pequenos instantes, toda a gente saiu da modorra em que se encontrava e fez, ali mesmo, uma transferência de afecto, numa partilha que faz tão bem ao corpo e à alma. Com toda a literatura que se tem escrito sobre os efeitos positivos do abraço, é de acalentar, apoiar e promover iniciativas como esta. E....não é a juventude tão rica de criatividade, de altruísmo a par da sua irreverência que também faz parte da sua natureza? Abraços grátis? Venham muitos e bons....para temperar as relações humanas que às vezes, também azedam.....
11.04.10