Escola alternativa?
por Maria Donzília Almeida
Após a revolução de Abril, apoderou-se dos Portugueses um fervor revolucionário e igualitário que viria a produzir os seus efeitos práticos. Considerando que a organização do ensino em Portugal obedecia a critérios fascistas, a divisão dos alunos por escolas de cariz diferente, as Escolas Comerciais e Industriais, versus Liceus, mais por estatuto económico, que por vocação ou capacidades, haveria que mudar-lhe o rumo.
Conceberam os ideólogos da revolução, que a sociedade não deveria ser estratificada e se deveria dar a mesma oportunidade a todos, independentemente da classe social donde se era oriundo. Assim, foi dado um golpe duro às instituições de ensino, acabando com a clivagem entre ensino técnico e ensino liceal. Ia ser uma alegria formar uma sociedade de doutores, que o resto não interessava!
Quando precisássemos de um técnico, de um electricista ou de um mecânico, recorríamos às páginas amarelas, que por um passe de mágica haveriam de nos dar resposta!
Foi assim que nasceu o ensino unificado, que durante anos atirou pessoas para as universidades, ignorando, por completo, as necessidades técnicas do país.
Hoje, temos tantos licenciados, com canudo, que não há lugar para os empregar e está a acontecer aquilo que já se verificava nos Estados Unidos, no alvorecer da revolução de Abril – haver pessoas formadas a trabalhar nas caixas dos supermercados.
O Ensino técnico Profissional foi abolido durante anos, em nome de um espírito igualitarista e dum fervor revolucionário que afinal se revelou estéril.
Hoje, começam a esboçar-se os passos tímidos para a restauração desses cursos técnicos, nos chamados C.E.F.s (Cursos de Educação e Formação), nos E.F.As (Educação e Formação de Adultos) e ainda nas Novas Oportunidades. É um ensaio que se está a fazer, para dar ao povo mais humilde, alguma alfabetização e também muni-lo de ferramentas com as quais possa angariar o seu sustento.
Hoje, quando passava por dois trabalhadores, na rua, que limpavam as sarjetas, noutros tempos apelidados de cantoneiros, ouvi, em tom jocoso, esta conversa, bem elucidativa: - Vou abrir uma escola em Ílhavo, para ensinar os “gajos” a pegar na enxada!
Foi esta tirada do homem, que me fez divagar sobre este tema e da necessidade dos cursos técnicos, no nosso país.
Se calhar este senhor ignora a existência da E.P.A.D.R.V (Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Vagos), onde certamente ensinam não só a cavar, mas muito mais coisas de interesse prático para a juventude das redondezas!
19.02.10