de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sábado, 25 Abril , 2009, 11:07


Era o 1º ano da sua actividade profissional. Encontrava-se a leccionar numa escola do concelho, a mais próxima da sua residência, da altura.
A manhã acordara-a tranquila e preparava-se para mais um longo dia, trabalho árduo, mas compensador. Escolhera esta profissão, não por imposição de alguém, muito menos por qualquer conveniência de qualquer nível. Fora a escolha do coração, no mais amplo sentido da palavra. Alguém com alguma responsabilidade havia-a “empurrado”, sem sequer ter dado aquele empurrãozinho de que hoje tanto se fala. Foi uma personagem marcante na sua vida e, sem dúvida que influenciou, que marcou indelevelmente o seu percurso profissional. Refere-se à sua English teacher do 5º ano do Liceu, altura em que era feita a escolha da carreira profissional. Recorda-se tão bem desta criaturinha de estatura mediana, tal qual a sua, o carro que usava na altura, até a própria indumentária lhe ficara retida na memória. O nome também tinha algo em comum, pelo menos naquilo que caracteriza a mulher portuguesa, especialmente em épocas passadas, Maria Helena Pedroza! Que gratas recordações lhe traz este nome! Tanto a marcou, que se tornou uma aluna diligente, sem, para isso, fazer qualquer esforço, já que estudar Inglês era um enorme prazer. Fica aqui a homenagem pública e um profundo sentimento de gratidão pelos horizontes que lhe fez abrir! O carácter nobre desta profissão, que tem por objectivo lapidar diamantes brutos, ganha espírito de missão! Bem-haja!
Foi neste contexto de actividade, que a jovem teacher acolheu a notícia do dia 25 de Abril de 1974. A medo e com todas as cautelas, o acontecimento foi divulgado. A princípio, surgiu a música clássica a preencher a programação de todas as estações de rádio, que deu o lamiré daquilo que estava a ocorrer no nosso país. Num país, mergulhado num sistema político totalitário, havia 40 anos, foi uma efeméride que provocou reacções antagónicas e paradoxais. Sem me alongar na análise duma revolução, deixando isso para os experts na matéria, gostaria apenas de fazer algumas reflexões sobre o assunto. Iniciara nesse ano a minha carreira docente e assisti, ao longo da minha já longa existência, às mais variadas e inquietantes reformas no sistema educativo.
De tudo o que tem germinado no terreno pantanoso deste campo de acção, resta-me uma amarga constatação. Os professores têm vindo a perder direitos, ao longo de décadas conquistados, sem que esse acréscimo de dedicação à escola tenha revertido em melhorias das aquisições dos nossos alunos. O que a sociedade civil tem vindo a verificar é uma progressiva degradação da formação académica, apesar do muito show off que as escolas fazem para atestar a sua prova de vida!
O professor foi transformado num (in)competente (!?) burocrata em que a quantidade de papéis é inversamente proporcional ao sucesso alcançado pelos alunos. A tutela manda! A tutela assim quer e o professor, como qualquer subalterno, obedece a contragosto, consciente de que estamos a caminhar para uma hecatombe. Os diversos movimentos de contestação da classe docente, amplamente divulgados, comentados pela comunicação social e aplaudidos por uma grande parte da população, atestam e reflectem o mal-estar existente na classe e a inoperância de sucessivos governos em resolver a sua problemática.
Quem por vocação está no sector, confrange-se com o estado de coisas da educação em Portugal e sente-se impotente para o alterar, pese embora toda e qualquer discordância do sistema vigente.
Fica uma questão: será que ainda estamos na infância duma democracia que pretende instalar-se neste jardim florido, à beira-mar plantado? Se assim é… puxa que esta criança teima em ficar, eternamente, no estado infantil! Quebremos as amarras, as mesmas que os capitães derrubaram nessa bendita madrugada, há 35 anos atrás! Deixemo-la chegar ao estado adulto… pois já tem idade para isso!

Mª Donzília Almeida
23.04.05

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