de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 12 Fevereiro , 2010, 11:23
A História de Portugal de Rui Ramos, nas bancas há meses, tem recebido os maiores elogios. Ainda não a comprei nem li. Mas na primeira oportunidade terei de o fazer. Ainda agora, ao ler no PÚBLICO a habitual crónica de Vasco Pulido Valente, confirmei a necessidade de ler aquela História que, tanto quanto me parece, nos oferece uma leitura mais realista  e crítica do que foi o nosso passado enquanto povo.
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Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 04 Fevereiro , 2010, 12:20

Quando passeio, pelas cidades e aldeias, encontro com regularidade registos históricos, que me apresso a ler. É uma forma de ficar a conhecer um pouco mais os sítios por onde passo. Da Figueira da Foz mostro hoje este apontamento de viagens. Clique nas imagens para ampliar. Ver aqui sobre Luís da Silva Mousinho de Albuquerque

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 03 Fevereiro , 2010, 12:46



Rua da República

Por António Rego

A República desceu à rua. Ou todas as crónicas do reino vão dar à Rua da República. Já compreendemos que não falta quem dela se apodere para dizer tudo o que já pensava. Já não me lembro bem dos que mal se lembravam daquele 5 de Outubro de 1910 - como muitos, hoje, do 25 de Abril têm uma imagem ténue. Lembro-me dum velhote que dizia não se tratar de nenhum regime mas apenas de uma forma de estarem contra a monarquia, a Igreja e a tradição. Havia manifestos, pasquins, comícios. Factos houve, como as comemorações da morte de Camões e o ultimato inglês, que foram aquecendo os ânimos para a estocada final na monarquia. Que, também se acrescenta, andava de péssima saúde e deixou saudades a muito poucos. São as turbulências da história.
A República, um facto, muitas leituras. Mas um acontecimento que marcou a nossa história do século XX e não nos é indiferente cem anos depois. Dá-se agora uma espécie de correria para cada corrente de leitura chegar primeiro à interpretação ortodoxa que defenderá como única e definitiva. Muitas vezes trabalhando a história à sua maneira e encaixando-a na ideologia já instalada. Assim, não haverá interpretação dos factos, mas o seu tratamento voltado para uma direcção pré-definida. Distorcida e estreita.


Do todo, algumas notas irão marcar as comemorações com alguns slogans que já estão, em trova, no vento: a lídima república contra a obscura monarquia; a revolta contra o conformismo do irremediável; o laicismo iluminado contra a Igreja retrógrada, a liberdade contra todas as opressões. E muitos ficarão por aqui, esquecendo atrocidades e roubos que em nome da liberdade se fizeram, os erros políticos, de palmatória que levaram o país a cair benignamente nos braços do 28 de Maio.
Mas a história não se faz sem sobressaltos. E importa por isso descobrir as mudanças radicais que, a bem ou a mal, se introduziram no nosso país. Diríamos hoje simplesmente: uma estrondosa mudança cultural. Nos pós 25 de Abril muitos evocaram as lições desoladoras da primeira República, nomeadamente em relação à Igreja. Mas também há muitos traumas clericais lembrados apenas de bens e privilégios perdidos. Urge por isso uma grande humildade e liberdade para ler correctamente a história. E com ela sempre aprender.
E actualizar uma lição para todos nós, cidadãos, profissionais da política, governantes e governados deste decénio: o momento que vivemos, nem monárquico nem republicano, é de alguma ansiedade face a muitos riscos que nos ameaçam perante a Europa, o mundo e nós próprios. O espectáculo do orçamento de Estado, e da previsível evolução da economia dão-nos a imagem dos caminhos tortuosos que temos a percorrer. Tão complexos como os tempos que se seguiram à implantação da República e ao 25 de Abril, com tantos escolhos na área social, pedagógica, familiar, institucional, religiosa, em clima de insegurança, desemprego, com números ínfimos de crescimento económico, e a certeza triste duma crise que - terá fim - mas deixará pelo caminho muitas vítimas entre as quais os próprios construtores do futuro que são os jovens.
É bom celebrar a história. Desde que se procure compreendê-la e aprender as lições que nos deixa. Seria muito bom celebrar a República de forma a mobilizar-nos com mais uma dura lição da história.

António Rego


Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 23 Novembro , 2009, 11:27



A história também se vê. Até na rua, se soubermos olhar, com olhos bem abertos. Os painéis cerâmicos que Aveiro nos oferece mostram-nos registos importantes. Pare uns momentos para apreciar.

Editado por Fernando Martins | Sábado, 19 Setembro , 2009, 23:36


No momento dos autógrafos
.
Saudades de mim menino

 
Ai barcas, ai barcas
Tão triste é vosso negror,
Por onde ides navegar?
Que espreita
O olho que levais na proa?
Ai amores, ai amores
Da ria amada.
Ai amores do verde pino…
Ai saudades de mim, menino
Levai-me em vosso vagar.

(S.F.)
Costa-Nova-do-Prado
 200 Anos de História e Tradição

 

Costa-Nova-do-Prado – 200 Anos de História e Tradição é o mais recente livro de Senos da Fonseca. Trata-se de um livro-filho, como salientou Zita Leal, que fez a apresentação da obra, hoje à tarde, na Calçada Arrais Ançã, naquela praia.
É na Costa Nova que Senos da Fonseca recupera dos seus trabalhos e inquietações, deixando-se inebriar pelo “azul único” reflectido na ria e pelo “farfalho da marola branca que lhe bate à porta”.
Reconhece que a ria, tal como ele, “anda inquietada”, mas tem vida dentro de si própria, alimentando garantias de que continuará a viver, para que nós e os outros que hão-de vir possamos “admirar esta paisagem”.
O autor adiantou que foi aqui que “as pessoas tomaram consciência de que era necessário procurar outros locais, por esse litoral fora”, sendo certo que os ílhavos foram sempre diferentes das pessoas das comunidades onde se inseriram. Na Nazaré, na Cova [Figueira da Foz], em Peniche e em Olhão ainda se fala da “cultura ilhavense que não se deixou subverter” pelas culturas que encontrou.
Ao olhar para a identidade dos ilhavenses, conotada com hábitos e formas de estar na vida trazidos pela burguesia, o autor recordou figuras gradas da cultura e da política que na Costa Nova visitaram José Estêvão e mais tarde seu filho Luís de Magalhães, levando os jornais a falar desta terra com enlevo.
Evocou a “geração de ouro”, dos finais do século XIX e princípios do século XX, com figuras de expressão nacional, “que Ílhavo tenta esquecer a todo o custo”. “É isso que me dói”, afirmou Senos da Fonseca, garantindo que por essa razão, entre outras, escreveu este livro, incitado pelo Clube de Vela da Costa Nova, para quem havia alinhavado uns textos e juntado umas fotografias, para comemorar os 25 anos da sua existência.
E explicou: “Esquecemos Alexandre da Conceição, no meio de uma pedra em Viseu; nunca mais lá fomos buscá-lo, ele que foi um dos maiores poetas do século XIX; esquecemos Trindade Salgueiro, com as suas duas facetas: era um senhor da Igreja, havendo muito poucos que atingiram o seu nível; e esteve ligado a um Tenreiro do antigo regime.”
Denunciou que há figuras ilhavenses que têm sido assumidas por Aveiro, como Mário Sacramento e Rocha Madail, e disse que, “amanhã, Cândido Teles também será um aveirense”. Esquecidos  têm sido Fernando Magano e João Carlos, este com obras “num pardieiro qualquer”.
Euclides Vaz, um dos maiores escultores do nosso país, talvez  por ter a sua ética política em sintonia “com um partido que continua a ser incómodo para alguns, nem uma ruela tem em Ílhavo”, ele que foi “um monstro sagrado da escultura portuguesa”.
Não temos vergonha de ignorar Filinto Elísio, filho de Maria Manuel e de Manuel Simões, que eram de Ílhavo e foram para Lisboa. “Até à sua época, só havia dois grandes escritores que o tinham suplantado: Camões e António Vieira.”
Enquanto Zita Leal foi apresentando a obra, realçando o que mais a tinha impressionado, João Manuel da Madalena interpretou algumas canções e Jorge Neves disse poemas. A Rádio Faneca (de que falarei um dia destes), ao vivo, levou-nos a reviver os tempos, de meados do século passado até 1998, em que apresentava música e publicidade, com discos pedidos à mistura, em Ilhavo, aos domingos, e na Costa Nova, na época balnear.
O produto da venda do livro reverterá, na íntegra, para o CASCI, instituição fundada por Maria José Fonseca, que faleceu em Novembro de 2007. O seu cargo foi então ocupado por  seu irmão, João Senos da Fonseca, autor da obra apresentada.
Sobre o livro, que ainda não li, hei-de escrever em breve.

Fernando Martins


Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 24 Junho , 2009, 21:56


Decorreu hoje, dia 24, na Fundação Mário Soares, em Lisboa, a apresentação do novo livro de Álvaro Garrido, denominado "Henrique Tenreiro - uma Biografia Politica". A obra será apresentada pelo historiador e professor universitário Fernando Rosas.
A apresentação, em Ílhavo, será a 4 de Julho, no Museu Marítimo.
Henrique Tenreiro nasceu em Dezembro de 1901, filho de um professor e neto de um coronel. Após a instrução primária e o Liceu Pedro Nunes, ingressa na Escola Naval. Em 1936, como Primeiro Tenente, entra no aparelho corporativo, onde trabalha às ordens do ministro Ortins Bettencourt, cuja cunhada, abastada brasileira, será sua mulher.
Em 1936, o então ministro Pedro Teotónio Pereira nomeia-o delegado do governo junto do Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau. Durante 38 anos é o verdadeiro patrão das pescas, sendo nomeado delegado do governo nos restantes grémios (sardinha, arrasto, baleia e atum)
Henrique Tenreiro consegue esvaziar a vida associativa dos grémios e vincular os armadores à política de fomento do governo e, até 1974, é ele quem define as directrizes da política nacional das pescas, controlando e dispondo sobre todos as fontes de financiamento dos programas de renovação das frotas pesqueiras.
Para o autor desta obra, "De 1936 a 1974, Henrique Tenreiro, actuou como uma espécie de condottieri para quem todo o poder foi sempre pouco. À medida que consolidou poderes cuja mobilização o regime não dispensou, fez das pescas um património pessoal, para seu engrandecimento político. Com o decorrer dos anos, a racionalidade política cedeu o passo à ambição e uma volúpia de poderes de escrutínio personalista e de fundamentos emotivos”.
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Carlos Duarte

Editado por Fernando Martins | Domingo, 07 Junho , 2009, 11:14
Obama

Salazar retirou-nos o orgulho
de podermos cantar vitória


Obama continua a marcar a nossa história contemporânea com intervenções certas na hora certa. Ontem, em França, nas celebrações do Dia D, batalha em que se definiu o rumo de um futuro democrático, o Presidente norte-americano homenageou os homens normais que defenderam a liberdade da Europa, face ao terror Nazi. Foi um combate entre duas visões da humanidade. Venceu a visão que ainda hoje nos anima, embora carregada de sombras prenunciadoras de perigos, tudo por causa das injustiças sociais.
Falou dos homens normais. Os eternos esquecidos nos registos da história. Os chefes, os que ficam nos anais e que são também fundamentais, ensombram ou ignoram os que dão o corpo à luta. Esses que, muitas vezes, semeiam os campos de batalha, marcando com o seu sangue as areias que testemunham o seu esforço. Honra, portanto, aos homens normais e quase sempre esquecidos.
Já agora, só mais uma palavra. Nessa luta por uma liberdade digna para a Europa e para o mundo, os portugueses, pelas decisões dos seus chefes, ficaram de fora. Salazar não passou de um cobarde que negociou, ora com os aliados ora com os nazis, uma neutralidade indigna, retirando-nos o direito e o orgulho de podermos cantar vitória com esses homens normais, que reorientaram a história do nosso tempo. Não deixou que os portugueses lutassem pela dignidade dos homens livres.

Fernando Martins
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Editado por Fernando Martins | Domingo, 01 Março , 2009, 12:59


Aveiro2009 – Recordando Efemérides




“Quando penso na história milenar de Aveiro e da sua região, logo assoma em mim a rara sensação de uma estranha e única composição de terra, de água, de sol, de ar e de luz, que, no rodar da existência, é difícil encontrar em qualquer outra parte. As vagas do Atlântico, as ondinas da ria, as velas dos barcos, as proas dos moliceiros, o remanso do Vouga, a beleza dos horizontes, a pujança dos campos, o verde das florestas, o contorno das serranias, a diversidade das povoações, o primor dos edifícios, o sinuoso das ruas, a singularidade dos costumes, a característica do folclore, a animação das festas, a galhardia dos cortejos, o sentimento das devoções, a originalidade das maneiras, a esperança das famílias, a traquinice das crianças, o entusiasmo dos jovens, a faina dos marnotos, a labuta dos agricultores, a canseira dos trabalhadores, a preocupação dos empresários, o talento dos letrados, a formosura das mulheres, o altruísmo dos voluntários, a coragem dos mártires, a vida das terras, a graça das gentes…”

In NA MEMÓRIA, do livro de Mons. João Gonçalves Gaspar

Mons. João conversa com o vereador das CMA Capão Filipe


Ontem tive o privilégio de assistir ao lançamento do mais recente livro de Mons. João Gonçalves Gaspar – Aveiro2009 – Recordando Efemérides –, no Museu da Cidade. Apresentou a obra Delfim Bismark Ferreira. Teceu naturais e justos elogios ao autor, que já publicou mais de 30 títulos, a maioria dos quais à volta de Aveiro e sua região, mas também sobre vultos da história local.
Mons. João Gaspar pensou este trabalho há uns três meses. Pegando na ideia, buscou na história e na memória o que de relevante aconteceu em cada mês, de muitos anos “redondos”. Começou, obviamente, pela data mais antiga – 12 de Junho de 922 – que se refere provavelmente a Aveiro. Diz assim: “D. Ordonho II, rei da Galiza e de Leão, assinou uma importante doação em favor do Mosteiro de Crestuma, onde se menciona o PORTU DE ALIOVIRIO; se este topónimo corresponder a uma anotação alterada de ‘Alavário’, temos aqui a primeira referência histórica a Aveiro.”
Fiquemos então com esta data que assinala o primeiro “baptismo” de Aveiro. Mas o livro tem muitas outras curiosidades que nos levam a visitas bem guiadas, através dos séculos e até quase aos nossos dias, pela vida da terra aveirense e das suas gentes.
Esta obra, com edição de excelente papel e profusamente ilustrada, insere-se perfeitamente nas celebrações dos 250 anos da elevação de Aveiro a cidade. Com capa de Hugo Rios, a partir de desenho de Sara Bandarra, e composição de José Luís Santos, este livro é um regalo para os olhos e para o espírito de quem sente o património histórico como parte integrante do seu próprio ser.
Mons. João Gaspar, provavelmente o mais prolífero historiador aveirense, não se poupa e esforços para nos ofertar, com alguma frequência, lampejos da sua sensibilidade e do seu labor, carregados de aveirismo, onde o eixense, que ele é também, mergulhou há muito, com assinalada paixão.
Deste trabalho haverei de falar e de escrever algumas vezes, ao sabor das efemérides que o autor tão bem soube registar em letra de forma, com belas e oportunas fotografias.

Fernando Martins


Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 01 Dezembro , 2008, 20:14
COMO ERAM DIFERENTES OS NOSSOS AVOENGOS!


O Feriado Nacional – 1.º de Dezembro –, que hoje se celebra, já me levou a esclarecer a sua razão de ser a algumas pessoas. Com 368 anos de existência, ainda há compatriotas nossos que ignoram o essencial da nossa História, como Estado e como Nação. Tudo, certamente, por desinteresse das famílias e das escolas, que pouca importância dedicam a estes episódios do nosso passado colectivo. Muito menos agora, em que o caos se instalou no mundo académico, com as famílias assoberbadas com inquietações.
Com 60 anos de ocupação filipina, no dia 1 de Dezembro de 1640, um grupo de portugueses expulsou o rei estrangeiro e os seus sequazes e traidores, alguns dos quais filhos desta Nação que deu novos mundos ao mundo, e proclamou o Duque de Bragança como rei de Portugal, com o nome de D. João IV, mais tarde cognominado de o Restaurador.
Diz a História que, a alguns que indagaram o que estava a acontecer, os conjurados responderam, com determinação, que iam tirar um rei e pôr outro, num já. Com esta facilidade toda. Os portugueses de antanho eram assim. Com um golpe certeiro, tiraram ou rei e proclamavam outro. Uns traidores foram janela fora.
Como eram diferentes os nossos avoengos!

FM
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Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 07 Julho , 2008, 22:43
O barco real na embocadura da Cale da Vila
Na Gafanha, aguardando a chegada do barco real
Forte da Barra: Ponto do embarque

Uma Visita Histórica - 27 de Novembro de 1908

No livro “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, o autor, Armando Tavares da Silva, oferece aos seus leitores pormenores curiosos, através de uma escrita acessível e de grande rigor, mas também atraente. Leva, assim, quem gosta de história a interessar-se por este assunto, o de um Rei que passou pela nossa região, suscitando manifestações de carinho. E refere, ainda, a Gafanha, como terra de passagem.
A dado passo, e ao descrever o passeio fluvial, diz que próximo à ponte da Gafanha formaram alas, «mais de 800 cyclistas, perfilados ao lado das suas bicycletas e que á chegada de el-rei levantaram calorosos vivas». Nessa altura, uma comissão, “abeirando-se do automóvel real, entregou ao monarca uma representação em que pedia a revisão da «lei da contribuição sumptuaria no que respeita[va] a possuidores de velocípedes», e a suspensão do andamento dos processos em juízo”.
Mais adiante, salienta que depois da volta «Pessoas de todas as classes davam vivas a El-rei, misturando as suas vozes com as notas do hymno nacional tocado pelas bandas que vinham a bordo. Na margem, uma immensidade de povo, carros, cyclistas, etc., que o tinham ido esperar á Gafanha, faziam tambem a sua volta a Aveiro». «Desde a ponte da Gafanha até ás Pirâmides, o monarcha teve um verdadeiro passeio triunphal, aclamado pela multidão, que se apinhava nas margens, com verdadeiro entusiasmo».
Posteriormente, na Câmara Municipal de Aveiro, «El-Rei poz ao peito do barqueiro Antonio Roque, da Gafanha, uma medalha de merito, philantropia e generosidade, abraçando-se ambos enternecidamente».
Deste texto retiramos algumas curiosidades, que vale a pena comentar. A primeira diz respeito ao número elevado (oito centenas; é obra, há cem anos!) de ciclistas que se juntaram para saudar o rei, mas também para protestar contra um imposto que lhes estava a ser aplicado. Naquele tempo, ter uma bicicleta era um luxo, que obrigava a pagar o imposto sumptuário. Presentemente, pagamos impostos por tudo e por nada, mas, que eu saiba, não há impostos que incidam sobre riquezas sumptuárias ou sobre a ostentação de riquezas que ofendem a pobreza da maioria dos portugueses.
Depois, ficámos a saber que um gafanhão, António Roque, provavelmente o mestre que conduziu o barco real, foi homenageado pelo rei. Interessante seria saber quem foi ele e quem são os seus descendentes, porque Roques há muitos aqui na Gafanha. Haverá por aí a medalha e o respectivo diploma? Fico à espera de achegas!
FM
NOTA: As fotos desta página foram publicadas no livro que lembra a Visita do Rei D. Manuel II a Aveiro, em Novembro de 1908, da autoria de Armando Tavares da Silva. A sua publicação no meu blogue foi autorizada, como “Documento cedido pelo ANTT”.
FM

Editado por Fernando Martins | Quinta-feira, 03 Julho , 2008, 18:15

D. Manuel II e Aveiro
– Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)

Em curta conversa que mantive com Armando Tavares da Silva, professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra, percebi que se trata de um apaixonado pelos temas relacionados com a nossa História. O livro que teve a gentileza de me oferecer, “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, reflecte isso mesmo. Mas também fiquei a saber que há outros trabalhos em carteira, que virão a lume com marcas da mesma sensibilidade e rigor com que cuidou de nos oferecer este.
Li-o com gosto. Reli passagens que me despertaram mais curiosidade e apreciei, com redobrada atenção, as muitas fotografias da época da visita, quase a completarem um século. Em jeito de quem tenta descobrir nos rostos retratados sinais das nossas gentes.
Depois do regicídio, em que foram baleados D. Carlos e seu primogénito, D. Luís Filipe, impunha-se que o novo rei de Portugal, D. Manuel II, se aproximasse mais do povo, levando-o a acreditar e a identificar-se com a Monarquia. A visita foi memorável e disso nos dá conta, neste trabalho, Armando Tavares da Silva, pessoa de certo modo identificada com a nossa região, ou não tivesse casa na Praia da Barra.
Curiosamente, o autor, que sublinha a importância histórica da visita do rei, que Aveiro preparou com simpatia e carinho, acorrendo as suas gentes a vê-lo e a aplaudi-lo, também não ignora, neste seu escrito muito bem conseguido, os protestos dos republicanos descontentes, no exercício de uma liberdade que nunca lhes foi negada, tanto na autarquia aveirense como nos jornais. Por exemplo, enquanto “O Campeão das Províncias” e o “Districto de Aveiro” davam honras de primeira página à visita do rei, com textos laudatórios e fotos, “o Democrata” considerava, também na primeira página, sem qualquer ilustração, a visita de D. Manuel II como “Real bambochata”.
Escusado será dizer que o autor buscou nas melhores fontes da época, a comunicação social, os reflexos da presença do rei em Aveiro, sem descurar a informação rigorosa de quantos muito se debruçaram sobre esse período da História de Portugal, com uma monarquia que não soube dar os passos certos para incrementar a democracia e para desenvolver o país. Daí que a República caminhasse a passos largos para acabar com um regime que construiu Portugal com rasgos de génio, desde os seus fundamentos. Com altos e baixos, obviamente.
Sobre este acontecimento não se tem falado muito entre nós. Talvez a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, dois anos depois de D. Manuel II ter estado em Aveiro, tenha ofuscado aquela visita. Como é próprio do povo, que reage com emoção inúmeras vezes pondo de lado a razão, frequentemente deixa-se manipular pelos políticos. Os mesmos que aplaudiram D. Manuel II, voltaram-se pouco tempo depois para o outro lado, para vitoriarem a República, como sublinha o autor. E com razão. Tal como aconteceu com o 25 de Abril. Muitos que batiam palmas a Salazar e a Marcelo Caetano acorreram em massa para saudar e cantar a revolução dos cravos, ao som da Vila Morena.
"D. Manuel II e Aveiro - Uma Visita História (27 de Novembro de 1908)" é um livro para ler e para guardar. As fotografias que o ilustram constituem uma mais-valia para curiosos e estudiosos. São de proveniências diversas, com destaque para Aurélio da Paz dos Reis e Joshua Benoliel. Ainda da Imagoteca da CMA e de outros arquivos.

Fernando Martins

NB: Mais considerações e fotos, sobre o livro, num dia destes, onde a Gafanha da Nazaré também estará presente. Há curiosidades que vale a pena conhecer.

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 02 Julho , 2008, 15:11

José Leite de Vasconcelos,
nos 150 anos do seu nascimento

O EXPRESSO evocou esta semana, no seu su-plemento "ACTUAL", o universalista José Leite de Vas-concelos, para celebrar os 150 anos do seu nascimento. O sábio que foi médico, mas que nunca desejou exercer tal profissão, dedicou-se, com paixão, à filologia, à etnografia e à arqueologia, viajando constantemente, porque defendia que “Nada nos educa e ilustra como viajar!”.
Ao ler esta evocação, em textos de Mário Robalo, ocorreu-me sublinhar, neste meu espaço, que, nas suas fre-quentes andanças pelo País, José Leite de Vasconcelos também esteve na Gafanha, em 1919, onde colheu algumas informações que publicou na sua obra “Geografia tradicional das Beiras”. Posteriormente, esses apon-tamentos foram enriquecidos com outros que recebeu do Dr. José Pereira Tavares, seu antigo aluno na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na altura professor do Liceu de Aveiro, onde veio a ser reitor distinto. Segundo Leite de Vasconcelos, o seu antigo aluno era pessoa que conhecia bem a localidade e escritor erudito, o qual “o obsequiou com incessantes informações, e de mais a mais lhe ofereceu a parte por ora impressa da ‘Monografia da Gafanha’, do Rev. João Vieira Resende”, conforme leio na sua “Etnografia Portuguesa”, volume III.
Leite de Vasconcelos diz, citando a referida “Monografia da Gafanha”, que antes de 1677 devia ter havido alguns cultivadores da Gafanha, e que, por esses tempos, continuavam a fazer-se “colonizações rurais”. Em 1813, fala-se, diz o sábio, “de uma fazenda que constava de casas, currais, palheiros, terras de pão, pinheiros e juncais”.
“Grande porção do antigo areal adaptou-a pois o homem assim sucessivamente a cultura, com trabalho e suor, e os adubos que a Ria lhe ministrava”, refere, citando o geógrafo Amorim Girão. E como curiosidade, depois de frisar a cultura de batata, feijão, milho, centeio e algum vinho, diz: “Dá-se tal apreço à batata gafanhense, que no mercado todos a preferem à de outros sítios.”

FM

Nota: Voltarei ao assunto.

Editado por Fernando Martins | Segunda-feira, 30 Junho , 2008, 16:56
Capela de Santa Catarina em estado de abandono


Comentei ontem, aqui, a traços largos, alguns eventos culturais levados a cabo na Figueira da Foz, para celebrar a intervenção dos figueirenses e povos vizinhos na tomada do Forte, então ocupada pelas tropas napoleónicas, há dois séculos. Disse, também, que dentro do Forte havia uma capela dedicada a Santa Catarina.
Volto hoje ao assunto porque me parece oportuno sugerir que a capela seja recuperada, podendo, muito bem, proporcionar momentos de reflexão a quem chega para conhecer a terra, de praias famosas.
No domingo, ao visitar, no Forte, uma exposição evocativa dos acontecimentos à sua volta vividos há 200 anos, alguém segredava a amigos que seria muito importante que aquele espaço fosse mantido aberto com regularidade, para oferecer aos visitantes páginas da história local. Concordo inteiramente, embora reconheça que, neste país de burocracias, não hão-de faltar complicações que obstem à intervenção no Forte.
De qualquer forma, penso que vale a pena equacionar a questão, no sentido de tornar útil aquele património, símbolo de glórias passadas.
A capela estava fechada e com sinais evidentes de abandono e degradação por fora. Julgo que por dentro estará no mesmo estado lastimável.
Dizem os folhetos turísticos que “a capela, de planta centrada e cúpula de nervuras, dedicada a Santa Catarina de Ribamar”, se deve ao arquitecto Mateus Rodrigues, nos finais do séc. XVI. Ainda se diz que em 1645 serviu como tribunal da Inquisição.
Não ficaria bem, nos espaços anexos à capela, um pólo museológico do Museu Municipal, dedicado à inquisição? Com capela restaurada e funcional, mais pólo museológico, a Figueira da Foz teria ali mais um motivo de interesse para quem chega.

FM

Editado por Fernando Martins | Domingo, 29 Junho , 2008, 18:13






Legenda: De cima para baixo e da esquerda para a direita: Estudantes participaram na luta; Painel da exposição na Biblioteca; Populares deram um contributo decisivo, não faltando as mulheres; Placa comemorativa do bicentenário; Luta corpo a corpo; Populares no fim da luta; Soldados à espera do combate; Não faltaram os mortos. (Clicar nas fotos para ampliar)

Este fim-de-semana, como referi há dias, foi dedicado na Figueira da Foz às celebrações do Bicentenário do envolvimento desta região na Guerra Peninsular (1807 - 1814), mais conhecida por Invasões Francesas, por ordem de Napoleão Bonaparte.
Ontem, sábado, pude apreciar, na Biblioteca Municipal, uma exposição alusiva ao evento, que deu bem para recordar o que foi esse período em que a Corte Portuguesa se transferiu para o Brasil, assumindo o povo a sua quota parte na defesa da dignidade da Pátria, com os inerentes sofrimentos que isso implicou. Na eucaristia das 19 horas, celebrada na igreja matriz de S. Julião, foram recordadas as vítimas das Invasões Francesas. Participaram nesta cerimónia, que foi animada musicalmente pelo coral David de Sousa, as autoridades políticas e militares.
Hoje, domingo, durante a manhã, também participei no descerramento da Placa Comemorativa do Bicentenário da Tomada do Forte de Santa Catarina, que ocorreu em 27 de Junho de 1808. Diz o folheto distribuído no local que, por força da presença das tropas de Napoleão, “o povo vive à míngua de tudo, [sendo] ameaçado e ultrajado. A revolta popular iniciada no Porto alastra-se. Correm rumores de que a Inglaterra prepara um desembarque de tropas para se aliar ao exército português na luta contra o invasor.
“Para ajudar a alcançar este objectivo, forma-se, em Coimbra, um Batalhão Académico, formado por 40 voluntários, 25 dos quais estudantes, que, sob o comando do sargento de artilharia Bernardo Zagalo, parte em marcha, dia 25 de Junho, rumo à Figueira com a missão de atacar de surpresa os franceses que ocupam a vila e o Forte de Santa Catarina.”
Pelo caminho, muitos populares juntaram-se ao Batalhão, com as suas foices, piques e lanças. Era imperioso vencer os franceses e criar condições para o desembarque das tropas aliadas, comandadas por Wellington. Efectivamente, isso veio a acontecer entre 1 e 5 de Agosto, na Costa de Lavos.
Ora, hoje foi oferecido ao povo a recriação da tomada do Forte, com a consequente substituição da bandeira francesa pela bandeira de Portugal. Depois da vitória, uma salva de artilharia anuncia a libertação da vila e a prisão dos militares franceses, que são levados para Coimbra. A recriação desta passagem histórica foi da responsabilidade da Associação Napoleónica Portuguesa – Grupo de Recriadores Históricos do Município de Almeida.
Muito povo associou-se a esta manifestação cultural, na manhã deste domingo.
Permitam-me que destaque a importância destas celebrações, num tempo em que tanto se esquece, segundo creio, o passado. Apesar da distribuição de informações sobre o evento, penso que os mais novos pouco ficaram a saber do que aconteceu há 200 anos. Mas nestas situações, os mais velhos têm de assumir as suas responsabilidades, transmitindo aos mais novos, com os seus conhecimentos de história, se é que os têm, o que foi o viver dos nossos avós. Aqui está, pois, o mérito, destas recriações. Cá por mim, confesso que já dei o meu contributo, respondendo a algumas questões que me puseram.
FM
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Editado por Fernando Martins | Sexta-feira, 27 Junho , 2008, 10:55
O Forte de Santa Catarina foi construído nos finais do século XVI para reforçar a defesa da Foz do Mondego, fazendo parte, com a Fortaleza de Buarcos e o Fortim de Palheiros, do sistema defensivo do porto e da baía da Figueira da Foz e de Buarcos. Com estrutura triangular, tem três cortinas, um meio baluarte e dois baluartes. No seu interior há uma pequena capela dedicada a Santa Catarina de Ribamar, devendo-se a sua construção ao arquitecto Mateus Rodrigues.

Placa comemorativa do primeiro centenário da Guerra Peninsular

Do programa comemorativo dos 200 anos da Guerra Peninsular, destaco, para além de uma sessão solene nos Paços do Concelho, hoje, 27 de Junho, pelas 17.30 horas, presidida pelo Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, com a intervenção de dois oradores convidados, a inauguração, amanhã, 28, pelas 17 horas, de uma exposição, no Museu Municipal Santos Rocha, intitulada “Figueira da Foz e a Guerra Peninsular”. A seguir, às 19 horas, na igreja matriz de S. Julião, será celebrada a eucaristia, em memória das vítimas das Invasões Francesas, acompanhada pelo Coral David de Sousa.
No dia 29, domingo, pelas 11.15 horas, todos poderão assistir ao descerramento de uma Placa Comemorativa do Bicentenário da Tomada do Forte de Santa Catarina, seguida da recriação histórica dessa mesma tomada, pela Associação Napoleónica Portuguesa, com o Grupo de Recriadores Históricos do Município de Almeida. Depois será a abertura do Forte e a visita à Exposição Evocativa das Comemorações.
Em Agosto prosseguem as celebrações, com programa que tenciono divulgar neste meu espaço.

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