
O grande dilema da pessoa humana, que atravessa culturas e tempos, independentemente das mundividências ou mesmo da sua falta, será sempre o de confrontar a vida, individual e colectiva, com um sentido. Nessa busca, mesmo antes de avultar na consumação do diálogo, a sensibilidade dos artistas constituirá sempre poderoso guia estelar, mesmo se o deflagrar de tantos desesperos obnubilem, demasiadas vezes, a força regeneradora da esperança. É disto que se trata, sentido e esperança, quando falamos de Natal. E foi este Natal que permitiu aos artistas traduzir em matéria não apenas o hino, como a razão do louvor.
Recorro ao Elogio fúnebre de Santa Paula, escrito por São Jerónimo, para deixar a formulação de um voto, fixando-me na descrição da visita de Paula à Basílica de Belém: «Ela jurou-me que via, com os olhos da fé, o Menino envolto em panos chorando no seu presépio; os Magos adorando a Deus; a estrela brilhando por cima; a Virgem Mãe, José solícito; os pastores vindo de noite para testemunharem o sucedido». Via... com os olhos da fé. Que o Natal de Jesus também se mostre, pelos olhos da nossa fé, às mulheres e aos homens que nos molduram a existência. Para que possamos dizer, como o escreveu Santo António de Lisboa, e a uma voz, ao Jesus do Presépio e ao Cristo da Cruz: ‘Aqui estamos, somos os teus ossos e a tua carne!’
João Soalheiro