de Fernando Martins
Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 25 Abril , 2007, 11:19

AINDA HÁ TANTO QUE FAZER
PARA SERMOS DIGNOS DE ABRIL

Somos uns eternos insatisfeitos. Está-nos na massa do sangue. E até será bom, se isso for um ponto de partida para ir mais longe, no campo da valorização pessoal e colectiva, seguindo caminhos de respeito pelos outros, pela democracia, pela liberdade, pelo progresso sustentável e pelos valores que enformam a nossa cultura.
Nesse pressuposto, o 25 de Abril, que veio abrir caminhos à democracia, à descolonização e ao desenvolvimento, foi uma ocasião única para acertarmos o passo com a Europa e com o mundo, connosco próprios e com as diversas culturas, a quem tínhamos fechado as portas, ao abrigo da máxima de Salazar que defendia o “orgulhosamente sós”.
Nem tudo, porém, foi um mar de rosas. Houve progressos, notórios e indiscutíveis, mas muito há ainda por fazer, em todos os campos. Se é verdade que há mais democracia, também é verdade que aí deixamos muito a desejar, quando se sente que a voz do povo nem sempre é ouvida com a devida atenção. Há frequentemente uns tantos que, julgando-se iluminados, querem pensar por todos nós e decidir a seu bel-prazer, tomando decisões que estão a leste dos reais interesses do povo. Aproveitam-se das circunstâncias que os puseram no poder e daí partem para tentarem criar uma sociedade à sua maneira. Foi sempre assim desde o 25 de Abril de 1974.
A descolonização deixou traumas que podiam ser evitados. Diz-se que foi a descolonização possível. Não sei se foi. Só sei que ainda hoje há muitos portugueses que sofrem na pele e na alma o facto de terem perdido tudo quanto construíram nas ex-colónias, sem que o Estado português tenha feito seja o que for, de relevante, para minimizar o sofrimento dos que fugiram de terras que julgavam suas também.
Quanto ao desenvolvimento, não posso negar o óbvio. Portugal é outro. Já não somos o povo do pé-descalço, do analfabetismo, do atraso a todos os níveis. Um povo fechado ao mundo, temeroso de lutar pela sua dignidade e pelo seu progresso. O Portugal rico era de uns tantos e a maioria comia o pão-que-o-diabo-amassou.
Acontece que, mais de 30 anos de democracia e de desenvolvimento deixaram que 20 por cento da população portuguesa continuasse no limiar da pobreza, a passar fome e a não ter capacidade para sair desse fosso.
O 25 de Abril, que hoje se celebra por muitos, enquanto outros tantos, ou mais, dele se alhearão, deve ser um momento de reflexão para todos. Para que saibamos descobrir razões e caminhos que coloquem os portugueses, todos os portugueses, na senda do progresso, sempre no respeito pela democracia, pela liberdade e pela dignidade humana.

Fernando Martins

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 25 Abril , 2007, 10:36

SOMOS LIVRES


Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.


Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.


Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.


Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.


Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.


Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.



Letra e música
de Ermelinda Duarte

Editado por Fernando Martins | Quarta-feira, 25 Abril , 2007, 10:28

A (re)construção
da liberdade


1. Qual presente oferecido que precisa de ser reconhecido e apreciado, na noção de LIBERDADE dos nossos dias encontra-se o decisivo caminho do futuro. As democracias contemporâneas que “acharam” este valor fundamental da liberdade buscam hoje a sua própria preservação. No cuidar da democracia está o zelo pela liberdade; no garantir saudável da liberdade estará a própria essência democrática. Hoje, talvez mais que nunca nesta impressionante mobilidade das ideias e das práticas, ergue-se como premente desfio às sociedades ocidentais a estratégia de não desprestigiar a liberdade alcançada. A própria reflexão dos âmbitos sócio-políticos neste início de século XXI tem dado lugar (e deve dar sempre mais) a este aprofundamento do “valor” dos valores e neste dos alcances da “liberdade”.
2. Há uma geração que sofreu e lutou por ela; há uma outra, mais nova, que a recebe de mão beijada, sem ter a mínima noção do quanto ela custou. Para a geração que a construiu pode-se correr o perigo de se ficar nesse passado, diluindo a responsabilidade cuidada que cada dia essa liberdade exige; para os mais novos, gravemente, pode não se dar o mínimo valor ao presente da liberdade social que se tem o privilégio de viver todos os dias. Novas pontes, novos entendimentos, serão fundamentais para o reequilibrar do barco da liberdade, por um lado não ditando a perder a história que se construiu, mas, por outro, não se ficando na história passada pois cada dia a cada cidadão é pedido o zelo de um mundo livre na responsabilidade.
3. Acolhermos a “liberdade” significará a abertura multifacetada às dimensões fundamentais do ser pessoal e social. Ser livre é ser-com-os-outros! Quantos sistemas sociais, políticos e económicos (construíram e) constroem outras formas de ler a vida em que o “lugar do outro” é apropriação, exploração e exclusão?! Quantas faces demolidoras têm as novas escravaturas que das coisas tecnológicas à não aceitação de pontes com o “outro” e emergência do “medo” vão erguendo barreiras e distâncias?! Quanta (con)fusão entre a autêntica liberdade solidária e a libertinagem individualista que apaga as noções da ética e dos deveres para com a comunidade?! Que noção de liberdade perpassa nas publicitadas formas de comunicar, educar, estar, viver? Como conseguimos “segurar” os referenciais de sempre (para uma plena realização humana) garantindo futuro à própria liberdade?
4. Se há valor transversal que é caminho de plena dignidade humana e horizonte de reconhecimento dos direitos humanos, a LIBERDADE estará sempre nesse patamar urgente que não se pode descurar. Em países e em sociedades onde ela não existe que todos os canais e correntes abram as portas à liberdade humana. Onde a liberdade felizmente é um “hábito” diário, que desperte a atenção na consciência de que há muito caminho para andar carecendo as nossas sociedades ocidentais de um maior aprofundamento social e pessoal da liberdade, que tenha ecos numa ética de justiça social para todos. O caminho da liberdade, na sua verdadeira essência, é um caminho sempre inacabado, pois esta implicará uma reconstrução permanente. Só na base do pensar e querer com seriedade dedicada o bem de todos, e olhando sempre para o futuro, haverá sustentabilidade para a liberdade.
5. Porque é que, muitas vezes, em países que a muito custo, rigor e exigência, “conquistaram” a sua autonomia e liberdade democrática, na fase posterior dá-se a decadência e desagregação social? Havendo na fase de “resistência” toda uma energia motivada na busca desse ideal livre, quando esse ideal se alcança vem ao de cima a verdadeira raiz da noção de liberdade… Tantas vezes essa liberdade (inconsistente) não tem raiz profunda e dá origem a sistemas desviados de corrupção, de conluios de poder, de libertinagem oportunista. Também será de reconhecer que nunca será com liberdade responsável “à força” que o rumo da história atinge o progresso desejado. Só na base da educação (social e pessoal) a liberdade que se procura e alcança terá raiz para (contra os ventos alienantes e as marés do vazio) triunfar aproximando-nos de uma DIGNIDADE HUMANA acolhida, esta que será o expoente máximo da liberdade.
6. Até chegar a esse ideal, e não de forma virtual mas real, a EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE será das tarefas fundamentais das sociedades que desejarem ter futuro a sério! É que a mesma invenção com boa liberdade pode gerar cura, com má liberdade pode iniciar uma calamidade… É importante demais para não haver tempo! Se, por descuido ou inércia, perdermos a grandeza da liberdade, o que nos fica? Como viveremos? Quantos dias sobreviverá a própria democracia? De pais para filhos, de educadores para educandos, conversar sobre as histórias da verdade da vida será gerar e reconstruir as fronteiras da liberdade, nestas garantimos um saudável amanhã!

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