PELO QUINTAL ALÉM – 14
A AMOREIRA
A
António Manuel
e a todos os Alunos e Professores
que nas Escolas ainda criam
bichos-da-seda!
Caríssima/o:
a. A Primavera atrai-nos para a amoreira à cata das suas primeiras folhinhas que os bichinhos estão a nascer. Duas crescem no nosso quintal para podermos satisfazer aquelas necessidades e alguns pedidos que vão chegando.
e. Um ramo que levei da casa de meus Pais foi a 'semente' para aquelas duas e para outras que se têm espalhado nesta cidade do Porto.
Será que havia mais alguma amoreira na Gafanha?
i. Já todos sabemos que se aproveitam as folhas para a tal criação dos bichos da seda e as amoras são deliciosas, não nos preocupando muito na distinção da cor (mas as mais pretinhas...!).
Deixai-me transcrever uns parágrafos de um escrito infantil:
«A amoreira é uma árvore muito verdinha e muito bonita.
A amoreira como algumas árvores também serve para fazer sombra porque tem uma grande ramagem, que faz dela uma bela árvore. Como todas as outras árvores, as amoreiras, são muito importantes para o ambiente ser mais saudável e dar uma melhor qualidade de vida aos seres humanos e aos animais.»
o. No uso medicinal pouco há a dizer; em todo o caso e para satisfazer alguma curiosidade fica a notícia de que, em chá ou decocção e xarope se obtêm efeitos a não desprezar contra a solitária, a diarreia e as ulcerações da garganta; é ainda um bom febrífugo e vermifugo em virtude de eliminar os vermes intestinais. u. Já foi publicada uma lenda da amoreira como nos é contada em lendas de Macau. Eduardo Sequeira coleccionou lendas deliciosas contudo, a que dedica à amoreira, bem... quando os frutos se tingem, mudando de cor, indiciam tragédia. Conservando a ortografia, eis o texto: «AMOREIRA NEGRA. Esta amoreira que mais tarde recebeu o nome scientifico de Morus nigra, tem uma commovente e celebre historia de amor. Thisbe tinha marcado uma entrevista a Pyramo sob a copada folhagem de uma amoreira. Thisbe chegou primeiro, e emquanto esperava o bem amado appareceu uma leôa com a bocca ainda tincta do sangue da presa que acabara de devorar. A donzella cheia de medo, fugiu correndo, e o vento arrancando-lhe o veu, que lhe envolvia a cabeça, atirou-o junto da leôa, que o despedaçou, tingindo-o de sangue. Pyramo, ao chegar, vê o veu, e julgando que a amante fôra devorada pelas féras, cheio de desespero, suicida-se junto da arvore que por tanto tempo lhes abrigara os bellos e deliciosos sonhos de amor. Thisbe, volta pouco depois, e, dando com Pyramo moribundo, trespassa o coração com o mesmo ferro de que elle se servira e cáe morta sobre o corpo do amante. Os fructos da arvore brancos até então ficaram depois, para sempre, negros.» Recolhida em Baião, por José Leite de Vasconcelos e publicada no seu «Cancioneiro popular», fica a voz do povo: Fiz a cama na 'moreira E o travesseiro na 'mora; Coitadinha da menina Que de rico se namora! Chamais à 'moreira triste, Assim vós vos enganais; A 'moreira cria seda Com que vós vos asseais. Manuel