Dia das mentiras - 1 de Abril
Maria Donzília Almeida
Diz-se que o Dia das Mentiras teve a sua origem na França, onde, a partir do séc XVI, se costumava comemorar o Ano Novo no dia 25 de Março, data em que tinha início a Primavera. Os festejos tinham a duração de uma semana, acabando no dia 1 de Abril.
Depois da adopção do calendário gregoriano, em 1564, o rei Carlos IX de França alterou o início do ano para 1 de Janeiro.
Alguns Franceses, resistentes à mudança, continuaram a celebrá-lo no dia 1 de Abril, seguindo o calendário antigo. Aproveitando-se desse facto, houve pessoas com espírito brincalhão e brejeiro que passaram a mandar presentes estranhos e a fazer convites para festas fictícias, nesse dia.
Para os Ingleses, ficou conhecido como The Fool’s Day, ou Dia dos Tolos.
Ainda tenho gravadas, na memória, algumas partidas que pregava a amigos e familiares e o gozo que isso me dava. Eram brincadeiras mais ou menos inocentes, em que todos se embrenhavam com expectativa e regozijo.
Ah! Mas isto acontecia nos tempos do obscurantismo fascista em que a vida era dominada pelo terror da ditadura. O Povo português vivia a opressão de um regime totalitário, em que a perseguição política tirava, às pessoas, a espontaneidade e a alegria de viver! Nestas condições adversas de vida, não admira que o Dia das Mentiras tivesse a implantação e a expressão enorme que se verificava. Podiam fazer-se até algumas tropelias mais ousadas, que acabavam sempre por ter desculpa! Era tudo mentira! Tinha sido tudo, pura brincadeira! Pelo menos nesse dia, a contestação que vivia aprisionada atrás do medo, escapava-se e explodia. Tempos maus, aqueles, em que era preciso esperar pelo dia 1 de Abril, para descomprimir!
Hoje? Quase ninguém fala no dia das Mentiras! P’ra quê? Depois da bendita Revolução dos Cravos, que miraculosamente instaurou a Democracia, que já não há opressão! Toda a gente, graças a Deus, pode dizer o que pensa, não há presos políticos, não há perseguições partidárias! Os cidadãos.... todos se respeitam (!?), não há superiores e inferiores, não há ricos nem pobres; ninguém cobiça a propriedade alheia, nem a mulher do próximo....
Nas escolas? Ah! A Escola é risonha e franca! Os alunos respeitam os professores e estes passam todos os alunos! Não há estudantes cábulas a chumbar de ano; não há castigos a atribuir aos alunos agressivos e malcomportados, porque simplesmente a indisciplina foi banida, na nossa querida democracia! Vivemos numa harmonia tão perfeita.... que dá gosto viver neste “jardim florido”, neste paraíso reconquistado!.
Por tudo o que ficou exposto.... fica justificado o quase esquecimento a que foi votado o arcaico Dia das Mentiras!
Hoje.... todos somos verdadeiros, honestos, íntegros!!!!!!
Ninguém precisa de mentir!