Gatos, cães e pessoas na crónica do humorista
Por António Marcelino
“É um povo que nutre mais respeito pelos animais que pelos humanos, como aquelas pessoas que alimentam os gatos vadios, mas enxotam os sem-abrigo”. Assim, na crónica do humorista José Diogo Quintela (“Pública”, 07-03-2010).
Dir-se-á que o humorista está a falar dos Na´vi, esse povo especial do filme “Avatar”. Mas os humoristas não são inocentes no que dizem e escrevem, mesmo que tenham que dar algumas voltas na conversa. São como os contemplativos, que vêem para além do que vista alcança.
“A rir se castigam os costumes”, já diziam os antigos romanos.
É verdade que cães ou gatos, excluídos sociais ou apenas pobres do dia-a-dia, não ocupam o mesmo lugar na lista das prioridades de alguma “gente de bem”.
Os animais, quaisquer que sejam, merecem respeito, mas não são sujeito de direitos no mesmo sentido das pessoas. Devem tratar-se bem, mas não passam de animais, mesmo se parecem dotados de inteligência e de sentimentos e a pedir meças a muitas pessoas.
Tudo isto pode trazer ao de cima o problema da pobreza que por aí reina. Teoricamente, ela poderia ser debelada por completo se no mundo não houvesse pessoas. Muitos animais são mais solidários que muitas pessoas.
Por isso mesmo, sempre haverá quem enxote os sem abrigo e alimente os gatos e os cães vadios…